Mateus 13.44-46

Prédica

08/08/1971

Mateus 13.44-46
9º. Domingo após Trindade 

Em cada resultado de loteria - Ah, se eu tivesse ganho... O mesmo - emprego novo e excelente - negócio especialmente sucedido... 

A comparação de Jesus: Reino e tesouro escondido num campo. Não é difícil imaginar tudo o que o lavrador sentiu ao encontrá-lo. No entanto, logo de salda: tesouro oculto. A gente pode dizer: isto é uma árvore, um auto. Ninguém pode dizer: isto é Deus. E o que incomoda alguns é precisamente essa falta de publicidade ,que Deus faz. Deus não usa relações públicas... Pelo contrário: Deus entrou em nosso mundo pela porta dos fundos. E isso não tem nada de espetacular. Aliás, a imensa maioria da humanidade entra na vida pela porta dos fundos - e fica lá no quartinho dos fundos até morrer. Jesus também ficou por essa área: consolando os que choravam, tomando crianças nos braços, estendendo a mão aos ignorados pela sociedade. E não ha dúvida de que os pobres, os doentes, os miseráveis nunca se encontram nas avenidas por onde desfilam as excelências. O lugar deles é outro. Claro, às vezes encontra-se miséria num gabinete atapetado de diretor executivo. Uma miséria chamada solidão. 

E por que Deus em Cristo nunca quis avançar até a sala de visitas, até o saguão das recepções? Justamente para que cada um de nós - mesmo que atolado no pior dos abismos - pudesse encontrá-lo - e saber que Ele, o Cristo, é um dos nossos, é nosso irmão mesmo. Como excelência triunfante, como astro do sucesso - Deus em Cristo não poderia ser nos se Deus. Se ele tivesse desfilado por esse mundo - nosso lugar seria atrás dos cordões de isolamento, espiando por cima dos ombros da guarda de segurança... 

Por isso mesmo, Jesus, foi um filho de carpinteiro como tantos outros. Por isso mesmo, Jesus morreu - como todos nós teremos de morrer um dia. Até mesmo os mais bacanas têm uma faceta menos brilhante, nesta vida. Naquele aspecto em que cada um de nós é pobre, ali onde tentamos esconder nosso ponto fraco (que ninguém compreenderia!) - ali temos uni irmão que se chama Jesus. 

Um tesouro escondido num campo. Talvez muitos estejam simplesmente passando por cima, sem notar. Em compensação, o mais pobre de todos pode encontrá-lo. E agarrá-lo com as mãos - essas mesmas mãos que já fizeram tanta coisa miserável! podemos até receber esse tesouro em nossas bocas - bocas fechadas para tanta palavra de consolo - bocas tão escancaradas para soltar outras palavras. Se a terra, o chão não eram sujos para esconder o tesouro, nossas mãos e lábios não o serão também. Porque o amor de Deus não é seletivo nem antisséptico... 

Mas que campo é esse, onde está escondido o tesouro? Não é outra coisa que o lugar onde vivo a minha vida. Ou onde desperdiço minha vida. Ou onde trabalho. Ou onde vegeto. Nós apreciamos ruas asfaltadas em nossa vida. No entanto, é muito possível que estejamos mais próximos do tesouro oculto nos trechos mais esburacados da estrada. Afinal, a experiência é bem conhecida: após a crise (na família, na profissão, na fé) percebemos, de repente, que nossa vida se tornou tão mais rica... O camponês de nossa história também teve de vender tudo quanto possuía - para poder adquirir aquele campo, que continha inesperada riqueza. Para a gente ter uma ideia do que significa esse tudo, basta imaginar a cara dos parentes e conhecidos. Ah, os comentários: o sujeito ficou maluco! - Lembram-se daquele outro episódio, envolvendo um jovem rico? 

Esse é o outro aspecto melindroso da parábola de Jesus. 

Ninguém encontra Deus em liquidação, a preços remarcados. É impossível querer o Reino de Deus, aproveitando a queima geral para acabar com o estoque. Tudo na vida tem o seu preço. Deus também! 

Acontece que, nesse ponto, não devemos cometer nenhum equívoco. Pode ser que o Reino de Deus venha a custar tudo - inclusive minha própria vida, em caso extremo. Agora, o Reino de Deus não é renúncia. A fé nunca foi o mesmo que cara azeda. Pelo contrário: o homem que vendeu tudo o que tinha, fez isso transbordante de alegria. Por que? Por que quando eu encontro o amor da minha vida - quando eu descubro o amigo que ficou a meu lado - quando eu sinto realização naquilo que faço - todo o resto fica em segundo plano. Ou não? É assim... A gente vê a vida com outros olhos... Assim como o lavrador nem pensava mais na qualidade ou produtividade daquele campo. Porque sabia que, tendo o tesouro nas mãos, todo o resto estaria garantido. A maior bobagem que nós cometemos em nossa vida é essa mania de nos contentarmos com um pouquinho. Um pouquinho de Deus, um pouquinho de religião, um pouquinho de família. E esquecemos que, com essa mania, acaba restando também só um pouquinho de vida... E vejam: Jesus disse uma vez - Eu vim para que os homens tenham vida - e a tenham em abundância: Possivelmente a segunda parábola mostra muito bem o que isso significa. 

Deus é o negociante e conhecedor de pérolas. E qual é o sonho maior de um conhecedor e colecionador de pérolas? Qual é o sonho maior de Deus?
É encontrar a pérola de valor excepcional. Nosso Deus é um Deus que procura constantemente. E para adquirir essa jóia nosso Deus deu tudo - deu Seu Filho. 

Cada ser humano, não importa em que condições, é essa jóia, aos olhos de Deus. Isso é o que qualifica o ser humano - além de todos os outros critérios e opiniões. Isso é o que pode e deve ser a alegria maior de nossa vida: sabermos que somos criaturas amadas por Deus. 

Deus não nos troca - por nada. Nossa vida será maior, mais realizada e mais completa, no dia em que não trocarmos mais nosso Deus por meia dúzia de tostões. Amém.

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Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 10º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 44 / Versículo Final: 46
Título da publicação: Auxílios para a Prática Pastoral - Seleção póstuma de prédicas e medit / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974 / Volume: P - 2
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 23328
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Se reconhecemos as grandes e preciosas coisas que nos são dadas, logo se difunde, por meio do Espírito, em nossos corações, o amor, pelo qual agimos livres, alegres, onipotentes e vitoriosos sobre todas as tribulações, servos dos próximos e, assim mesmo, senhores de tudo.
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