Mateus 28.16-20 - Autoridade no céu e na terra

Prédica

05/02/1979

AUTORIDADE NO CÉU E NA TERRA
Mateus 28.16-20 ( Leitura: Salmo 46) 

Alguns adoram, alguns duvidam — um já tinha caído fora: A situação da igreja dos apóstolos não era muito diferente da nossa. Uma igreja perfeita, na qual tivessem vivido só crentes e santos, nunca existiu. Os apóstolos eram homens sujeitos às mesmas falhas e às mesmas fraquezas que nos perturbam hoje. Bem poderíamos imaginar que Jesus tivesse feito um sermão para eles, nos seguintes termos; «Olhem, meus discípulos — se as coisas vão continuar deste jeito, vocês não vão longe. A união é que faz a força. Nós começamos com doze, e agora já falta um. E neste momento, alguns de vocês estão duvidando. Entre vocês não pode haver nenhuma dúvida! Se os homens vão notar que vocês, meus discípulos, têm problemas de fé — como é que o evangelho irá conquistar o mundo. . ?» 

Mas o que Jesus faz, é algo bem diferente. Ele, o Senhor ressurgido, o Filho de Deus glorificado, ele se aproxima deste grupinho de homens, nos quais se misturam a fé e a descrença, e desvia o olhar deles da própria fraqueza para seu poderoso Senhor: «Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.» Toda a autoridade! Não só um pouco. Não um poder limitado. Nenhuma autoridade parcial, reservada à Galileia, à Palestina, ao Império Romano, à civilização ocidental, à sociedade dos brancos. A autoridade de Jesus abrange toda a terra. E ela abrange o céu também. Assim, sua igreja não será nunca uma «sociedade limitada». E não será nenhuma «sociedade anónima», tampouco. Ela tem nome - nome insubstituível, nome santo e eterno: Igreja de Jesus Cristo. Será que nós, os luteranos, os presbiterianos, os católicos — e todos os outros cristãos não corremos todos o perigo de esquecermos isto? Que só a Igreja de Jesus Cristo, ao qual foi dada toda a autoridade, tem a promissão de vencer as portas do inferno? É um lembrete contra qualquer tipo de sectarismo, seja ou não seja etiquetado com o nome de «igreja». 

As palavras que Jesus dirige à sua primeira comunidade são tão importantes para qualquer comunidade cristã — sim, para toda a cristandade — que deveriam ser o farol, o ponto de referência, em que nos orientamos em qualquer situação e em qualquer emergência de nossa vida cristã. A Jesus Cristo, nosso Senhor, foi dada toda a autoridade, no céu e na terra. Portanto vamos olhar para ele não para nós. Vamos orientar-nos em seu poder, não em nossa fraqueza. Não vamos assustar-nos dos poderes e das dificuldades que se vão levantar em nosso caminho. Não vamos orientar-nos em problemas. Problemas são para ser enfrentados, para ser vencidos mas não servem para orientar. Quem tentar orientar-se em problemas: no problema social, na crise econômica, em problemas de vida e de fé — ele acaba ficando desorientado, acaba sendo um problema ele mesmo (o que aliás sempre foi), Como ponto de orientação só serve um único lugar: É o lugar onde Jesus está. E Jesus não é só para ser olhado em atitude meditativa e respeitosa, ele é para ser ouvido e obedecido. É sua palavra que nos orienta, que nos guia e que nos põe em movimento. 

Se a cristandade sempre tivesse levado a sério esta declaração básica de Jesus; «A mim foi dada toda a autoridade» então não teria havido lutas de poder, separações, rivalidades em qualquer outra crise de autoridade, no povo de Jesus. A miséria dos cristãos começa no momento em que eles deixam de contar com o poder exclusivo e ilimitado de seu Senhor — no momento em que olham para os lados, para ver, se não há um lugarzinho mais seguro para se refugiar, uma pessoa mais influente à qual recorrer. Se pudéssemos desviar o nosso olhar de tudo e de todos, inclusive de nós mesmos, olhando com fé simples e ingênua para Cristo, o Senhor, aí poderíamos dispensar as muletas que nós mesmos fabricamos. Poderíamos vencer nossas crises de autoridade, nosso cansaço, nossa tristeza, nossa preguiça. Ouviríamos simplesmente a mensagem e obedeceríamos. Enfrentaríamos sem medo os problemas de nosso tempo, confiados exclusivamente no poder e na autoridade de Cristo. O que nos impede, aliás, de fazer isto mesmo? 

«Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar tudo que eu vos tenho ensinado.» Como se faz um discípulo? «Indo» — diz Jesus. Não é, pois, ficando no lugar em que estamos, entrincheirados em nossa tradição, para ver, se os futuros discípulos virão a nós. Não há nenhuma escola de discípulos localizada em Jerusalém (ou em São Paulo ou — São Leopoldo.. . ). É verdade: Numa escola também pode acontecer o milagre de se fazer um discípulo; mas tal milagre não pode ser parte de um problema, de um currículo de colégio, nem de seminário ou Faculdade de Teologia. «Ide, portanto», diz Jesus. Você repara na palavra «portanto»? O que ela significa? Significa algo essencial. Vou usar de uma comparação: Você conhece um cortador de grama elétrico? Se não conhece, pode imaginar. A gente vai levando o cortador pelo gramado, e ele vai conosco. Vai nos levando, até. A gente não precisa empurrar. Enquanto ele estiver ligado pelo fio elétrico à tomada de força, ele vai progredindo e cortando grama. Se desligarmos o fio, o cortador pára. AI você precisa empurrar, E vê que esta máquina não foi feita para empurrar. Ela emperra, quando nós empurramos. Pois bem: Eu afirmo que a palavra «portanto» é o tal fio que liga a máquina à rede elétrica: «A mim foi dado toda a autoridade»: isto é a força. «Portanto»: isto é o fio. «Ide, fazei discípulos»: isso é o cortador de grama que se movimenta --- na função para a qual foi feito. Se você esquecer este «portanto» .— vai ser um cristão frustrado. Um cristão emperrado, um cristão que empurra e que se desanima. Com outras palavras: Cristo nos manda ao mundo --- não como alguém que quer ficar para trás, só para olhar. «A mim foi dada toda a autoridade. Portanto ide.» Isso é: Você vão ser movidos pelo meu poder. Irão revestidos de minha autoridade. Eu sou o que faz andar o evangelho. Permaneçam ligados a mim. Permaneçam em mim! Ide! — «Portanto, portanto»: Você nota como esta palavra começa a ter peso? «Eu tenho poder portanto, vai! Portanto põe mãos à obra, vai para frente com esta tarefa espinhosa. Abre a boca e fala de meu evangelho.» Sim — estas palavrinhas pequenas muitas vezes são muito importantes na Bíblia, como no salmo 46: «Deus é nosso refúgio e fortaleza.., portanto não temeremos.» Você já sabe o segredo deste «portanto»? Poderá ser essencial para você e para os que Deus pós a seu lado. 

Fazer discípulos, batizando em nome de Deus Pai, Filho e Espírito Santo — e ensinando o que Jesus ensinou: É esta a tarefa que Jesus dá aos seus discípulos. Uma tarefa baseada no «portanto», do qual falamos. Hoje se discute muito sobre nossa tradição de batizar, o batismo de crianças, especialmente. Esta discussão será necessária. Nossa tradição de batizar precisa ser disciplinada, precisa ser coisa de discípulos mesmo, não deve ser um simples costume, uma tradição que conservamos por causa dela mesma, ou por causa da sociedade em que vivemos. Mas é provável que a discussão sobre o batismo seria muito diferente, se levássemos sempre em conta o «portanto» de Jesus, se levássemos em conta também que Jesus liga o batismo totalmente ao discipulado. Veja: Ele manda discípulos, isto é, aprendizes, fazer outros discípulos, batizando e ensinando! O batismo todo está envolto em aprendizagem, em discipulado. A água do batismo está acompanhada da Palavra de Deus não só antes e durante o ato batismal, mas também depois dele. Assim, o batismo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo nunca poderá ser um ato litúrgico à parte, separado, do «fazer discípulos», separado do crescimento do aprendiz de Cristo. Ou o aprendizado continua, ou a planta morre por falta de alimento, mesmo que seja bem plantada. O nosso erro é deixarmos a planta morrer, como se isso fosse natural, como se Deus não se importasse. Deus se importa e muito! 

Batizar é condenar à morte o velho homem, é afogar o velho Adão, que não quer ser discípulo, que não quer aprender de Jesus, A pessoa batizada, portanto, se deixa envolver pela palavra de Deus. Ela renasce pela palavra de Deus. E essa palavra não é nenhuma «falação». Batizar em nome de Deus é batizar na realidade de Deus. Porque «nome», na Bíblia, é a própria realidade da pessoa — no caso do batismo, a realidade de Deus, o Criador, o Salvador, o Santificador. O batizando é marcado, é envolvido por este nome. Faz-se a ligação do fio com a tomada. Não entendemos isso de forma mecânica ou mágica. Sem a palavra de Deus, a água é simples água, e não batismo, diz Lutero. Não: Aqui não se faz nenhuma magia. Aqui o Deus vivo manifesta sua vontade de salvar, de dar vida, de envolver a sua criatura com o seu evangelho de amor. E Jesus é o Deus presente. Ele não manda seus discípulos ensinar e batizar, enquanto ele se afasta para o céu: «Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos.» É a presença do Deus da verdade em Cristo e em Seu Espírito que faz o batismo ter promissão e significado — nada mais. 

Mas — a criança não é incapaz de entender que Deus a quer salvar? Nós não desvirtuamos o batismo, batizando sem perguntar pela fé da criança? -- Se não perguntamos pela fé da criança, aí estragamos o batismo mesmo, Seria o mesmo, se uma parteira ajudasse uma criança a nascer, e depois não se importasse de fazê-la mamar. Se a criança batizada for envolvida por ensino, por aprendizagem, por vivência cristã, então o batismo de crianças é bom. Se não for, é um ato irresponsável. O «ser pequeno» e o «não entender» não é o ponto central. A criança também não entende porque nasce. Ninguém a consultou, se queria ou não nascer. Mas ela tem ar para respirar — ela vai crescendo para a vida, e esperamos que diga sim à vida. O mesmo se dá com o batismo. Ela deve ter ar para respirar e alimento para se saciar. Precisa ter condições de crescer — em Cristo. E esperamos que ela diga sim a Cristo.

Claro que ela também poderá dizer «não». Deus não salva ninguém contra a sua vontade. Mas ela não poderá dizer nunca que Deus não tivesse estado presente em sua vida, que Deus não tivesse falado. Portanto — ide! Ide e envolvei com o evangelho aqueles que foram marcados com o nome de Deus, aqueles que Deus ama. 

Oremos: Nós te agradecemos, Deus e Senhor, por nos teres envolvido com o evangelho de Jesus. Nós te agradecemos porque nos marcaste com teu nome, quando fomos batizados. Nós queremos viver em tua presença, Senhor. Queremos ser teus discípulos. Não queremos esquecer-nos nunca de que tu estás conosco e que teu é o reino e o poder e a glória para sempre. Amém.

Veja:

Lindolfo Weingärtner 

Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão

Editora Sinodal

São Leopoldo - RS

 


Autor(a): Lindolfo Weingärtner
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 28 / Versículo Inicial: 16 / Versículo Final: 20
Título da publicação: Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19700
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Quem persiste na fé, verá, ao final, que Deus não abandona os seus.
Martim Lutero
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