Mateus 24.36-44

Auxílio Homilético

01/12/2019

 

Prédica: Mateus 24.36-44
Leituras: Isaías 2.1-5 e Romanos 13.11-14
Autoria: Geraldo Graf
Data Litúrgica: 1º. Domingo de Advento
Data da Pregação: 01/12/2019
Proclamar Libertação - Volume: XLIV

Vigilância permanente

1. Introdução

Advento significa vinda. Trata-se da preparação para receber aquele que, com certeza, virá: nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo! Nos quatro domingos de Advento, nós celebramos intensamente três aspectos dessa vinda, da revelação do Deus conosco (Emanuel):

a) o nascimento da criança envolta em panos e deitada numa manjedoura (Lc 2.12);

b) a presença do Salvador, que nos acompanha e nos guia em nossa vida diária e nos diz: Eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos (Mt 28.20b);

c) o Senhor, que nos assegura que nosso futuro lhe pertence: Na casa de meu Pai tem muitas moradas e eu vou preparar um lugar para vocês. E depois eu voltarei e os levarei comigo para que onde eu estiver vocês estejam também (Jo 14.2-3).

Sob essa ótica, estudamos e anunciamos a mensagem dos textos bíblicos indicados para o 1º Domingo de Advento:

Isaías 2.1-5 anuncia o futuro glorioso de Deus ao povo prestes a enfrentar sofrimentos e perda dos seus valores mais sagrados: a terra prometida, a liberdade e o templo. Quando tudo parece perdido e irreversível, eis que vem o anúncio de que Deus é Senhor sobre tudo e todos e que restaurará a paz (Is 2.4). Por isso vale a pena permanecer fiel e obediente a Deus, sobretudo em tempos difíceis.

Romanos 13.11-14 convida as pessoas cristãs, que também enfrentam tempos difíceis de perseguição e sofrimento, para não abrir mão de seu fiel discipulado de Cristo. É justamente nessa situação que o testemunho precisa ser mais forte. Essa certeza é ilustrada por Rabindranath Tagore (1861-1941), um cristão indiano, que escreveu: “A fé é como o canto do pássaro na madrugada, quando, em meio à escuridão, anuncia a chegada de um novo dia”.

Mateus 24.36-44 relata sobre os últimos ensinamentos de Jesus antes de sua prisão e crucificação. São palavras que apontam para a necessidade de vigilância contínua em meio às dificuldades da vida. Quando tudo parece apontar para a derrota e o fracasso, a pessoa cristã fiel permanece perseverante e alerta, na certeza de que Cristo virá como o Ressuscitado, o Senhor sobre todas as coisas. O Senhor deseja nos encontrar em plena atividade comunitária, missionária e diaconal. Nesse sentido, entendemos as palavras atribuídas a Martim Lutero: “Se eu soubesse que o mundo acabaria amanhã, hoje eu plantaria uma macieira”.

Advento é isto. É tempo de intensa atividade – não somente durante o mês de dezembro, quando nos preparamos para receber visitas de parentes e amigos, mas diária e continuamente, apontando para a necessidade de uma preparação permanente da fé, da vida em comunhão e da prática do amor de Deus nas pessoas. É assim que o Senhor quer nos encontrar quando nos surpreender com a sua vinda: com os olhos da fé voltados para o alto, com o coração e as mãos estendidas para o próximo. Perseverantes e obedientes, mesmo em meio aos sofrimentos. Sempre! O Senhor virá com certeza.

2. Exegese

Sugiro a leitura da exegese feita no Proclamar Libertação v. 32, pela Pa. Anelise Lengler Abentroth (cf. bibliografia).

oração e suplicando a ação do Espírito Santo, estudamos Mateus 24.36-44 na perspectiva de que a mensagem fale a nós em primeiro lugar e se torne existencial para os ouvintes dentro do contexto histórico, social e eclesiástico em que vivemos. E o fazemos sob a máxima: “Vivam e creiam como se o mundo fosse acabar amanhã. Ajam e sirvam como se o mundo nunca fosse acabar”.

As pessoas cristãs vivenciam e anunciam a esperança às pessoas marcadas por um mundo castigado por enfermidades, injustiças, exploração, fome, guerras e toda sorte de sofrimentos, geralmente resultado de escolhas malfeitas e da cobiça por poder, riquezas e prestígio (o pregador ou a pregadora pode incluir fatos existenciais recentes para a comunidade local). A partir dessa sua esperança, as pessoas cristãs são instadas a agir e a reagir anunciando o reino de Deus, que é infinitamente maior do que qualquer sinal da morte. Ao se aproximarem com ações concretas das pessoas afetadas pelo desânimo e pela desesperança, as pessoas cristãs dão testemunho de sua esperança e anunciam que o sofrimento não tem a palavra final. E quem garante tudo isso é aquele que virá e para quem nos preparamos: Jesus Cristo, o Salvador.

No entanto, o testemunho também deve deixar claro que em qualquer dia chegará a hora que ninguém poderá evitar: a morte e o fim de todas as coisas terrenas. Todos são convidados a se preparar para essa hora e fortalecer sua fé na vida que transcende a morte. Justamente por causa da incerteza sobre o dia da volta de Cristo, somos estimulados a viver de tal maneira que, a cada momento, possamos aguardar a vinda do Salvador.

Em suas palavras, Jesus nos ensina a vigiar, pois não sabemos quando será esse dia. Para tanto, precisamos estar preparados. E conforme as palavras de Cristo, a melhor preparação é viver em confiança no Senhor e praticar a sua vontade.

Para ilustrar sua mensagem, Jesus usa exemplos. Remete ao dilúvio e fala da vigilância para evitar que o ladrão entre na casa. As pessoas levam uma vida normal, rotineira. Em todos os tempos. Foi assim nos tempos de Noé. Permanece assim nos dias de hoje. Cada qual com seus afazeres, com seus compromissos. E é justamente ali que todos serão surpreendidos. Por isso sempre foi e continua sendo fundamental viver em ininterrupta preparação e vigilância, prestando atenção e obediência à palavra que é anunciada. As pessoas que se divertem em um rio ao pé da montanha precisam ficar atentas aos sinais de trovoada no alto da serra para não serem surpreendidas pela enxurrada, que desce a encosta com força destrutiva. No tempo de Noé, as pessoas acompanharam a construção da arca. Porém elas consideraram isso uma loucura e não quiseram se arrepender dos seus pecados. Por isso foram surpreendidas pelo dilúvio sem que estivessem preparadas. Jesus também compara a vinda repentina do Salvador com a ação de um ladrão, a qual exige do dono da casa uma contínua vigilância, para não ser surpreendido desprevenido.

E mesmo assim, por melhor que estejamos preparados e vigilantes, não sabemos quando e como acontecerá. Seremos surpreendidos em meio à rotina diária da vida. Por isso é extremamente necessário permanecer acordado na fé e firme na prática do amor de Deus. É assim que o Senhor quer nos surpreender. Esse é o preparo que o Advento nos propõe. Eu me lembro de um tempo antes do Natal, durante minha infância, quando esperávamos uma visita que havia se anunciado. Tudo estava preparado para receber a visita, que não chegava. O jeito foi deixar o fogo acesso e os alimentos preparados para não estarmos desprevenidos caso a visita chegasse fora de hora. E foi o que aconteceu. No Advento, não nos preparamos tão somente para festejar mais um feriado de Natal. O Advento nos convida a fazer da nossa vida uma contínua preparação para receber aquele que vem nos salvar. Ele virá com certeza. Que estejamos preparados, arrependidos e firmes na fé, ativos na prática do amor de Deus e no testemunho da vontade divina ante os pecados do mundo.

3. Meditação

O Advento marca o início de um novo Ano Eclesiástico. Rememoramos a história da salvação revelada por meio da vinda de Jesus Cristo no primeiro Natal. Celebramos sua presença entre nós e nos sentimos carregados pela ação do Espírito Santo. Expressamos nossa esperança pela vinda definitiva do Salvador, inaugurando assim uma nova vida. No entanto, com uma diferença: estamos um ano mais velhos. E nesse meio tempo muitas coisas aconteceram e impactaram nossa vida: ficamos doentes, nos despedimos de pessoas queridas, ficamos desempregados, nossas colheitas não vingaram ou tiveram preços abaixo da expectativa, a família passou por crises e até por separações, a situação econômica e social do país nos deixou inseguros. Todas essas situações experimentadas e sofridas apontam para um futuro incerto e preocupante. Nesse sentido, a mensagem de Advento nem sempre chega bem aos corações, pois as pessoas esperam soluções imediatas, imediatistas, para os problemas que as afligem. Algumas denominações religiosas fazem promessas de prosperidade e cura imediatas de todos os males. Por isso seu discurso costuma ser mais atraente do que a pregação do Advento. A tão esperada parúsia (vinda) não tem hora para acontecer!

Conheci uma pessoa que dizia não acreditar na segunda vinda de Cristo. Importante seria cada qual cuidar de si para garantir a sobrevivência e o bem-estar de cada dia. Ela afirmava isso estando bem de saúde e tendo o suficiente para viver. Bastou ficar doente e com a vida ameaçada, que ela correu para uma igreja que lhe prometia a solução imediata de seus problemas. Outra pessoa esperava a ação dos governantes para a mudança de sua situação e a resultante felicidade. São visões individualistas e egoístas. O Advento, por sua vez, propõe ações e preparação comunitária, envolvendo a comunhão e a reconciliação – com Deus e com o próximo.

A pregação precisa levar em conta essas situações “seculares” e cativar as pessoas para a correta preparação, contínua e persistente. É preciso alertar contra o imediatismo e convidar para a vigilância permanente. Na história do cristianismo, houve pessoas que afirmavam saber dia e hora da vinda de Cristo. Encontraram ouvidos e corações aflitos, que ficaram eufóricos com tal boa notícia. Porém a frustração foi maior ainda quando tais prognósticos não se cumpriram. E as pessoas perderam sua fé e deixaram de confiar nas promessas divinas. Por isso é importante fortalecer a confiança das pessoas e desvelar corretamente as palavras bíblicas que nos falam da vinda de Cristo e que apontam para a certeira surpresa que será o grande dia do Senhor.

Em nenhum lugar da Bíblia está escrito que a vinda de Cristo acontecerá em cerimônia solene, com dia e hora determinados. Ela pode acontecer quando as pessoas estiverem reunidas em culto. Ela pode acontecer no dia a dia, em meio à rotina. Podemos estar em oração e estudo da Palavra, com os olhos voltados para o alto. Podemos estar compenetrados na dura lida da vida diária. Não importa onde e quando. Vai ser surpresa. O que importa é como estaremos naquele dia: afastados de Deus e do próximo, dominados pelos pecados, ou vigilantes, em perseverante preparação? A preparação para a vinda de Cristo consiste em conduzir uma vida confiante de fé e obediência ao Senhor, atentos à sua Palavra, um forte e corajoso testemunho da vontade de Deus ao mundo e a prática do amor de Deus às pessoas. É assim que o Senhor quer nos encontrar na sua vinda. E o tempo do Advento aponta para esse preparo.

4. Imagem para a prédica

Sugiro uma curta encenação antes da prédica de uma situação em que as pessoas são surpreendidas sem estarem preparadas.

5. Subsídios litúrgicos

Confissão de pecados

Misericordioso Deus e Pai, nós confessamos que nem sempre nós nos alegramos com a boa nova da salvação em Cristo. Somos ora impacientes e precipitados, ora desanimados e indiferentes na fé e na esperança. Por isso suplicamos: socorre-nos quando nos afundamos no abismo do medo, do ódio e da descrença. Liberta-nos do egoísmo para uma nova vida em comunhão. Que nos alegremos novamente por termos a companhia do Senhor Jesus Cristo em nossos caminhos. E que assim possamos perceber a tua presença amorosa em todos os momentos e situações de nossa vida. Reacende em nós a chama da esperança. Tem compaixão de nós, perdoa nossos pecados e conduze-nos para a vida eterna. Isso nós te pedimos em nome de Jesus Cristo. Amém.

Absolvição

Alegre-se muito, ó povo de Sião; moradores de Jerusalém, cantem de alegria, pois o seu rei está chegando. Ele fará com que todas as nações vivam em paz (Zc 9.9ss).

Oração do dia

Oremos a Deus, que pode transformar nosso sofrimento em alegria.
Amado Deus e Pai, tu não esperas passivamente que nós vamos te procurar. Mas tu vens a nós por meio do Salvador Jesus Cristo. Por isso nós suplicamos: faze com que aproveitemos este tempo de Advento e Natal para aceitar teu convite e nos deixar envolver completamente pelo teu amor. Interrompe nossa correria e leva-nos para o silêncio do tempo de Advento. Da indiferença, transporta- os para a obediente devoção; do medo e da dúvida, liberta-nos por Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Faze isso pela tua palavra na ação do Espírito
Santo. Amém.

Bênção e envio

Repartam o pão com as outras pessoas. Pois ele é apetitoso apenas quando é compartilhado. Somente o pão repartido alegra muitas pessoas.
Repartam a palavra de Deus com as outras pessoas. Ela é rica demais para servir apenas a vocês. Ela quer servir para a salvação de muitos.
Repartam o sofrimento com as outras pessoas. O amor alivia e trata a dor dos irmãos e das irmãs.
Repartam a luz com as outras pessoas. Ela espanta a escuridão para que ninguém permaneça nas trevas.
É para isso que Deus nos chama, prepara, abençoa e envia!
Que este tempo de Advento inaugure efetivamente um novo tempo.
Vão na paz do Senhor!

Bibliografia

BROOKS, David H. Prédica sobre Mateus 24.36-44. In: Göttinger Predigten im Internet. 2016. Disponível em: <www.theologie.uzw.ch>.
SEGGEWISS, Bernhar. Prédica sobre Mateus 24.36. In: Predigtdatenbank. 2016. Disponível em: <www.predigten.de>.
ABENTROTH, Anelise. Prédica: Mateus 24.36-44. 1º Domingo de Advento. In: SOUZA, Mauro Batista de et al. (Coords.). Proclamar Libertação. São Leopoldo: Sinodal; EST, 2007. v. 32, p. 9-15.


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Autor(a): Geraldo Graf
Âmbito: IECLB
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 1º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 24 / Versículo Inicial: 36 / Versículo Final: 44
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2019 / Volume: 44
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 54619
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Eu também sou parte e membro dessa congregação, coparticipante e codesfrutante de todos os bens que possui. Pelo Espírito, a ela fui levado e incorporado, pelo fato de haver ouvido e ainda ouvir a Palavra de Deus, que é o princípio para nela se entrar.
Martim Lutero
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