Estamos na Páscoa. Sofrimento e exaltação caminham ao nosso lado. Dor e alegria, inquietação e paz, humilhação e glória. Cristo veio nos salvar, e de fato salvou, mas pagou alto preço. Com isso nos deixou esperança, mas também necessidade de refletir sobre nossa natureza humana.
A Sexta-feira Santa é um dia de luto, sim. Mas não só. Ela é também o dia de uma grande vergonha. Ela fala de alguém desprezado, vítima de maus tratos, levado para ser morto. E ninguém se importou... Depois ele foi sepultado junto com os malfeitores, embora jamais cometesse crime algum. Esse homem sofreu! Foi ferido em corpo e alma. Sofreu agressões físicas e psíquicas. E a culpa, de quem é? Culpado não era Jesus, culpados eram os outros, eram todos os que despejavam sobre ele sua raiva, suas agressões, seu cinismo. Aparentemente eles tiveram prazer em torturar uma vítima. Jesus estava indefeso.
Tudo o que lemos será apenas um retrato do passado? Quem afirma isso se engana. Penso nos crimes cometidos por gangues nas nossas cidades, violência contra idosos, agressões nas ruas, mortes de crianças, mulheres indefesas. Penso enfim na praga do bullying entre jovens e adolescentes, para o que é usado cada vez mais a internet, o facebook. Algo análogo acontece através do mobbing no lugar de trabalho. Pessoas são perseguidas, humilhadas e brutalmente demolidas. Acontecem coisas chocantes nesse mundo, produzindo horror, temor, sofrimento. Que vergonha para uma sociedade que se pretende civilizada!
Mas nem só de dor fala este tempo de Páscoa. Deus agiu em seu servo, vai exaltou Jesus, o colocou em lugar de honra. Por ele ter se humilhado, Deus o engrandeceu. Assim, por obra de Deus, Jesus ressuscitou. Aconteceu o que o profeta Isaías havia prenunciado, ele ocupou um lugar de honra (53.12). Cumpriu-se a promessa que dizia ele será louvado e receberá muitas homenagens (52.13). Ou para dizê-lo em termos do Novo Testamento: Por isto Deus deu a Jesus a mais alta honra para que ao nome de Jesus todas as criaturas... caiam de joelhos (Fp 2.9s).
No domingo de Páscoa vivemos mais uma vez esse dia de vida eterna. Queremos exclamar: ele está vivo, ele está vivo! Porém, não podemos esquecer da morte, nem do seu por que. Nem das nossas atitudes que causam a morte de nossos semelhantes hoje. Não esquecemos da nossa vergonha estampada em Jesus. Por isso precisamos da páscoa. Precisamos saber que da morte surge a vida para aqueles que o temem. Nós pecadores esperamos mais uma vez para viver o grande dia de retornarmos para Deus. Todos podemos voltar para Deus. Deixar nossos maus caminhos, maus exemplos, nossas palavras más, nosso mau agir. Voltemos para Deus, pois ele deseja fazer de nós novas criaturas. Isso é Páscoa, isso é sacrifício, isso é ressureição, graça e chamado para todos nós.
Oremos: Senhor, guia minha vida para que possa espelhar minhas atitudes em Cristo. Não me deixe ferir, agredir ou humilhar as pessoas que estão a minha volta. Ajuda-me, Senhor, a estender a mão em direção às vítimas de tormentos nos dias de hoje. Auxilia-me, meu Pai, a matar diariamente o mal dentro de mim e ressuscitar o teu amor em meu coração. Amém.
(Texto construído a partir da pregação do Prof. Dr. Gottfried Brakemeier, em http://www.predigten.uni-goettingen.de/predigt.php?id=3446&kennung=20120406pt)
