Mania de grandeza. Entre vocês não pode ser assim! Marcos 10.35-45

14/10/2021

Marcos 10.35-45
Depois Tiago e João, filhos de Zebedeu, chegaram perto de Jesus e disseram: — Mestre, queremos lhe pedir um favor. — O que vocês querem que eu faça para vocês? — perguntou Jesus. Eles responderam: — Quando o senhor sentar-se no trono do seu Reino glorioso, deixe que um de nós se sente à sua direita, e o outro, à sua esquerda.
Jesus respondeu: — Vocês não sabem o que estão pedindo. Por acaso vocês podem beber o cálice que eu vou beber e podem ser batizados como eu vou ser batizado? Eles disseram: — Podemos. Então Jesus disse: — De fato, vocês beberão o cálice que eu vou beber e receberão o batismo com que vou ser batizado. Mas eu não tenho o direito de escolher quem vai sentar à minha direita e à minha esquerda. Pois foi Deus quem preparou esses lugares e ele os dará a quem quiser.
Quando os outros dez discípulos ouviram isso, começaram a ficar zangados com Tiago e João. Então Jesus chamou todos para perto de si e disse: — Como vocês sabem, os governadores dos povos pagãos têm autoridade sobre eles e mandam neles. Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de todos. Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente.

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Enquanto sobem para Jerusalém, Jesus vai anunciando aos seus discípulos o destino doloroso que o espera na capital. Mas, os discípulos não o entendem. Entre eles há uma disputa sobre quem é o mais importante. Tiago e João, os dois irmãos seguiram Jesus desde o início do seu ministério público, são os seus primeiros companheiros, junto com Pedro e André, eles abandonaram tudo, família e profissão, para estar com ele (cf. Mc 1, 16-20).

Eles são filhos de Zebedeu e sua mãe talvez seja Salomé, que provavelmente era irmã de Maria, mãe de Jesus (cf. Mc 15, 40; Mt 27, 56; Jo 19, 25), portanto, Tiago e João podem ser primos de Jesus, seus parentes, pertencentes à família, e, por isso, acham que podem ter direitos de precedência sobre os outros. Portanto, a pretensão dos dois irmãos parte do raciocínio que as relações importam, o “Quem Indica” importa, então é preciso reivindicar o seu peso...


Quando Tiago e João pedem a Jesus para se sentarem, um à sua direita e o outro à sua esquerda, esses discípulos estavam pensando que Jesus estava indo para Jerusalém para tomar o poder. A religião judaica lhes havia falado sobre a promessa de Deus que um dia restauraria o reino de Israel, impondo a sua vontade, a sua Lei, e assim arrancar desse mundo todo tipo de violência, injustiça e atrocidade. A hora da Glória era a hora do julgamento do mundo.

Mas, Jesus, no entanto, fica desalentado com o pedido deles: “Vocês não sabem o que estão pedindo”. E quando Jesus pergunta: Por acaso vocês podem beber o cálice que eu vou beber e podem ser batizados como eu vou ser batizado? Eles respondem afirmativamente. Sim, podemos!

Anos depois desse acontecimento, eles entendem que o mundo vai ter situações totalmente contrárias aos ensinamentos de Jesus. Nesses momentos, é preciso tomar posição, sair da neutralidade e colocar-se ao lado do amor, da vida, da saúde. Onze anos depois da crucificação de Jesus, no ano 44, Tiago foi mosrto à espada pelo rei Herodes Agripa em Jerusalém (cf. At 12, 2), e João, foi exilado e condenado a viver como prisioneiro na ilha de Patmos.

Mas, quando os outros dez discípulos ficaram sabendo desse atrevimento de Tiago e João, pedindo um lugar a esquerda e a direita de Jesus, o ambiente ficou muito tenso. O grupo estava mais agitado que nunca. A ambição os dividiu. Jesus precisa chamar a todos mais perto de si e precisa deixar bem claro o que ele deseja de seus seguidores.

Jesus lembra que as brigas pelo poder são frequentes entre os que querem mandar nesse mundo. O ambiente político está cheio de traições, de luta por favorecimentos pessoais.

Mas Jesus é categórico: Entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, o que queira ser grande entre vós que seja vosso servidor, e o que queira ser primeiro entre vós que seja escravo de todos” (v.43)

Jesus deixa as coisas bem claras. Entre vocês não deve ser assim! A Igreja não deve ser igual ao ambiente político. Os relacionamentos entre os seguidores de Jesus deve ser bem diferente. As pessoas cristãs não devem repetir na Comunidade/ na igreja as estruturas e formas de poder do mundo. Por isso, o presbitério de uma comunidade, as lideranças de grupos na igreja não está ai para mandar, mas estão aí para ajudar o grupo, ajudar a comunidade a cumprir a sua tarefa de ser uma comunidade que agrada a Jesus.

Os seguidores e seguidoras de Jesus - a Igreja de Jesus deve olhar para a realidade, mas para compreender o seu chamado de estar a serviço. A Igreja é uma instituição que deve espelhar o Deus que está a serviço. Qualquer outra busca por poder dentro da igreja, que não seja o poder de servir – é uma atitude que desagrada e decepciona a Jesus.


Portanto, o Evangelho de hoje chama a atenção para as relações humanas e para o comportamento dos seguidores e seguidoras de Jesus. Uma pessoa cristã deve praticar os valores e ensinamentos de Jesus e com isso diferenciar-se do comportamento e dos valores desse mundo.

Geralmente quando escutamos esse texto, é fácil condenar a mania de grandeza de Tiago e João. Mas, não julguemos depressa demais a ambição desses dois irmãos. Esta passagem do evangelho põe-nos na presença de uma pretensão secreta que habita também entre alguns seguidores e seguidoras de Jesus de hoje.

Também hoje Jesus tem muitos discípulos que gostariam de reinar com ele no reino dos céus, mas poucos dispostos a carregar a sua cruz na terra; muitos querem partilhar com ele a sua santidade, mas poucos com ele querem suportar o sofrimento; muitos com ele querem comer e beber, mas poucos com ele querem jejuar. Todos querem alegrar- se com Jesus, e poucos querem sofrer com ele...”
A fé em Jesus deve nos inspirar para o serviço, para a compaixão e para o cuidado. A fé em Jesus precisa promover em nós o florescimento do amor, amor com o qual Deus ama toda a sua criação.

Uma pessoa de fé em Jesus tem posicionamentos e se comporta de uma maneira que chama a atenção na família e na sociedade. Isso não quer dizer que a pessoa cristã precisa se afastar do mundo. Não é isso. Jesus quer que vivamos no mundo, que participemos de tudo que quisermos, mas que sejamos sal e luz, que sejamos notados por nossa maneira de ser, de pensar e de viver.

Uma das coisas que todo mundo nota, é quando uma pessoa cristã se comporta de maneira diferente dos ensinamentos de Jesus. Quando ela ouve falar do amor de Deus, mas ela fala palavras de ódio. Quando ela ouve falar do perdão de Deus, mas ela não se dispõem a perdoar. Quando ela ouve que Deus é o criador da vida, mas ela defende o porte de armas para todas as pessoas.

Sobre essas coisas, Jesus diz hoje: Entre vocês não pode ser assim. Muitas vezes é difícil perdoar alguém que nos fez uma maldade. Perdoar essa pessoa não significa que eu devo ser amigo dela. Se essa pessoa me pedir perdão, isso não significa que eu devo esquecer o mal que ela me fez, mas significa que eu devo dar-lhe uma chance, para que ela demonstre com suas novas atitudes, que ela realmente se arrependeu.

Defender interesses não é errado, mas isso deve ser feito com ética, com competência, não com trapaças e mentiras.

Manifestar sua opinião é necessário e importante, mas não desrespeitando ou ofendendo quem tem uma opinião diferente da minha.

Portanto, Jesus quer chamar a nossa atenção sobre o nosso comportamento no mundo. Jesus quer nos dizer que nossas atitudes e nossa maneira de viver nesse mundo, tem relação com a nossa fé e devem espelhar a qualidade de nossa fé.

E isso é algo muito importante nesse mundo, onde a alma da humanidade está doente. Está doente porque o excesso de materialismo, essa vontade desenfreada de acumular mais e mais e em consequência de consumir mais e mais, diante de milhões e milhões de famintos e sedentos, essa realidade torna nossa alma anêmica e doente

Muitas pessoas já não sentem a dor do outro, muito menos a dor da natureza ultra explorada pela ganância do lucro, à custa da depredação dos ecossistemas.

Muitas pessoas já perderam a inteligência cordial, a sensibilidade pelo padecimento dos outros. De tanta morte e sofrimento, nem mais sabemos chorar face aos milhares que morrem pela violência ou são vitimados pela COVID ou pela fome.

Por isso, Jesus nos lembra hoje que seus seguidores e seguidoras tem um papel muito importante nesse mundo. Devemos resgatar a cordialidade, o respeito, a convivência fraternal na diversidade, a solidariedade entre nós e com quem é de fora. Jesus quer ver em nós pessoas que praticam a sua Palavra durante a semana.

Sempre me chama a atenção quando as crianças e adolescentes batem no vidro do carro parado nas sinaleiras e dizem: “Tio, dá uma moedinha ai”. O correto seria que essa criança//adolescente não precisasse estar aí, pedindo moedas. Mas como seguidor de Jesus, preciso entender que essa criança/adolescente tem razão. Eu sou o tio dela, porque ela é filho(a) de meu irmão, de minha irmã. E por isso, Jesus não espera apenas que eu dê uma moeda, mas que também me empenhe para que os governantes proporcionem oportunidades de trabalho, de estudo e de saúde para todas as pessoas. E nós sabemos que - na maioria das vezes eles não vão fazer isso - se a sociedade não exigir isso deles.

Desta maneira, que a Palavra de Deus alimente a nossa fé e também sempre nos mostre o que Jesus espera de nós. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Paranapanema / Paróquia: Curitiba - Igreja de Cristo
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 35 / Versículo Final: 45
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 64757
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Assim, outros carregam o meu fardo, a força deles é a minha. A fé da minha Igreja socorre-me na perturbação. A oração alheia preocupa-se comigo.
Martim Lutero
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