Marcos 7.31-37 - Ele fez tudo bem!

Prédica

12/11/1950

ELE FEZ TUDO BEM!
Marcos 7.31-37 

O lago de Genesaré, no qual sucedeu o que aqui nos é contado, é ainda hoje de uma grande beleza natural. Era um dos lugares prediletos de Jesus. Foi ali, às margens desse lago, que Ele explicou aos seus discípulos as parábolas do reino de Deus, cuja formosura será maior ainda do que a de toda a natureza. E foi ali, nesse lago de Genesaré, que Jesus realizou o maior número dos seus milagres, pelos quais Ele mostra que o reino de Deus não é um belo sonho, mas uma realidade poderosa. Em toda a parte, onde Jesus aparecia, se aproximavam dele os que sofriam, os doentes em corpo e alma, e dele esperavam auxílio. 

O homem, do qual se trata na nossa história, era um surdo e mudo. Ele não vem sozinho. Ele tem que ser trazido a Jesus. Tal é a sua miséria que ele de si mesmo nem acha o caminho para Jesus. Ele é surdo, e como surdo ele nada percebe do mundo em redor de si; ele nunca ouviu alguma coisa sobre Jesus, nunca ouviu a sua palavra. Ele não sabe que há auxílio tão perto dele. Ele depende de outros. De outros depende, se ele recebe ou não auxílio, de outros que se interessem por ele e o levem para Aquele que pode ajudar. Há sempre tais homens que dependem e precisam de outros que se lhes tornem tais próximos. Aqui, o homem na nossa história, tinham que levá-lo pela mão e conduzi-10 a Jesus. Pode suceder hoje o mesmo. Pode ser uma vez essa a nossa tarefa: a de levar 4 alguém, que sozinho não acha o caminho para Jesus ou que não quer percorrê-lo, levá-lo pela mão e conduzi-1o; talvez que o convidemos na solidão; ou, e isso é o mais importante, que juntemos as mãos por ele e o levemos pela oração à presença daquele que unicamente pode ajudar. Também aqui na história pediram pelo doente; imploraram a Jesus que Ele lhe impusesse as mãos. Ele mesmo não podia pedir. Era mudo. Não pode ouvir e não pode falar. n uma solidão completa, na qual vive esse homem. E nós nos lembramos de que não há somente essa surdez e mudez do corpo, mas também a da alma, que há surdos e mudos para com Deus, homens que não ouvem mais a voz de Deus, homens que não falam mais a Deus, sendo que a nossa língua em geral tão hábil e tão loquaz emudece completamente como que petrificada ao se tratar de invocarmos a Deus e darmos a Ele toda a honra. Por isso é bom que ao ouvirmos essa história do surdo e mudo pensemos logo também em nossa surdez e mudez, e que nos deixemos também conduzir para Aquele que pode ajudar. 

E a história do nosso texto continua dizendo que Jesus tirou o homem à parte de entre a multidão. Em muitas outras ocasiões Jesus realizou os seus feitos milagrosos publicamente, perante todo o povo. Se aqui leva o doente à parte, tirando-o da vista da multidão para estar sozinho com ele, certamente isso faz parte da misericórdia e da sabedoria de Deus, que Ele procede com cada um a seu modo, que Deus pode levar um homem que sofre, à parte, justamente por ter os seus planos com ele, planos que nós no momento nem sempre compreendemos, mas que visam o seu bem, a sua salvação.

E também o que segue, o modo pelo qual Jesus ajudou a esse homem, temos de compreender como motivado pela misericórdia de Deus. Jesus põe o seu dedo nos ouvidos do doente e toca com o dedo na sua língua e suspira levantando os seus olhos para o céu. Ele que só precisa dizer uma única palavra — por que aqui procede de um modo tão diferente? O que à nossa razão parece desnecessário, é, no entanto, uma expressão de sua misericordiosa vontade de ajudar. De que outro modo poderia falar a esse surdo-mudo do que por através de gestos? Pondo o seu dedo nos ouvidos dele, Ele chama a atenção do doente como dizendo-lhe: Nestes teus ouvidos agora se realizará alguma coisa! Mas, curado ele foi, não por esses gestos, mas pela palavra que aqui ouvimos em sua forma original, a palavra: Efatá, isso é: Abre-te. 

Mas, antes de pronunciar essa palavra é dito que Jesus suspirou levantando os olhos para o céu. Quer isso dizer que Jesus, para poder ajudar, tem que pedir o auxílio do céu? Certamente é desse auxílio do céu, do auxílio de Deus que se trata nesse levantar dos olhos, mas assim que em Jesus Cristo esse auxílio do céu veio para nós; e o levantar dos olhos é, para falar humanamente, o entendimento, o acordo entre o Filho e o Pai. O Filho está aqui embaixo conosco, não em sua glória divina, mas como homem que carrega com as nossas dores, como homem, sobre o qual foi deitado o peso de toda a miséria e todo o sofrimento humano. Tornou-se o irmão de todos que sofrem, de todos os surdos e mudos, de todos os cegos, de todos os lázaros, de todos os perdidos — o irmão, o Salvador. Por isso Ele suspira, por causa de toda essa aflição do mundo que é sua. E suspirando Ele leva toda a miséria, também a miséria desse pobre homem a quem ninguém pode ajudar, perante a face do Deus da misericórdia. 

Mas Ele, o irmão dos que sofrem, sobre o qual está o fardo de todas as nossas enfermidades, é ao mesmo tempo Aquele que com autoridade divina pode dizer aquela uma palavra que é suficiente, a palavra: Efatá! — Abre-te! E abriram-se os seus ouvidos, e a prisão da língua se desfez, e falava perfeitamente. 

E seria agora inteiramente inútil raciocinarmos sobre se seria possível ou não o que aqui como em toda a parte nos evangelhos nos é relatado como feitos milagrosos de Jesus. Se olhamos para Aquele que realiza esses milagres, se olhamos e percebemos o milagre que é a sua própria pessoa, então não nos admiramos mais, não o acharemos extraordinário e sim, natural que onde Ele está se realizem milagres. Porque onde Ele está, está Deus mesmo entre nós, com todo o seu poder, e lá têm que suceder milagres sobre milagres, e todos eles apenas são sinais que apontam para o verdadeiro grande milagre e mistério, que é Ele mesmo: verdadeiro Deus e verdadeiro homem! Onde Ele está, não é mais natural que haja surdos e mudos, cegos e leprosos; não é mais a miséria e o sofrimento e a morte um fato, com o qual só nos resta conformar-nos. Mas é natural, sim, que tudo torna a ser em pureza e perfeição assim como Deus o quis. Eis que eu faço tudo novo, (Ap. 21.5) 

E quem ouvir bem o que aqui deve ser ouvido, só poderá juntar a sua voz ao louvor de Deus dizendo com a multidão na nossa história: Ele fez tudo bem! Aos surdos Ele faz ouvir, e aos mudos Ele faz falar. E ele levará consigo essa palavra do auxílio de Deus e viverá a sua vida com uma grande esperança. Se Deus é misericordioso e em sua misericórdia olha para nós, se compadece de nós em Jesus Cristo, como nos é anunciado no Evangelho, não está então de fato tudo bem? 

Mas, toda a aflição, toda a miséria e sofrimento no mundo? Sim, é justamente essa aflição e essa miséria, para a qual Ele olhou, da qual se compadeceu, e a qual Ele mesmo tomou sobre si. E por haver agora auxílio, por haver salvação em Jesus Cristo, por isso somos convidados a agradecer e louvar em esperança: Ele fez tudo bem! 

Deus abra também os nossos ouvidos, para que possamos ouvir a sua palavra em Jesus Cristo, palavra do auxílio do céu que veio para nós. E Deus nos ajude, para que se desfaça também a prisão de nossa língua, para que possamos render-lhe graças e louvores: Sim, Ele fez tudo bem!

Pastor Ernesto Schlieper

12 de Novembro de 1950 (23o Domingo após Trindade), Porto Alegre 

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS

 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 24º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 7 / Versículo Inicial: 31 / Versículo Final: 37
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19715
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