Marcos 13.1-8

Os profetas do fim do mundo.

13/11/2015


Prezada Comunidade:

No séc. XIV, a peste negra grassou pela Europa. Ratos levados dentro das embarcações que faziam o comércio com o Oriente aportaram em uma Europa com precaríssimas condições de higiene. Suas hospedeiras, as pulgas, muitas vezes contaminadas pela bactéria, morto o rato, buscavam outro lugar para viver e alimentar-se: os seres humanos. E, assim, um terço da população da Europa pereceu. Hoje sabemos que essas doenças podem ser evitadas com saneamento básico, com água e esgoto tratados. Naquele tempo, a Inquisição disse que a peste era um castigo de Deus por causa das mulheres parteiras e curandeiras e começou a caça às bruxas.

Em 12.01.2010, um terremoto arrasou Porto Príncipe, a capital do Haiti, o país mais pobre das Américas. Mais de 250 mil mortos. Muitos corpos não puderam ser resgatados debaixo dos destroços. As igrejas fundamentalistas dos Estados Unidos disseram que o terremoto no Haiti em 2010 foi um castigo de Deus por causa da idolatria do povo haitiano, porque eles praticavam o vodu.

O século XX inaugurou a Guerra Total. Tão traumática foi a Primeira Guerra, que alguns historiadores falam que a Segunda ainda é parte daquela, apenas com alguns anos de lapso. Mas diante das guerras modernas, com armas químicas e que se assemelham a jogos de videogame, com drones que jogam bombas no Iraque, na Síria e no Afeganistão, comandados por soldados que estão numa sala refrigerada em Texas (USA), a milhares de km de distância. Eles já não veem os mortos, mas se entusiasmam quando acertam o alvo.

Na década de 1990, a fome no Sudão e em outras partes da África, foi ocasionada por secas, mas também por guerras. Essa situação levou milhares de pessoas a migrar sem destino. Semelhante ao que vemos com os refugiados da Siria e do Afganistao, milhares de mortos ficaram pelo caminho – muitas delas são crianças. Uma das fotos mais conhecidas dessa época é de uma criança em pele e osso morrendo de fome e de cansaço e um urubu no fundo da foto, esperando a criança morrer. Hoje essa foto se iguala a imagem do menino sírio que foi encontrado morto numa praia da Turquia.

Os profetas do fim do mundo costumam falar dessas situações como o começo do fim do mundo. Muitas vezes eles lembram os textos do livro de Daniel e do Apocalipse, ao lado desse texto bíblico de Marcos 13 para dizer que o que está acontecendo já é parte dos sinais do fim dos tempos e que resta pouco tempo para a conversão a Jesus Cristo. Mas esses profetas do fim do mundo costumam não ler todo o texto bíblico. Eles leem apenas o que causa medo nas pessoas. Não leem quando Jesus diz no mesmo texto: Não tenham medo quando ouvirem isso, ainda não será o fim. (v.7). Tudo isso são somente as primeiras dores do parto (v.8).

Jesus não pregava o fim do mundo. As imagens que temos de uma catástrofe cósmica, com estrelas que caem, sol e lua que se escurecem, etc... isso são formas do Antigo Testamento descrever a caída das divindades que eram adoradas pelos povos vizinhos de Israel. Para o Antigo Testamento, sol e lua normalmente aparecem como divindades pagãs (Dt 4,19-20; Jr 8,2; Ez 8,16), enquanto que as estrelasse astros eram os governantes dos outros povos que se diziam filhos dessas divindades (sol e lua) - ( veja Is 14,12-14; 24,21; Dn 8,10).
Para Jesus mais importante do que anunciar o fim do mundo era falar do efeito libertador do Evangelho. E que esse Evangelho quer nos fazer ver que nada é eterno nesse mundo, as coisas podem se transformar, podem mudar, podem deixar de ser como são.

No ano de 2012 (21.12.2012) se anunciou que o calendário maya esta prevendo o fim do mundo. Vocês lembram disso? Na verdade, os indígenas de América Latina nos ensinam que a vida é constituída de ciclos. Um ciclo se fecha e o outro se abre. A grande sabedoria da vida est[a em compreender as falhas do ciclo anterior, e varrer da sua vida, tudo o que te faz mal. Um novo ciclo traz a possibilidade de deixar para trás as coisas ruins e recomeçar um novo ciclo com uma melhor experiência de vida. Portanto, um novo ciclo é a possibilidade de mudança, de ter uma vida melhor. E isso faz com que a vida seja possível e que tenha continuidade. Esse estado permanente de trasformacoes e de adaptacoes. Quem nao se adapta, quem não consegue mudar, esse se acaba. Os dinossauros eram os animais mais temidos do planeta. Eles se acabaram porque não se adaptaram aos novos ciclos de vida.

Os 4 Evangelhos nos falam do Deus que vem ao encontro do ser humano para transformar a vida das pessoas. Jesus não veio para assustar ninguém com o fim do mundo. Ele veio para falar e mostrar que Deus é um Deus de amor, de misericórdia, de perdão, de possibilidade de recomeços, de uma vida melhor a cada dia. E esses evangelhos nos dizem que a única maneira de conhecer a Jesus é segui-lo. Seguir a Jesus não é ir atrás dele, mas assumir a sua proposta como nossa proposta de vida. Por isso, não se pode seguir a Jesus e promover a mentira, o engano, o medo, a falsidade e a intolerância. Quem promove isso não é um seguidor de Jesus. Por que? Porque o Deus anunciado por Jesus é o Deus do amor, da misericórdia, do perdão. O Deus que quer vida e vida em abundância.

Uma das dificuldades mais importantes consiste em orientar nossa vida para o futuro. Ao falar das mudanças, dos ciclos de vida, normalmente nos enchemos de angústia e de medo diante do novo. O Evangelho nos quer fazer olhar para frente. Não adianta ficar ao lado daquilo que já passou. A vida se vive para frente, não para trás.

A vida está em constante mudança. Crer em Deus, significa confiar que Deus dirige nossos passos e nos apresenta muitas oportunidades para hoje viver de maneira melhor do que vivemos no dia anterior. Por isso, as possibilidades de mudança, o fim dos ciclos de vida, não deveriam significar medo, mas deveriam significar alegria, aquela alegria que se sente antes do parto.

A mensagem de Jesus diante das mudanças necessárias para a continuidade da vida quer dar-nos a segurança que o nosso tempo (chronos) e tudo o que fazemos dentro dele está condicionado, inserido a um tempo maior e soberano que é o tempo de Deus (kairós). Como pessoas cristãs precisamos reconhecer que este tempo de Deus já se iniciou quando Jesus veio ao mundo e tocou a terra, a humanidade com sua eternidade. Portanto, deixemos nos orientar pela vontade de Deus, assumamos o projeto de Jesus como o nosso projeto de vida e entendamos que as mudanças são necessárias para que a vida possa continuar em frente.
Amém.


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 35775
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