Mateus 28.18-20 - Enviados ao mundo

Prédica

06/08/1961

ENVIADOS AO MUNDO
Mateus 28.18-20 

Neste dia, em que o Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná completa 50 anos de existência, dirijo-vos as cordiais e fraternais saudações da Federação Sinodal, Igreja Evangé-lica de Confissão Luterana no Brasil. Participam os Sínodos irmãos do regozijo e da gratidão de todos nós pelas ricas bênçãos que o Senhor da Igreja tem concedido ao trabalho deste Sínodo e a sua existência por através de meio século é para nós motivo de rendermos graças e louvores ao Senhor, pela pregação do evangelho, para a edificação do seu reino entre nós. 

Ouvimos a ordem do Senhor: Ide por todo o mundo. E ouvimos a sua benigna promissão: Eu estarei convosco todos os dias. É em virtude dessa ordem, e é por força dessa promissão que existe a Igreja. E também este Sínodo só pode ter a sua existência obedecendo a essa ordem e confiando nessa promissão, sendo com toda a sua atuação e com a sua própria existência um testemunho do reino e do poder de Jesus Cristo. 

É com essa ordem e com essa promissão que Cristo o Senhor proclama o seu reino como um reino universal e ilimitado.

Todo o poder me foi dado no céu e na terra — assim começa a proclamação. A Ele — a Jesus de Nazaré, ao qual os discípulos conheciam, ao qual tinham acompanhado e amado, e ao qual abandonaram quando o seu caminho o levava à cruz — a Ele, portanto, ao Cristo Crucificado, foi dado todo o poder no céu e na terra: o poder de dar a vida, o poder de decidir sobre o destino terrestre e eterno de todos os homens e povos. E embora a realidade neste mundo se apresente bem diferente; embora outros poderes pareçam dominar, poderes que nada perguntam por Cristo, poderes que tornam sempre mais difíceis as relações humanas — a fé cristã é fé neste reino, invisível, mas real, o reino e o governo de Jesus Cristo. É essa a loucura da mensagem cristã, afirmar ela que é diante do Crucificado que se decide o destino de todos os homens e povos, e que é dele que depende o sentido e o valor de nossa vida humana. Entretanto, já aqui na terra pôde-se notar que Ele lutava e sofria por um reino eterno, o reino da verdade, no qual houvesse justiça e paz; e já aqui na terra, diante de sua pessoa, efetuava-se uma clara divisão entre os homens. E não cessa esse movimento em seu duplo sentido: continua sem cessar a edificação do seu reino, e continua a divisão. Ele que se tornou homem, Ele em sua forma de servo: Cristo o Crucificado é para todo o sempre o Rei do mundo. E a fé já agora experimenta o poder deste Rei: quando a sua palavra atinge a nossa consciência, e temos que dar-lhe razão e sujeitar-nos a ela — então essa palavra se mostra poderosa, libertando-nos de tudo que nos prende e escraviza; e essa sua palavra revela o seu poder de confortar e consolar, justamente onde todas as outras palavras só podem calar, e onde tudo o que o mundo nos poderia oferecer, perde todo o seu brilho e valor. E o que este Rei e Senhor oferece ao homem que sofre sob o peso de sua culpa, dizendo-lhe: Perdoados são os teus pecados — em verdade revela um poder como não há outro igual, e por isso em verdade essa sua palavra é poderosa para consolar uma consciência angustiada. ]i encontro pessoal com a palavra autoritativa do eterno Rei que nasce a certeza da fé: Cristo vive e reina eternamente. 2 Deus mesmo, é o seu poder que nos alcança por através da palavra do Rei. Deus, o Senhor, o Senhor poderoso e eterno, que é maior do que todos os nossos pensamentos, Ele se inclina a nós, Ele se une a nós pela palavra de Cristo, o Rei. E essa palavra, única ponte de ligação entre Deus e os homens, se nos faz ouvir por intermédio da pregação da Igreja, incumbida pelo Senhor mesmo de dizer ao mundo essa palavra. 

Ide por todo o mundo, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. Essa é a ordem do Senhor. E essa ordem é a razão de ser da Igreja. O Rei envia os seus mensageiros ao mundo todo. É uma ordem ilimitada. Trata-se do mundo todo. Não há região, não há nação na terra que não estivesse sob a jurisdição desse rei. Proclamar o seu reino a todos os homens e povos, sem exceção — essa é a ordem, à qual a Igreja deve a sua existência. Ela não é apenas uma sociedade, não é apenas um grupo de interessados, ela não pode viver numa atmosfera particular — a Igreja, pela vontade do Senhor, é a congregação dos homens que se sabem enviados ao mundo com a missão que lhes foi confiada pelo Senhor, a missão de proclamar publicamente a verdade: Cristo é Senhor e Rei, a Ele foi dado todo o poder. Essa é a missão da Igreja; é a missão da comunidade, e é a missão de cada cristão individualmente. Aqui não há exceção nem dispensa. Um cristianismo que se contentasse com a sua própria existência, conformando-se com o fato que sempre ainda há homens que não conhecem o seu verdadeiro Rei e Senhor; um cristianismo que nada mais soubesse de sua missão para com o mundo — certamente seria como uma luz que não alumia, ou como o sal que perdeu o seu vigor. 

Pelo testemunho de seus discípulos, pela pregação da Igreja, Cristo mesmo chama os homens a si, para nele encontrarem o seu Rei e Senhor. E é pelo batismo que Ele assume o poder, incorporando-os ao seu reino. Cristo exerce o seu poder, o seu reino no mundo por através de sua atuação pela palavra e pelo sacramento. Ensinai, e batizai — essa é a ordem. O batismo é o ato do Rei pelo qual Ele nos declara membros do seu reino. Ministrado em nome do Deus triuno ele nos testifica que muito antes de nós podermos tomar essa ou aquela atitude, já o Deus eterno e poderoso tomou uma decisão sobre nós, e essa decisão de sua parte permanece em vigor para todo o sempre: a decisão que Cristo por nós morreu e ressuscitou, e que por Ele estamos reconciliados com Deus, podendo, neste inundo de medo e terror, viver tranquilos e em paz, como seus filhos amados. Todos nós fomos batizados, não em virtude de nossa decisão pessoal, mas por força da ordem do Senhor. Podemos, posteriormente, tomar essa ou aquela atitude para com o fato do nosso batismo: podemos esquecê-lo e desprezá-lo, não lhe dando nenhuma importância — ou podemos fazer dele o fundamento sobre o qual edificamos a nossa vida; mas de nenhum modo podemos desfazê-lo, de nenhum modo podemos apagar o que Deus mesmo pelo batismo escreveu sobre a nossa vida toda: Eu sou o teu Deus e Senhor; não quero faltar em tua vida, assim que em todos os tempos, na alegria e no pesar, na luz e na escuridão, podes estar certo de que ela tem um sentido e um valor eterno; e qual sempre for o caminho que eu te conduzir — será o meu caminho contigo, o caminho do Pai que te ama. Não estás sozinho; não estás entregue a ti mesmo ou a poderes desconhecidos; tu és meu, e pertences ao reino daquele, ao qual foi dado todo o poder no céu e na terra, também o poder sobre ti e a tua vida. Eis a grande, benigna promissão: Eu estou convosco todos os dias, até a consumação do século. 

Vem o dia, e a história toda vai de encontro a este dia, no qual todo o mundo se curvará diante de Cristo o Rei, e todas as línguas confessarão que ele é o Senhor. Esse dia do futuro, para a fé já é realidade presente. Pois vale hoje o que ele mesmo nos diz: Eu estou convosco todos os dias. Vale para cada um de nós pessoalmente, e vale para a Igreja. Por isso nada precisamos temer a respeito de sua causa no mundo. Ele está presente para conduzi-la à vitória. Nossa é unicamente a obediência e a confiança em sua palavra. Ele está conosco em sua palavra e seu sacramento. Ele está conosco onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome. Ele está conosco como Senhor e Rei de nossa vida. E essa sua presença seguramos na fé para todas as situações e horas de nossa vida; essa sua presença pedimos em nossas orações para todos os tristes e aflitos e os que estão no vale sombrio. Porque a sua presença é auxílio e luz e consolo. E Ele nô-la prometeu. 

Queira Ele conceder a esse Sínodo ser também no futuro sua Igreja, testemunha de sua presença entre nós, que sabe de sua missão para com o mundo, e que confiando na promissão do Senhor: Eu estarei convosco, obediente e alegremente põe mãos à obra para cumprir a ordem recebida de levar ao mundo o evangelho de Jesus Cristo e com ele a paz que excede todo o entendimento. 

Ela guarde os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus.

Pastor Ernesto Schlieper

6 de Agosto de 1961 (10º.Domingo após Trindade), Concílio do Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná em Blumenau, Cinquentenário do Sínodo, Culto de Encerramento 

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS


 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 11º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 28 / Versículo Inicial: 18 / Versículo Final: 20
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19724
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