Mateus 25.1-13
Martim Lutero
Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo. Cinco dentre elas eram néscias, e cinco prudentes. As néscias, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; no entanto, as prudentes, além das lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas. E tardando o noivo, foram todas tomadas de sono, e adormeceram. Mas à meia noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro! Então se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas. E as néscias disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão se apagando. Mas as prudentes responderam: Não! para que não nos falte a nós e a vós. Ide antes aos que o vendem, e comprai-o. E, saindo elas para comprar, chegou o noivo, e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta. Mais tarde, chegaram as virgens néscias, clamando: Senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço. Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora.
Neste evangelho se requer de nós que vigiemos constantemente esperando pelo Senhor, já que não sabemos quando o dia do Senhor virá. Ele irromperá antes de erguermos o olhar, repentinamente cairá sobre nós e nos visitará. Para tal também nos admoestam os apóstolos, de maneira insistente, assim como Paulo escreve em 1 Tessalonicenses 5.1-3: ¨Irmãos, relativamente aos tempos e às épocas, não há necessidade de que eu vos escreva; pois vós mesmos estais inteirados com precisão de que o dia do Senhor vem como ladrão de noite. Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vem a dor de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão¨. Por essa razão o nosso evangelho, em resumo, nada mais diz a não ser que vigiemos e que não estejamos por demais seguros, já que não sabemos quando virá o dia do Senhor. Para tanto também nos admoesta o Senhor (Mateus 24.42-44): ¨Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor. Mas considerai isso: Se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso ficai também vós apercebidos; porque à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá¨. Isso tudo vai sendo dito contra nossa segurança, já que nós somos por demais seguros, pensando que não há nenhum problema e que o dia derradeiro demorará muito. Contrariamente a isso, Cristo e os apóstolos nos conclamam seguidamente para que vigiemos e vivamos em constante temor, para que esse dia não nos encontre desprevenidos. Os que estiverem vigiando, encontrarão o Senhor sendo gracioso, mas os que estiverem seguros, a estes o Senhor tratará sem misericórdia.
A nossa parábola nos mostra como sucede com a igreja cristã. Falar da fé, do evangelho, da esperança e do amor, sim, falar de uma só destas partes equivale a falar do reino dos céus. Ao ser pregado este reino, muitos o recebem de coração, tomando-o bem a sério. Creem na palavra, e sua fé se manifesta em boas obras. Eles deixam luzir suas lâmpadas perante o mundo, pois se acham bem munidos de lâmpadas e de azeite, isto é, de fé e de amor. Estes vão sendo figurados pelas virgens prudentes. Ao lado deles existem outros. Estes, por seu lado, também aceitam o evangelho, mas o fazem de modo desleixado, não tomando-o a sério. Praticam muitas boas obras, mas falta-lhes fé. Acham que vão consegui-lo através das obras, são seguros e pensam que está tudo bem, que Deus se satisfaz com as obras. Estes nos vão sendo figurados pelas virgens néscias. Na Escritura são chamados de néscios os que não obedecem à palavra de Deus, os que seguem a sua própria cabeça. Eles não aceitam nenhum conselho, achando que seu plano é o que resolve. Mas, ao fim das coisas, o destino deles se assemelhará ao das virgens néscias aqui descritas.
Estes dois tipos de pessoas existem neste reino onde o evangelho e a palavra de Deus vão sendo pregadas e onde a prática da fé é uma realidade, mesmo que só alguns sigam a Cristo, e os outros não o façam. Nossa parábola não fala dos perseguidores do evangelho. Estes já foram julgados antes, sendo expulsos daquele reino. Ele fala daqueles que são do reino. Também os néscios são chamados de ¨virgens¨, isto é, também eles levam o nome de cristãos, e têm parte no reino. Também praticam obras boas. Pelo que parece, suas obras são até melhores do que as dos outros. Mas, que lhes falta? Não agem com seriedade. Procuram o que é seu, não buscam unicamente a honra de Deus. Não há verdadeiro temor na vida deles. Querem participar, sim, da alegria, já que todas têm a intenção de ir às bodas. Eles são numerosos, e todos carregam lâmpadas nas mãos, mas estas são desprovidas de azeite. Quando o noivo, Cristo, o Senhor, vier no dia derradeiro, poucos entrarão com ele para as bodas. Havia homens em grande quantidade, quando veio o dilúvio. Contudo, só oito pessoas entraram na arca, junto com Noé. Assim também sucederá aqui. Muitos terão as aparências de ser cristãos. Mas poucos entrarão para as bodas com o noivo. As virgens néscias, isto é, as hipócritas, que se haviam fiado em suas obras, dirão às virgens prudentes, isto é, aos cristãos verdadeiros, que unicamente confiam na misericórdia e na benignidade de Deus: Dai-nos de vosso azeite, pois nossas lâmpadas estão se apagando¨. E claro que as lâmpadas se apagam onde não há azeite. As obras não resolvem, sobre isto não há dúvida. Você não consegue obter consolo real através de suas obras. E na graça e na misericórdia de Deus que você precisa buscar consolo e auxílio. A quem Deus demonstrar graça e misericórdia, este tem o que precisa. Por isso as virgens prudentes dizem às néscias: ¨Não, para que não nos falte a nós e a vós¨. Esta palavra é um verdadeiro trovão que ribomba no ouvido daqueles que se fiam no merecimento dos santos ou de outras pessoas. Pois ninguém tem merecimentos suficientes para si próprio; menos ainda os tem de sobra, para poder partilhá-las com outros. Por tal razão, ao chegarem e baterem na porta, desejando entrar para as bodas, deverão ouvir o mesmo que ouviram as virgens néscias: ¨Não vos conheço¨. Os que devem entrar já se encontram do lado de dentro. Este será um julgamento pavoroso. Aí é que se verão abandonados por todos os santos, sim, por todas as criaturas. Pois a quem o Senhor não conhece, ninguém mais o conhecerá.
Portanto demos atenção a esta parábola com muito empenho, já que ela foi dita a nós. E tomemos a sério o evangelho; não durmamos nem nos sintamos por demais seguros. Pois antes de nos darmos conta das coisas, o noivo, Cristo o Senhor, virá. Quem nesta hora estiver preparado com ele entrará para as bodas. E isso que o Senhor nos vai dizendo ao findar a parábola. Ele mesmo nos explica por que no-la anunciou, ao dizer. ¨Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora¨ .
Mais uma palavra de nosso evangelho, trará grande consolo: ¨E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram¨. ¨Todas¨, diz o texto: isto é que tanto as virgens néscias como as prudentes adormeceram. Também as prudentes dormem, isso é, até os verdadeiros cristãos pecam, vez por outra. Deus, em seu reino, também tolera pecadores, uma vez que se admita o pecado, que se abra a porta quando Cristo bater. Enquanto os cristãos forem criaturas de carne e sangue, também haverá pecado na vida deles. Mas nosso consolo é saber que não nos farão mal algum. E se nós o pedirmos a Deus, ele nos perdoará, como diz em 1 João 2.1 e seguintes: ¨Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo; e ele é a propiciação para nossos pecados, e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro¨. E no Pai-nosso diariamente rogamos: ¨E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores¨. Se o crermos, assim nos sucederá.
Amém.
10 Sermões sobre o Credo - Martim Lutero
Prefácio de Lindolfo Weingärtner
O Primeiro Artigo do Credo Apostólico
O Segundo Artigo do Credo Apostólico
Lucas 2.1-14
Lucas 22.7-20
João 19.13-30
Marcos 16.1-8
Lucas 24.13-35
Marcos 16.14-20
Mateus 25.1-13