Mateus 21.28-32

Auxílio Homilético

30/08/1981

Prédica: Mateus 21.28-32
Autor: Werno Stiegemeier
Data Litúrgica: 11º. Domingo após Trindade
Data da Pregação: 30/08/1981
Proclamar Libertação - Volume VI


l - Texto

1. Tradução:

V.28: E que pensais vós? Um homem tinha dois filhos. Aproximando-se do primeiro, disse: Filho, vai, trabalha hoje na vinha!

V.29: Ao responder, este disse: Não quero! Depois, arrependendo-se, foi.

V.30: Aproximando-se do segundo, falou do mesmo modo. Ao responder, este disse: Sim, senhor! Mas não foi.

V. 31: Qual dos dois fez a vontade do pai? Responderam: O primeiro. Disse-lhes Jesus. Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas entram diante de vós no reino de Deus.

V.32: Pois João veio a vós em caminho de justiça e não crestes nele; mas os publicanos e as prostitutas creram; vós, porém, mesmo vendo, não vos arrependestes, depois, para crer nele.

2. Crítica textual: Conforme o texto grego de Nestle, o primeiro filho disse sim senhor ao que o pai lhe pediu, porém, não foi à vinha; o segundo disse não, mas depois se arrependeu e cumpriu a vontade do pai. No aparato crítico do NT grego encontramos uma observação que nos mostra que há manuscritos importantes nos quais esta ordem é inversa: quem diz não é o primeiro filho e quem diz sim é o segundo. Na tradução que oferecemos acima, seguimos esta ordem, pois os códices que a apresentam tom grande peso. Além disso, essa versão justifica o pedido do pai dirigido ao segundo filho. Já que o primeiro se negou, teve que mandar o segundo. (Maiores detalhes em Schniewind, p.216.) Com isto naturalmente também muda a resposta à pergunta de Jesus. Quem fez a vontade do pai foi o primeiro. No códice D. porém, e em algumas outras testemunhas, os sacerdotes e anciãos respondem: o último. Esta é uma resposta absurda, que só seria explicável a partir da teimosia dos adversários de Jesus que, sabendo-se atingidos, não quereriam reconhecer seu erro. Entendemos, no entanto, que a intenção do texto é mostrar como eles foram levados a condenar a sua própria atitude.

3. Contexto: Jesus está em Jerusalém. Ensina no templo. Surge uma controvérsia entre ele e os principais sacerdotes e os anciãos do povo (v.23). Está em jogo a autoridade de Jesus e o batismo de João. Nesta altura dos acontecimentos Jesus fala a seus adversários agraves de três parábolas, das quais a nossa per í cope é a primeira. Em todas elas se destaca a questão da desobediência de Israel. Devido a esta desobediência, o reino de Deus passou a acolher os rejeitados e desprezados, os quais creram na proclamação de João Batista e de Jesus. Desta forma as três parábolas anunciam o juízo de Deus sobre os ouvintes de Jesus.

4. Crítica literária: A parábola propriamente dita encontra-se nos vv. 28-30. No v.31 Jesus entra em diálogo com seus ouvintes, para logo em seguida esclarecer o que queria mostrar através dela. Esta segunda parte do versículo é introduzida por uma expressão muitas vezes usada por Jesus na conclusão de uma parábola: em verdade eu vos digo.... O nosso texto, no entanto, ainda continua. A partir disso presume-se que o v.32 originalmente não fazia parte dessa perícope. Provavelmente foi acrescentado mais tarde (por Mateus ou já antes dele), tendo por base a fonte usada em Lc 7.29s. Este acréscimo pode ter surgido a partir da palavra publicanos que aparece no v.31 e em Lc 7.29, e ainda a partir de João Batista. cuja pessoa é assunto em Lc 7.29s e Mt 21.25. (cf. Jeremias, p.83s)

5. Conclusão: Nenhum dos dois filhos cumpriu fielmente a vontade do pai. Ambos tinham restrições em relação a seu pedido. Um disse sim e, no entanto, não fez o que o pai lhe pedira. Outro inicialmente disse não, mas de¬pois se arrependeu e foi trabalhar na vinha. Desta maneira tanto um quanto o outro não pode ser apresentado como exemplo a ser seguido, pois há incoerência entre falar e agir. O que a parábola quer mostrar é a importância do agir, do cumprir a vontade do Pai na prática.

Aderir à vontade do Pai somente em palavras não tem valor algum. O que importa é o consentimento autêntico e verdadeiro, que se torna visível em acontecimentos bem concretos da vida. Foi justamente este o ponto fraco dos sacerdotes e anciãos, aos quais Jesus dirigiu essa parábola. Os religiosos, os esteios do culto e os advogados da vontade de Deus, obedecem a Deus apenas com a boca, eles se portam como filhos obedientes, mas no íntimo eles fogem do cumprimento real dos preceitos de Deus. (Brakemeier, p.l 1)

Algo bem diferente podia ser constatado entre as pessoas desprezadas e rejeitadas, aquelas que eram consideradas pecadoras por excelência: os publicanos e as meretrizes. É verdade que se afastaram do caminho da retidão e da justiça; distanciaram-se de Deus e desprezaram a sua vontade. Agora, porém, quando está sendo anunciado o irromper do reino de Deus, eles te arrependem e aceitam a proclamação da sua vontade. E os pecadores arrependidos usam de sinceridade ao professarem a sua fé. Eles estão alegres e felizes, agradecem a Deus pela gloriosa libertação que lhes sucedeu e se entregam de corpo e alma a esta nova realidade por eles experimentada. Os publicanos e as prostitutas sentem-se pobres e insignificantes diante da majestade e da santidade de Deus, ao passo que aqueles que se haviam dedicado ao serviço de Deus, são orgulhosos e se sentem donos da verdade.

Para os líderes religiosos essa parábola anuncia o juízo de Deus. Eles perderam o lugar de destaque que outrora lhes pertencera. Diante deles outros entram no reino de Deus. Conforme Joachim Jeremias o verbo PROAGOUSIN (v.31) deve ser entendido no sentido absoluto, o que quer dizer que os pecadores entram no reino, enquanto que aqueles que são somente religiosos de aparência, ficam do lado de fora. (Jeremias, p. 127; cf. tb. Brakemeier. p. 11)

II - Meditação

1. Normalmente considera-se bons cristãos aquelas pessoas que frequentam regularmente os cultos e participam das demais atividades da comunidade. Este, no entanto, é um critério que nem sempre nos conduz a um julgamento correto. As aparências podem enganar. Se alguém ouve, eituda e conhece a vontade de Deus, ainda não se sabe se de fato usa de sinceridade na profissão de sua fé. Há pessoas que, aos domingos, sentam nos primeiros bancos da igreja e na vida diária, onde acontecem as decisões Importantes da vida, agem de maneira irrefletida e irresponsável. É que a proclamação da palavra não os atinge. O que ouvem sempre é válido para os outros: para o vizinho, para o colega, para as pessoas que não estão no culto. Pena que este ou aquele não estava; a prédica serviu tão bem para ele! Justamente aqueles que deveriam ter ouvido estas palavras, não estavam! E assim não se dão conta de que é a eles que está sendo proclamado o reino de Deus. Quem ouve e estuda a mensagem bíblica deve fazê-lo sempre em primeiro lugar para si mesmo — também o pastor.

Depois do ouvir vem o agir. A palavra do Senhor quer ser uma orientação nas encruzilhadas que encontramos em nossos caminhos. Quem conhece a vontade do Pai e não age em conformidade com ela, é semelhante dos sacerdotes e anciãos de nossa parábola.

2. Por outro lado temos aquelas pessoas que não participam das atividades da igreja e dificilmente comparecem aos programas por ela oferecido. Consequentemente são considerados membros desligados que não querem nada com nada. Este, no entanto, nem sempre é o caso. Não podemos incluí-los a todos no mesmo grupo. Certamente há aqueles que de fato vêem a igreja como algo desnecessário e que comparam a palavra de Deus com um conto de fadas. Mesmo nesse caso deveríamos perguntar por que chegaram a esse ponto.

Outros não participam por causa de seu sentimento de culpa. Consideram-se indignos ou têm medo que seu pecado chegue à luz do dia. Por fim ainda encontramos aquelas pessoas que acham poder levar uma vida correta também sem a igreja.

É importante que a comunidade ativa não despreze esses membros mais afastados. Eles precisam de aceitação e de compreensão. Se nós os acei¬tamos como Jesus aceitou os publicanos e as meretrizes, muitos talvez haverão de se arrepender e fazer a vontade do Pai.

3. O texto bíblico facilmente pode levar-nos a comparar os fiéis, os bons membros, aqueles que ouvem a palavra de Deus e dela gostam de falar, com o povo de Israel, que não fez a vontade do Pai. Consequentemente poderíamos comparar os membros mais desligados com aqueles que fizeram a vontade de Deus. Com esta comparação devemos ter muito cuidado. Ao meu ver não deveríamos usá-la; nem mesmo indiretamente. Poderíamos cometer uma injustiça diante daqueles membros que de fato levam a sua vida de fé a sério. Acredito que isto acontece muitas vezes tam¬bém em pregações sobre outros textos. Os bons são os outros, quem apanha são aqueles que realmente procuram andar como povo de Deus.

Em vez disto, deveríamos acentuar o fato de que diante* de Deus todos têm a mesma chance. O povo eleito de Deus teve a mesma oportunidade que os pecadores. Todos foram convidados para o reino, mas nem todos reagiram Ha mesma forma. Uns aceitaram o convite, outros o rejeitaram. Uns se arrependeram, outros se revoltaram e endureceram os seus corações. Importa, portanto, voltar-se a Deus, ouvir a sua vontade e entregar-se de corpo e alma a esta nova realidade, possibilitada unicamente por sua graça.

4. Num último ponto queremos considerar aqueles grupos ou movimentos que surgem fora das divisas de uma igreja estabelecida. Trata-se de pessoas - muitas vezes jovens - que se revoltam contra certas tradições, para eles já ultrapassadas, e contra a hipocrisia de muitos membros. Rejeitam os elementos litúrgicos do culto e não vêem importância nos sacramentos. Qual é a posição que devemos tomar diante de tais grupos? É correta a sua atitude?

A sua revolta contra a hipocrisia e certos costumes eclesiásticos que nada lhes dizem, é justificável. Sabemos que de fato nem tudo é assim como seria de se esperar. São muitas as pessoas que confessam a sua fé somente com a boca e não com sua vida toda. O que, no entanto, não se justifica, é a atitude dos que se retiram da comunidade para viver um cristianismo autêntico fora e ao lado dela. Quem descobriu falhas na comunidade e está insatisfeito com a incoerência dos membros, deveria engajar-se nu luta pela transformação dessa situação. Não é fugindo das pessoas que se consegue desafiá-las para o cristianismo autêntico, mas convivendo com elas, colocando-se a seu lado na hora da fraqueza e ajudando-as a se erguerem após a derrota.

III - Sugestões para a prédica

1. Falar da situação da comunidade cristã atual. Palavras piedosas não nos dão certeza sobre a autenticidade da fé de alguém. Palavra e ação devem andar de mãos dadas.

2. Explicar a parábola: a quem ela foi dirigida, quem são os dois filhos, etc.

3. Diante de Deus todos os homens são iguais. Todos têm a mesma oportunidade: os líderes religiosos do povo de Israel tiveram uma chance igual à dos publicanos e das prostitutas. Importa ouvir os mensageiros de Deus, arrepender-se e fazer a vontade do Pai.

4. Todos carecem do perdão de Deus: tanto os membros ativos de uniu comunidade quanto os mais afastados e desligados. Só podemos viver a partir da graça de Deus.

IV - Bibliografia

- BRAKEMEIER, G. Mateus 21-28. São Leopoldo, 1971 (polígrafo).
- JEREMIAS, J. As parábolas de Jesus. São Paulo, 1976.
- JETTER, W. Unterwegs mit dem Wort. Hamburg, 1966.
- SCHNIEWIND, J. Das Evangelium nach Matthäus. In: Das Neue Testament Deutsch. Vol.2. Göttingen, 1968.
- WEINGÄRTNER, L. Lançarei as redes. São Leopoldo, 1979.


 


Autor(a): Werno Stiegemeier
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 12º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 21 / Versículo Inicial: 18 / Versículo Final: 32
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1980 / Volume: 6
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 18256
REDE DE RECURSOS
+
Um coração puro é aquele que observa e pondera o que Deus diz e substitui os seus próprios pensamentos pela Palavra de Deus.
Martim Lutero
© Copyright 2025 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br