Mateus 18.10-14

Prédica - Autoria P. Me. Alexander Busch

12/04/2019

 

Prédica para Culto Ecumênico no tempo de Quaresma por ocasião dos 29 anos de emancipação política do Município de Maripá

Texto base: Mt 18.10-14 / Texto de apoio: Sl 71.14-24

Estimada comunidade!

Nestes dias de festa e celebração pelos 29 anos do município de Maripá, fazemos bem – muito bem – em nos reunir em culto para ouvir a Palavra de Deus. Não somente a história deste município está interligada com a história das igrejas que ainda hoje se fazem presentes em Maripá, mas, mais importante ainda, a Palavra de Deus alimenta nossa fé e nosso ânimo, conduz nossos passos, anima a nossa vivência em comunidade.

E é sobre comunidade que Jesus nos fala hoje. Usando a história de um pastor de ovelhas que cuida de seu rebanho e que busca a ovelha perdida, Jesus nos fala sobre a convivência entre as pessoas. Jesus nos oferece uma proposta para viver em comunidade. A ilustração de Jesus, o pastor que busca a ovelha perdida, faz parte de um bloco de ensinos onde Jesus aborda vários temas para a boa convivência. Entre eles a humildade e confiança para se deixar conduzir por Deus, a gravidade do pecado, nossas faltas que quebram relacionamentos e machucam pessoas, a importância do diálogo, do perdão e reconciliação para restaurar relacionamentos quebrados. É dentro deste contexto maior que Jesus nos fala sobre o pastor que cuida de seu rebanho, do pastor que cuida de todo o rebanho.

“Cuidado, não desprezem nenhum destes pequeninos!” Como em outras ocasiões, Jesus inclui no seu ensino uma palavra de alerta, uma palavra de advertência. Cuidado! Jesus sabe que a comunidade humana é muito frágil. Com facilidade e agilidade as pessoas se deixam conduzir por atitudes que rompem o relacionamento entre as pessoas e que alimentam a desconfiança na comunidade. Muitas vezes, ao invés de pontes, as pessoas estão construindo muros de separação. Uma destes muros, citados por Jesus, é o desprezo. É a falta de consideração pelo próximo. É a indiferença para com o meu vizinho. É o descuido para com as pessoas ao meu redor.

Aqui em Maripá, graças ao legado de nossos antepassados, graças ao evangelho que fortaleceu os laços sociais, ainda persiste entre nós um forte vínculo comunitário. Isto se percebe, entre outros exemplos, nos programas sociais do município que oferecem oportunidades para jovens juntos fazerem música ou para pessoas idosas se reunirem no centro de convivência. Ou ainda, podemos destacar os grupos e atividades nas igrejas que permitem as pessoas se encontrarem umas com as outras.

Entretanto, não podemos nos iludir. Maripá não existe numa bolha, protegida de influências externas. Dia destes no grupo de homens da igreja tivemos ocasião para conversar sobre algumas destas influências externas que alimentam o individualismo, a competição, o consumismo exagerado e a corrupção. Assim como Brasil afora, assim também em Maripá estamos passando por grandes mudanças na cultura e sociedade e nenhuma pessoa, nenhuma comunidade está imune a estas transformações. Neste sentido, cada um, cada uma de nós também é um dos pequeninos do qual Jesus fala. Somos pessoas frágeis, vulneráveis, facilmente influenciadas por valores contrários à proposta de Jesus. Nossa fé é fraca e nossa prática é deficiente. E se alguém pensa que está em pé, tome cuidado para não cair. O melhor fundamento, a melhor alicerce encontramos na Palavra de Jesus que fortalece nossa fé e orienta nossa prática.

E Jesus, com paciência e fidelidade, continua nos ensinando, nos citando a história do pastor, “O que é que vocês acham? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se perde, será que não deixa as noventa e nove pastando no monte e vai procurar a ovelha perdida? Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quando ele a encontrar, ficará muito mais contente por causa dessa ovelha do que pelas noventa e nove que não se perderam”.

Para falar de comunidade, para falar de boa convivência entre as pessoas, Jesus faz uso de uma imagem bastante conhecida, a figura do pastor de ovelhas. No tempo de Jesus, era comum ver pastores cuidando de seus rebanhos. Tão comum, que na tradição do povo judeu, a figura do pastor era usada para falar das lideranças religiosas. Assim como o pastor cuida do rebanho, os sacerdotes também cuidavam do povo de Deus. Aliás esta antiga comparação persiste nos dias de hoje. Nas igrejas evangélicas a liderança é comumente chamada de pastor ou pastora. E lembro que, mesmo na Igreja Católica Romana, o padre pode não ser habitualmente chamado de pastor, mas ele ainda assim é pastor do rebanho que Deus lhe confiou.

A tradição do povo judeu, entretanto, vai além. Ela equipara a figura de um pastor às lideranças políticas, ao rei e às autoridades que também são chamadas para cuidar do povo. O Salmo 78, por exemplo, afirma, “Deus pôs Davi como rei de Israel, como pastor do povo de Deus” (Sl 78.71). É importante resgatar esta memória, esta tradição a partir da qual Jesus nos fala para perceber que seu ensino não limita às igrejas ou comunidades cristãs. O ensino de Jesus teve e tem implicações sociais que vão além da religião, que tem a ver também com a sociedade maior na qual estamos inseridos, que se diz respeito também a nosso dia a dia no município de Maripá.

Com a história do pastor que cuida do rebanho, incluindo a ovelha perdida, Jesus aponta para nós o caminho da solidariedade, o caminho de pessoas que se importam umas com as outras. É o caminho que desafia as igrejas a irem ao encontro das pessoas afastadas da convivência, seja qual for o motivo. Buscar as pessoas e reintegrar as pessoas de volta ao rebanho. E, às vezes, o afastamento não é físico. Dentro das igrejas podem existir pessoas em relacionamentos rompidos, que não se falam mais. Aqui cabe às igrejas anunciar que Jesus é a ponte que nos conduz ao diálogo, ao perdão e à reconciliação.

A história do pastor do rebanho, por outro lado, é também um convite e desafio para as lideranças políticas e autoridades constituídas. Um desafio para que desenvolvam políticas públicas que valorizem a convivência em comunidade, que atendam as necessidades da população, especialmente das pessoas “perdidas”, das pessoas mais vulneráveis e fragilizadas em nosso município. Seja a pessoa idosa acamada, seja a mulher vítima de violência doméstica, seja o homem escravo da bebida, seja a criança afastada da escola - entre outros exemplos – o que vai determinar o bom futuro de Maripá é a qualidade das políticas e serviços públicos que favorecem a convivência em comunidade, que constroem pontes de cuidado para com o próximo, pontes de cura para as feridas sociais que marcam nosso país e pontes de solidariedade e justiça para com as pessoas em sofrimento.

Finalmente, a figura do bom pastor convida e desafia não apenas as lideranças, mas também cada pessoa que ouve esta história. Jesus conta a história do pastor que cuida do rebanho a fim de que as pessoas se importem umas com as outras, a fim de que a comunidade a qual pertencemos, seja a igreja ou sociedade, seja uma comunidade do cuidado. Para ilustrar quero também lhes contar uma história.

Era uma vez um pastor de ovelhas que estava guiando o seu rebanho para uma montanha. Precisavam subir por um caminho estreito e íngreme para chegar ao pasto. Entretanto, uma ovelha mais fraca, parecia ser incapaz de acompanhar o rebanho. O animal resistia a todas as tentativas do seu pastor. Por fim o homem chamou o seu cão e juntos pastor e cachorro aproximaram o rebanho, cercando a ovelha que estava fraca e debilitada.

Uma vez cercada, o rebanho caminhou bem juntinho. A ovelha fraca e debilitada, mesmo relutante, não teve outra alternativa, senão, acompanhar o rebanho. Era desconfortável para as ovelhas caminharem assim, tão juntinhas e unidas. Porém, amparada por todos os lados a ovelha fraca caminhou, literalmente sendo carregada pelas demais até chegarem ao pasto. Junto as águas tranquilas e pasto verdejante, a ovelha fraca recuperou suas forças e o pastor do rebanho teve grande alegria que nenhuma de suas ovelhas se perdeu.

Assim também Jesus - o bom pastor que dá a sua vida em favor das ovelhas - tem grande alegria em buscar e encontrar cada uma de suas ovelhas pequeninas, incluindo você e eu. Ele nos chama para caminharmos juntinhos, cuidando uns dos outros e se deixando conduzir pelo pastor que cuida de seu rebanho, de todo o seu rebanho. Amém.
 

REDE DE RECURSOS
+
Não há pecado maior do que não crermos no perdão dos pecados. Este é o pecado contra o Espírito Santo.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br