Marcos 10.35-45 - Conferência de Obreiros/as do Sínodo Nordeste Gaúcho -21/03/2006

Prédica

21/03/2006

Conferência de Obreiros/as do Sínodo Nordeste Gaúcho
(Casa Matriz de Diaconisas, 21/03/2006)

PREGAÇÃO

Walter Altmann
Pastor Presidente da IECLB

Paz seja convosco da parte daquele que é, que era e que há de vir, nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

Estimadas irmãs, estimados irmãos em Cristo, colegas de ministério!

Neste culto e nesta Conferência de Obreiros/as motivados e guiados pelo lema da IECLB para 2006: “Sirvam uns aos outros, cada qual conforme o dom que recebeu. (1 Pe 4.10). É uma exortação que vale para todos membros da família de Deus, e certamente também vale para quem exerce o ministério com ordenação na Igreja. Ao mesmo tempo, vocês escolheram Marcos 10.35-45 como texto orientador para este culto. Minha pregação, portanto, está baseada nele.

Marcos 10.35-45

Entre vós não é assim.

Essa frase resume a nossa perícope e resume também a natureza de nosso ministério. Claro, ela vem acompanhada da outra frase-resumo:

Quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos.

São duas caras da mesma moeda. Ainda assim, é uma mesma moeda. No entanto, os dois lados são diferentes, têm a sua especificidade. “Entre vós não será assim” faz uma comparação com uma outra realidade bem conhecida: a realidade do poder e da disputa por prestígio e poder. A comunidade de Cristo constitui uma alternativa calorosa a essa realidade dura e fria.

A outra face da moeda apresenta o lado positivo, o lado propositivo: “Quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos.” Vejam a radicalidade da afirmação: “Quem quiser ser o primeiro...”, “... será o servo de todos”. Ou seja: não apenas de alguns, daquelas pessoas que me são mais próximas, daquelas que pensam como eu (ou, pelo menos, parecido). Ou daquelas pessoas que são ativas na comunidade, daquelas que contribuem... Não é esse um dos venenos que mina nossas comunidades e nosso ministério? Isso porque fazemos um monte de distinções (aqui uma pessoa legal, lá uma pessoa cri-cri; aqui um grupo que me apóia, lá um grupo que me critica; aqui pessoas que estão prontas para cooperar na comunidade a todo momento, lá pessoas que se mantêm afastadas, não importa quantos esforços fazemos para atraí-las.

Mas, interessante, Jesus não faz nenhuma distinção dessa natureza. Ele simplesmente diz: “Quem quiser ser o primeiro entre vós, será esse o que vos sirva.” Bem, nós somos gente esperta, bem treinada – teologicamente? ou nas manhas da vida? – e argumentaríamos: “Eu não quero ser o primeiro ou a primeira, quero ser um ou uma numa comunhão de irmãos e irmãs, em que todos juntos procuramos te servir.” Tem algo de verdade e legítimo, mas também pode ser uma esperteza, porque nosso egoísmo individual bem poderia estar sendo substituído por um egoísmo grupal.

Também essa comunhão de irmãos e irmãs, de colegas de ministério, como nós aqui, é chamada não para se comprazer consigo mesma, mas para servir, servir a todos – todas as pessoas. Ou seja: a medida de nosso ministério está lá fora, nas comunidades, melhor ainda: até as fronteiras de nossas comunidades, até mesmo além dessas fronteiras. É um servir a todos, sem distinção. É disso que se trata quando falamos de “vocação”, muitas vezes de uma maneira um tanto sentimentalóide, como se Jesus nos tivesse dado um sentimento muito especial, uma relação privilegiada com ele: “Eu – eu! – fui chamado por ele.” E usamos essa “bela” declaração como arma de defesa diante de qualquer crítica que possamos a vir a sofrer. Não, cada um, cada uma de nós foi vocacionado por Jesus para, para servi-lo nos mais pequeninos, sem pensar em nada além do que nessa incumbência, nessa oportunidade de assim servi-lo.

Bem, com essa perspectiva voltemos ao início de nossa perícope. Tiago e João, filhos de Zebedeu, provocados por uma pergunta de Jesus (“que querem que eu vos faça?”), fazem a ele um pedido: na sua glória, desejam sentar-se à sua direita e à sua esquerda. Normalmente achamos isso um pedido muito pretensioso, extremamente egoísta e particularmente inaceitável. Ou seja: nós costumamos ser exatamente como os outros dez que se indignaram com Tiago e João. De repente, se fazem de tão melhores do que Tiago e João, quando possivelmente só não tenham tido o ânimo, a ousadia de expressar a Jesus seu desejo mais íntimo. Pensam que com seu protesto, e com sua indignação, podem alcançar as graças do mestre, aquelas mesmas graças que Tiago e João pensaram obter com um pedido aberto e franco. Realmente, a esperteza abunda entre os humanos e, portanto, também entre os discípulos de Jesus. Também entre nós.

Comparado a isso, surpreende que a crítica de Jesus a Tiago e João é bem amena, se é que pode ser classificada de crítica. Pois trata-se, muito mais, de um diálogo. Um diálogo que leva ao âmago da fé e do ministério. Jesus não diz: “Vocês não devem pedir algo tão egoísta.” Ele diz: “Vocês não sabem o que estão pedindo.” E isso é algo bem diferente. Em todo caso, bem diferente da postura dos dez. Ou seja: Jesus não emitiu um juízo. É como se dissesse: “Tudo bem, vocês desejam ser os primeiros, vocês desejam ser os melhores. Não está tão errado assim. No ministério devemos nos esforçar, não é algo fácil, e estar próximo de mim, Jesus, é fundamental para o exercício do ministério. Mas será que vocês já se deram conta do que tudo isso implica, do que o ministério de vocês, uma vez desenvolvido com responsabilidade, acarreta? Vocês sabem em que se aventuraram ao me seguir? Vocês, ministros da IECLB sabem o que proferiram ao pronunciar os votos de ordenação?”

Ou seja: Jesus entrou num diálogo poimênico e catequético com Tiago e João, e de quebra os leva a refletir sobre o essencial do ministério: “Vocês podem beber o cálice que eu bebo ou receber o batismo com que eu sou batizado?” Cálice e batismo não são apenas uma referência à eucaristia e ao batismo, aos sacramentos – são também isso –, mas uma referência à morte que Jesus haveria de sofrer. Vocês podem participar dessa realidade, vocês que me pedem para estar à direita e à esquerda minha?

E mais uma vez, algo surpreendente: Tiago e João respondem simplesmente que sim. Que audácia arrogante, diríamos nós ecoando o que àquela altura os dez certamente já estavam pensando! E Jesus nos surpreende ainda mais. Mais uma vez, não critica Tiago e João. Chega a concordar com eles. Sim, isso haverá de acontecer. Tradições antigas da Igreja relatam que a maioria dos doze, por causa do apostolado, veio a sofrer morte violenta, como seu mestre. Mas Jesus também ressalva: “Não me compete conceder o que vocês pedem; é algo para aqueles a quem está preparado. A distribuição dos lugares é algo que está reservado a Deus Pai. Deixem esse assunto com Ele. E, enquanto isso, sigam o desafiante ministério de servir.”

Em troca, o diálogo de Jesus com os dez é mais duro, menos poimênico, mais profético – ou melhor: é poimênico na forma de profético. “Vocês sabem que os que são considerados governadores dos povos – observem: os que são considerados governadores! -, esses têm-nos sob seu domínio.” Bem, não é necessário expandir essa idéia. Basta olhar minimamente ao redor, ao mundo da política, seja em Brasília, seja em Washington, e já entendemos tudo. É luta pelo poder, pela hegemonia, pelo domínio, geralmente enfeitada com belas palavras de servir ao povo, de proteger contra o terror...

E na Igreja seria tão diferente assim? Bem, entre os doze não foi. Seríamos nós a maravilhosa exceção? Não, também entre nós, no exercício do ministério há – infelizmente, por certo, mas melhor é admiti-lo – disputas, intrigas, rasteiras, artimanhas para obter pequenas ou grandes benesses, quem sabe nas tratativas com presbitérios ou outras instâncias da Igreja. Ou, então, quem está em posição de liderança na igreja, aquela tentação de impor a sua vontade...

Contudo, quando nós, talvez com bastante dificuldade, acabamos de reconhecer que essa é a nossa realidade, que isso ocorre também entre nós, esse sentimento e esse desejo se aninham também em nosso coração, precisamente aí Jesus nos surpreende uma vez mais e de maneira extraordinariamente consoladora: “Entre vocês não é assim!” Observem bem: Jesus não diz “entre vocês não deve ser assim”, ele diz “entre vocês não é assim”! E quem quiser ser grande entre vocês – uma aspiração bem compreensível – bem, o caminho para tanto é o servir aos demais irmãos e irmãs. É a diaconia. Bem apropriado o lema da IECLB neste ano: “Servi uns aos outros, cada qual conforme o dom que recebeu.” (1 Pe 4.10)

Ou seja: Jesus deu uma aula de vida, de ministério, mas também uma aula de dogmática: ele ensinou o que é o evangelho e o que são seus frutos. “Entre vocês não é assim” é uma promessa e,enquanto promessa do próprio Jesus, uma realidade efetiva. Na Igreja, na comunhão de irmãos e irmãs há, certamente, disputas e intrigas (cuidado com o ano eleitoral!), mas na Igreja, na comunhão de irmãos e irmãs há, certissimamente, o Evangelho, a Palavra de Deus, o Espírito Santo, os sacramentos. “Entre vocês não é assim!” É a partir dessa realidade, que é graça, graça imerecida, como sempre de novo devemos reaprender, é a partir dela que brotam também a incumbência e o compromisso: de, com nossos dons e toda nossa existência, servirmos, servirmos a todos e a todas. Isso é o nosso ministério. Graças a Deus!

E, naturalmente, nesse ponto vamos entender bem a fundamentação cristológica ao final da perícope: “Pois – pois! – o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” A isso dizemos, gratos e alegres:

Amém.

 


Autor(a): Walter Altmann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Nordeste Gaúcho
Área: Ministério / Nível: Ministério com Ordenação
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações / Instância Nacional: Presidência
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 35 / Versículo Final: 45
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 63008
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