Marcos 7.1-8; 14-15; 21-23

A tradição e o acesso a Deus.

30/08/2015

Marcos 7.1-8; 14-15; 21-23

A tradição e o acesso a Deus.

Prezada Comunidade:

É um antigo consenso considerar que o essencial de uma religião está em cumprir com seus rituais. Por exemplo: até os anos 1960 era comum para as mulheres cobrir a cabeça quando entravam na igreja. Os homens quando entravam na igreja descobriam a cabeça tirando o chapéu. Além disso, sempre se ensinou que o homem é a cabeça da mulher.

A argumentação é que isso estava escrito na Bíblia. Vamos ler 1Co 11.1-16

Esse texto é um relato de costumes culturais, de tradição. Muitas vezes se usa esse texto para justificar a superioridade do homem sobre a mulher. Mas veja o que diz o versículo 16:

Mas, se alguém quer ser contencioso (discutir sobre esse assunto) saiba que nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus.

No Equador certa vez fui a uma mesquita – e perguntei ao imã se eu poderia entrar no templo para orar. Ele me disse que sim, mas que antes eu deveria me lavar. Ele me levou até o lado da mesquita. Havia várias torneiras. Tive que tirar os sapatos, e ele me mostrava a maneira correta de lavar os pés, as mãos, os cotovelos e o rosto. Depois disso, eu pude entrar na mesquita. Ou seja, eu tinha que estar limpo antes de me aproximar de Deus.

No Evangelho de hoje, Jesus nos quer ajudar diferenciar entre o que nos ajuda a ter acesso a Deus e o que nos atrapalha. De maneira específica, Jesus nos apresenta uma contenda sobre o costume dos judeus de lavar as mãos antes de comer. É um gesto que a maioria de nós fazemos hoje. É higiênico e bom para a saúde, lavar as mãos antes de comer. Não tem nada de mal.

O problema é que esse gesto deixou de ser apenas higiênico e passou a ser um obrigação religiosa. Quem não lavava as mãos antes de comer são os impuros, os pecadores, pessoas inferiores que não são como nós. Nós somos os puros e os que não são como nós são os impuros.

Jesus questiona esse pensamento que estava por trás do gesto de lavar as mãos. Se deixamos de praticar determinado costume, então deixamos de ter acesso a Deus. Jesus questiona isso porque a tradição não pode impedir as pessoas de aproximar de Deus.

Para Jesus você tem acesso a Deus mesmo não se sentido limpo ou puro. Mesmo se sentido uma pessoa pecadora, Deus quer receber você. Ele quer melhorar a tua vida daqui para frente. O passado deve ser visto como lição aprendida. E se for visto assim, como lição aprendida, tudo será perdoado por Deus. O importante será a tua relação com Deus daqui para frente.

A tradição é boa quando ela ajuda as pessoas a se aproximar de Deus. A tradição é boa quando cria laços de solidariedade, de identidade, não o contrário. A tradição é valiosa quando nos leva a ser misericordiosos, bondosos, generosos com os outros. Portanto, a tradição é boa quando é brasa viva, que nos movimenta, que nos ajuda a entender mais amplamente o amor de Deus. Acender uma vela, ter um crucifixo na parede, montar um presépio na sala, não comer carne vermelha na semana santa, não tomar café da manhã antes da santa ceia, tudo isso pode ser usado se isso vai te ajudar a sentir mais próxima a presença de Deus. Mas, saiba que Deus não precisa de nada disso. Que você pode se aproximar de Deus assim como você é.

Jesus ensina que o mais importante é a sinceridade do nosso coração. A presença de Deus em nossas vidas deve produzir consequências futuras em nossas vidas. Por isso, temos insistido que o abraço da paz em nossos cultos seja dado depois de tomar a santa ceia. A presença de Cristo em nossas vidas nos deve levar a atitudes de acolhida, de amor. Jesus nos ensina que o acesso a Deus acontece através das pessoas. A maneira como tratamos os outros vai definir nosso acessa Deus. Se o nosso Deus é um Deus de amor, então o que devemos fazer é imitar a esse Deus, amando-nos uns aos outros.

Lavar as mãos antes de comer é importante. É higiênico. Mas isso não tem nada que ver com pureza ou impureza. É isso que Jesus questiona. Uma pessoa que ama a Deus deveria se perguntar porque nem todas as pessoas conseguem se alimentar? Qual é a causa da fome?

Portanto, Jesus quer saber o que vamos fazer com o amor de Deus daqui para frente. É a nova vida em Cristo – daqui para frente – que realmente importa.

Muitas histórias nos ajudam a entender esse processo. Como por exemplo a história das 3 peneiras, atribuída ao filósofo Sócrates. (seria bom ter três peneiras como recurso didático e mostra-las para a Comunidade)
As três peneiras ...

Um homem, procurou um sábio e disse-lhe:
- Preciso contar-lhe algo sobre alguém! Você não imagina o que me contaram a respeito de...
Nem chegou a terminar a frase, quando Sócrates ergueu os olhos do livro que lia e perguntou: - Espere um pouco. O que vai me contar já passou pelo crivo das três peneiras?
- Peneiras? Que peneiras?
- Sim. A primeira é a da verdade. Você tem certeza de que o que vai me contar é absolutamente verdadeiro?
- Não. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram!
- Então suas palavras já não passaram a primeira peneira. Vamos então para a segunda peneira: a bondade. O que vai me contar, gostaria que os outros também dissessem a seu respeito?
- Não! Absolutamente, não! - Então suas palavras não passaram também pela segunda peneira. Vamos agora para a terceira peneira: a necessidade. Você acha mesmo necessário contar-me esse fato, ou mesmo passá-lo adiante? Resolve alguma coisa? Ajuda alguém? Melhora alguma coisa?
- Não...
- Se passar pelas três peneiras, conte! Tanto eu, quanto você e os outros iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o ambiente e fomentar a discórdia entre as pessoas. Devemos ser sempre a estação terminal de qualquer comentário infeliz! Da próxima vez que ouvir algo, antes de ceder ao impulso de passá-lo adiante, submeta-o ao crivo das três peneiras.

Que o amor de Deus, que excede todo o nosso entendimento, guarde os nossos corações e nossas mentes e nos ajude a praticar a sua vontade no meio de nós.
Amém.


 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 7 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 34661
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Devemos orar com tanto vigor como se tudo dependesse de Deus e trabalhar com tanta dedicação como se tudo dependesse de nosso esforço.
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