MÃOS QUE AQUECEM O CORAÇÃO

Albrecht Dürer

01/10/2015

Na atualidade estamos vivendo a ditadura da felicidade. Todos correm atrás da felicidade. Observem como meninas e mulheres sofrem porque tem alguns kilos além do manequim ditado pela moda. Pessoas fazem verdadeiros absurdos em nome do sentimento de bem-estar, felicidade e realização pessoal. Somos verdadeiros escravos de sentimentos que a sociedade e o sistema quer nos impor. Todos nós que corremos atrás de uma vida assim nos frustramos porque a vida não é composta somente de sensações de felicidade eterna.

A vida é marcada por altos e baixos, alegrias e tristezas, saúde e doenças. Podemos, em algum momento da vida, trocar palavras rudes com alguém. Neste momento é necessário experimentar o perdão, a paciência e o amor que olha mais para o outro do que para si mesmo. Jesus falou sobre dois mandamentos que resumem os dez: “Escute, povo de Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças.” E o segundo mais importante é este: “Ame os outros como você ama a você mesmo.” Não existe outro mandamento mais importante do que esses dois. Mc 12.29-31.

Esse resumo dos mandamentos é um mandato de Jesus para o desprendimento de si mesmo em favor do outro. Em outras palavras, a minha felicidade reside na felicidade do outro e não o contrário. Caso espere ter este sentimento pleno de felicidade, jamais amarei o próximo e serei um eterno fustrado. Saber-se amado e guardado por alguém pode inverter este caminho que nos leva à escravidão. Quero trazer um exemplo profundamente verdadeiro e que desafia a nós todos num mundo individualista sob a ditadura da felicidade. O texto que segue é a história de Albrecht e Albert Dürer.

No século XV, em uma pequena aldeia perto de Nuremberg, na Alemanha, vivia uma família com vários filhos. Para pôr pão na mesa para todos, o pai trabalhava cerca de 18 horas diárias nas minas de carvão e em qualquer outra coisa que se apresentasse.

Dois de seus filhos tinham um sonho: queriam dedicar-se à pintura, mas sabiam que seu pai jamais poderia enviá-los juntos para estudar na Academia. Depois de muitas noites de conversas e troca de ideias, os dois irmãos chegaram a um acordo: lançariam uma moeda para tirar a sorte e o perdedor trabalharia nas minas para pagar os estudos ao que ganhasse. Ao terminar seus estudos, o ganhador pagaria, então, com a venda de suas obras, os estudos ao que ficara em casa.

Assim, os dois irmãos poderiam ser artistas. Lançaram a moeda num domingo ao sair da Igreja. Um deles, chamado Albrecht , ganhou, e foi estudar pintura em Nüremberg. Então o outro irmão, Albert, começou o perigoso trabalho nas minas, onde permaneceria pelos próximos quatro anos para pagar os estudos de seu irmão, que desde o primeiro momento tornou-se um sucesso na academia.

As gravuras de Albrecht, seus entalhes e seus óleos chegaram a ser muito melhores do que os de muitos de seus professores. Quando se formou, já havia começado a ganhar consideráveis somas com a venda de sua arte.

Quando o jovem artista regressou à sua aldeia, a família Dürer se reuniu para uma ceia festiva em sua homenagem. Ao finalizar a memorável festa, Albrecht se pôs de pé em seu lugar de honra à mesa e propôs um brinde ao seu irmão querido, que tanto havia se sacrificado, trabalhando nas minas para que o seu sonho de estudar se tornasse uma realidade.

E disse: “agora, meu irmão, chegou a tua vez. Agora podes ir a Nuremberg e perseguir teus sonhos, que eu me encarregarei de todos os teus gastos. Todos os olhos se voltaram, cheios de expectativa, para o lugar da mesa que ocupava seu irmão. Mas este, com o rosto molhado de lágrimas, se pôs de pé e disse suavemente: Não, irmão, não posso ir a Nuremberg. É muito tarde para mim. Estes quatro anos de trabalho nas minas destruíram minhas mãos. Cada osso de meus dedos se quebrou pelo menos uma vez e a artrite em minha mão direita tem avançado tanto que me custou trabalho levantar o copo para o teu brinde.

Não poderei trabalhar com delicadas linhas, com o compasso ou com o pergaminho, e não poderei manejar a pena nem o pincel. Não, irmão, para mim já é tarde. Mas estou feliz que minhas mãos disformes tenham servido para que as tuas agora tenham cumprido teu sonho.

Mais de 450 anos se passaram desde esse dia. Hoje, as gravuras, óleos, aquarelas, entalhes e demais obras de Albrecht Dürer podem ser vistos em museus ao redor de todo o mundo.

Para render homenagem ao sacrifício de seu irmão, Albrecht Dürer desenhou suas mãos maltratadas, com as palmas unidas e os dedos apontando ao céu. Chamou a esta poderosa obra simplesmente Mãos, mas o mundo inteiro abriu de imediato seu coração à sua obra de arte e mudou o nome da obra para Mãos que oram.

Na próxima vez em que você vir uma cópia desta obra, olhe-a bem. E que ela sirva para que, quando você se sentir demasiado orgulhoso do que faz e muito seguro de si mesmo, lembre-se de que, na vida, ninguém vive nem deveria sofrer sozinho. A verdadeira felicidade é fazer a outra pessoa feliz nos pequenos gestos do dia a dia. 


Autor(a): Pastor Sinodal Jair Luiz Holzschuh
Âmbito: IECLB / Sinodo: Uruguai
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 35225
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