Marcos 16.19-20 - À direita de Deus - Ao lado dos homens

Prédica

24/05/1979

ASCENSÃO
A DIREITA DE DEUS — AO LADO DOS HOMENS
Marcos 16.19-20 (Leitura: Salmo 110)


«O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à direita de Deus.» 

Que falou Jesus aos discípulos? Poderemos verificá-lo nos versículos que antecedem o nosso texto. Ele lhes tinha dado a grande tarefa, a grande comissão: «Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura!» Podemos imaginar que os discípulos ficaram assustados com aquelas palavras. E mais ainda: Depois de lhes ter dado aquela tarefa sobre-humana, Jesus «é recebido no céu.» Vai embora, portanto... 

«Jesus, tu estás pedindo demais de teus discípulos! Esta é uma tarefa, da qual este punhado de homens não vai dar conta. Ir a outros países, falar em outras línguas, enfrentar culturas estranhas, tradições contrárias às deles, enfrentar homens poderosos e inteligentes: não, não poderá dar certo! Vê que são apenas uma dúzia de homens, e, contando bem, verificamos que nem a dúzia está mais completa. Um já caiu fora, vendendo-se por trinta moedas de prata. E os restantes são gente pequena -- pescadores, quase analfabetos. Qual é o capital inicial desta empresa? Onde se encontram os técnicos, os líderes, os estrategistas? Quem vai fazer o planejamento daquele movimento missionário, com o qual tu queres envolver o mundo todo? Jesus tu não conheces os homens! Eles vão brigar entre si. Vão se separar em agrupamentos e seitas. Cada um vai querer ser o mais importante. Ninguém vai querer lavar os pés dos outros... Senhor, enquanto tu estiveste com eles guiando, orientando, liderando aí sim, Aí tu ias em frente e eles seguiam. Mas sozinhos, entregues a si mesmos ... Não. Não poderá dar certo!» 

Sim — se Jesus tivesse ido embora, a tarefa recebida pelos discípulos teria sido uma carga desumana e sobre-humana. Se Jesus tivesse ido embora no dia da Ascensão, teria sido a bancarrota, a falência daquele punhado de cristãos judeus, que se tinham agrupado em redor de seu mestre. — Mas ele não foi embora mesmo? Não diz o nosso texto que ele foi recebido no céu e que assentou-se à direita de Deus? Jesus não desapareceu de suas vistas, não abandonou seu horizonte? Não deixou a terra dos homens para ir viver com os anjos? 

Que vem a ser o céu ao qual Jesus foi elevado? Talvez esta palavrinha seja um dos termos mais difíceis que encontramos na Bíblia. Ao menos para nós, os adultos, Uma criança pequena talvez tenha mais facilidade de entender o que é céu do que nós, os adultos, que estudamos o espaço, que talvez vimos com os próprios olhos aquelas transmissões de televisão que mostraram os astronautas americanos, andando sobre o solo da lua. Nós, que talvez ouvimos aquela palavra do astronauta Gagarin, o qual afirmou que, ao rodear a terra em sua nave espacial, não conseguiu ver nenhum Deus lá em cima .. . 

O céu no qual Cristo foi recebido, não é o céu das estrelas nem o espaço dos astronautas. Não é nenhum lugar no lado de lá da lua, lugar afastado e inacessível. O céu de que a Bíblia fala, não é lugar nenhum e, ao mesmo tempo é «todos os lugares». É mais do que «céu e terra», porque céu e terra não são bastante grandes para que nelas possa caber o poder e a glória de Deus. Céu, portanto, é a manifestação plena, total e ilimitada do poder de Deus. No céu, a vontade de Deus se cumpre e nada mais. E o céu não se acha longe de nós. Ele nos rodeia, nos envolve. Nós, talvez, nos achamos longe dele, Mas isto é conosco, é cegueira nossa, é descrença nossa. Se tivéssemos olhos para ver, se tivéssemos fé «como um grão de mostarda» (Mat. 17), a realidade do céu não seria nada de estranho para nós. 

Não - Cristo não se afastou de seus discípulos, quando foi elevado ao céu. O último versículo do evangelho de Marcos diz expressamente que, enquanto os discípulos iam pregando em toda a parte, o Senhor cooperava com eles, confirmando a palavra por meio de sinais que se seguiam. E o Senhor já lhes tinha prometido muito tempo antes: «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles.» «Não vos deixarei órfãos.» E, segundo o evangelho de Mateus, Jesus disse expressamente, no dia da Ascensão: «Eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.»

Como devemos entender esta presença de Jesus? Às vezes uma pessoa que faz uma longa viagem, diz aos familiares e amigos: «Eu vou partir para longe, mas em meus pensamentos vou estar perto de vocês.» Será que Jesus quer dizer algo parecido? Não. Jesus diz uma coisa bem diferente. Ele não vai estar menos presente do que antes da ascensão. Ele vai estar mais presente. Vai estar presente com poder celestial ilimitado como o próprio Pai Celeste, portanto. E vai estar presente em todos os lugares e em todas as oportunidades, não apenas em um lugar só e em uma data definida, excluindo outros lugares e outras datas. Antes, Jesus só podia estar junto a uma pessoa ou a um grupo de pessoas, de cada vez. Era limitado pelo tempo, pelas distâncias, pelo cansaço, pelas línguas diferentes, por todas as barreiras que existem nesta terra para nós, É verdade, Jesus usou este tempo em que pregava e agia na terra, em que andava pelos caminhos poeirentos da Palestina — para acender o fogo da fé. Plantou o evangelho na terra, limitado pelas fronteiras de Israel. Mas ele não foi que nem um fundador de religião, como Buda ou Maomé, que morreram e deixaram aos seus adeptos a tarefa de propagar a sua doutrina, Pelo contrário: Com o desaparecimento do Cristo visível começam a manifestar-se os sinais de seu Reino em todas as terras. O Espírito Santo rompe as barreiras humanas; o evangelho transborda da Palestina para outros países. Cristo vai demonstrar que ele também vai estar presente na Grécia, na Itália, na Ásia Menor, na Alemanha, nos Estados Unidos, no Brasil em todo o mundo mesmo. Mensageiros autorizados, como os apóstolos Pedro e Paulo, vão levar a boa nova para terras distantes. E Cristo vai lhes mostrar que ele sempre já está presente no lugar onde eles vão pregar — muito antes de seus mensageiros. «Eu tenho um grande povo nesta cidade», ele dirá a Paulo em Corinto. Quando Pedro for à casa do capitão romano Cornélio, ele notará que o Senhor já estivera na mesma casa antes, preparando o terreno para seu evangelho. O Senhor em verdade haverá de confirmar sua palavra por meio de sinais que se seguirão.


Uma voz dentro de nós talvez diga: Será que tudo isto não é uma visão por demais idealista e otimista? Crer na presença de Cristo em todas as situações da história da igreja e da nossa vida pessoal — está bem -- mas: onde estão as coisas escuras existentes na história da igreja cristã e na história da minha própria vida? Onde está a sombra neste quadro de luz? Onde está o diabo, a semear a semente do mal na lavoura de Deus? Será que Cristo não o levou em conta? Será que não levou em conta todas as falhas humanas, a confusão, as divisões que afligiriam o seu povo?

Poderemos ter a certeza que levou. Mas Jesus não fala como alguém que olha para o mal como sendo um abismo desconhecido e assustador. Ele fala do mal como o vencedor fala do inimigo subjugado. Cristo não é hipnotizado pela serpente, conforme a promissão de Deus, que ele cumpriu, morrendo na cruz. E por isso ele pode dizer aos seus discípulos (nos versículos que antecedem nossa passagem): Pegareis em serpentes, expulsareis demónios, e se alguma coisa mortífera beberdes, não vos fará mal, Quer dizer: Cristo conta com os fatos reais: Os demónios, as serpentes, o veneno — tudo vai estar presente na história da igreja. Mas serão poderes vencidos, serão demónios frustrados. Vão se encontrar expulsos daqueles que aceitarem a boa nova da salvação. Haverá veneno: Mas os discípulos de Cristo não vão deixar-se envenenar por dentro, pois eles terão o soro, o contra-veneno que destrói o veneno satânico: o evangelho do perdão e da graça que acabará vencendo os poderes do mal - mesmo que a aparência, às vezes, seja bem outra. Não esqueçamos que Jesus fala como vencedor, que ele já está vendo o mundo de um lugar elevado, de um lugar de glória e poder. Deste lugar ele pode transmitir poder e autoridade aos seus discípulos. E ele não quer que eles, em qualquer situação, se deixem fascinar e impressionar pelo mal, como se o demônio tivesse mais poder do que Deus. Nós, sendo de Cristo, estamos lutando ao lado do vencedor. É bom nos lembrarmos disto sempre — não só no dia da Ascensão. Tal certeza poderá modificar toda a nossa vida. 

E onde estão os sinais que seguem a palavra do Senhor? -- Precisamos abrir os ouvidos e os olhos, porque os sinais existem: Orações que Deus ouve. Pessoas que chegam a crer no evangelho. Homens falhados que se regeneram. Desesperados que vão sendo iluminados pela esperança. Discípulos que amam e que servem -- bem na frente de luta, com os pés na terra mesmo, num mundo marcado por egoísmo, por competição impiedosa e por todas as manifestações do mal e da descrença. E o maior sinal: A palavra de Deus que vai sendo pregada apesar de todas as contrariedades: Luz que brilha no escuro, farol de esperança para barcos perdidos em mar tempestuoso. Os sinais estão presentes, porque o Cristo vivo e glorificado está presente. E assim será até o dia em que a cortina que por ora cobre os nossos olhos, for tirada de nossa frente, até o dia em que virmos o Senhor face a face, no céu, à direita de Deus. 

Oremos: Senhor, teu é o Reino e o poder e a glória. Tu participas do poder de Deus Pai e estás muito perto de nós, para nos fortalecer e para nos amparar. Perdoa-nos, quando nos deixamos apavorar pelas coisas escuras do presente, pela incerteza das coisas futuras. Perdoa-nos, quando nos deixamos contaminar pelo veneno do rancor e da inveja. Perdoa-nos a nossa covardia. Obrigado por nos teres lembrado de que estamos ao lado do vencedor, que está assentado à direita de Deus Pai. Amém.

Veja:

Lindolfo Weingärtner 

Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão

Editora Sinodal

São Leopoldo - RS

 


Autor(a): Lindolfo Weingärtner
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Ascensão

Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 16 / Versículo Inicial: 19 / Versículo Final: 20
Título da publicação: Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19583
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