CRISTO ESTA CONOSCO
Marcos 16. 19
Perguntamos hoje, no dia da Ascensão, o que quer a cristandade dizer com as palavras do 2º. artigo do Credo Apostólico: que Jesus Cristo subiu ao céu, onde está assentado à direita de Deus. Onde fica este céu, e onde fica a direita de Deus?
Já no Velho Testamento encontramos expressa a certeza que Deus não está limitado a um determinado lugar. Toda a terra está cheia de sua glória (Is. 6.3) e: Todo o espaço está cheio do Espírito do Senhor (Sabedoria 1.7). Deus que no princípio criou céu e terra, ainda hoje penetra os espaços infinitos com o seu poder criador. E tudo que nos é visível do imenso universo — astros, nuvens, ventos e ar — nos é uma manifestação do seu poder e de sua sabedoria onipresentes. E o profeta Isaías nos chama para vermos no céu estrelado um sinal da onipotência divina: Levantai ao alto os vossos olhos, e vêde quem criou estas coisas, quem produziu o seu exército, quem a todas chama pelos seus nomes; por causa da grandeza das suas forças e pela fortaleza do seu poder nenhuma faltará. (40.26)
E agora a cristandade diz: Jesus subiu ao céu e assentou-se à direita de Deus. Com isso declara que Jesus participa dessa onipresença e onipotência de Deus. O seu reino não é limitado a pobres e pequenos corações humanos, mas abrange todo o universo, tudo o que é visível e invisível. Todo o poder no céu e na terra é dele. (Mt. 28.18)
Como Deus pode estar no mais pequeno dos grãos de sementes, e ao mesmo tempo é tão grande, que todo o universo não o pode compreender, assim também Cristo: Ele está presente, conforme a sua promissão, no pequeno pedaço de pão na Santa Ceia; Ele está presente em qualquer lugar, onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome, e é ao mesmo tempo maior do que todos os espaços. É toda a plenitude de Deus que Cristo assumiu com a Ascensão.
O que isso significa, pode-se explicar em quatro direções: Cristo subiu para o seu Pai, voltou para o trono da glória celeste. Aquele que se humilhara a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte na cruz, foi elevado soberanamente, e foi lhe dado o nome que está sobre todo outro nome. É o ponto culminante do caminho de Jesus.
Mas este Cristo, que foi elevado para o céu, é ao mesmo tempo o Senhor de sua Igreja na terra, é a cabeça do seu corpo terrestre. Se Cristo, pela sua Ascensão, assumiu todo o poder no céu e na terra, este seu poder se manifesta ativo principalmente na sua comunidade, da qual Ele é Rei e doador de toda a vida. Porque nisso consiste substancialmente toda a vida da Igreja, que Cristo, livre de todos os limites da existência humana, está, presente em sua Igreja, que Ele pelos membros de sua comunidade como membros do seu corpo realiza a sua obra na terra.
Ao mesmo tempo, porém, pela Ascensão de Jesus Cristo, por ser Ele o Filho do homem, o céu está aberto para os homens, e a terra ligada ao céu. Os antigos pintores, representando a Ascensão de Jesus, gostaram de mostrar na terra ainda os rastros dos pés, onde o Senhor pela última vez estivera parado, enquanto que o Cristo elevado para o céu, já em sua glória celeste, ainda apresenta os sinais dos pregos nas suas mãos. Jesus, que se tornou verdadeiro homem, nosso irmão, Ele está à direita de Deus, e sobre todos os seus está a sua promissão, que Ele nos levará para si mesmo, para que nós estejamos onde Ele está.
Não teríamos visto toda a significação da Ascensão de Jesus, se não considerássemos ainda a palavra dos anjos. Esse Jesus que dentre vás foi recebido em cima no céu, há de vir assim, como para o céu o vistes ir. (At. 1, 11 b) Pensando no Senhor que foi elevado para o céu, devemos pensar ao mesmo tempo no juízo final que este mesmo Senhor fará sobre este mundo e na salvação definitiva. Agora ainda a nossa vida, a nossa verdadeira vida, está com Cristo escondida em Deus, mas com a sua glória se manifestará também a nossa glória naquele dia que fará tudo novo. Assim a Ascensão de Jesus fortalece a nossa esperança por uma nova vida e por um novo mundo, a esperança pelo eterno reino de Deus. Que esta esperança seja a realidade na qual nós vivemos, a esperança que nos acompanha todos os dias! Que creiamos: Cristo, o Rei da vitória, está conosco, está ao nosso lado para conduzir-nos por através de todas as lutas deste mundo para a nossa verdadeira pátria, para as moradas eternas na casa do Pai!
Dr. Ernesto Th. Schlieper
3 de Maio de 1951 (Ascensão), Porto Alegre
Veja:
Testemunho Evangélico na América Latina
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS