É tempo de Quaresma: discípulos e discípulas de Jesus Cristo são lembrados, e isto sempre de novo, do sofrimento, das dores e feridas experimentadas pelo amado e verdadeiro Filho de Deus. É muito difícil que a razão humana compreenda tamanha paixão e saiba conviver com a dimensão da vergonha sofrida.
Crer em Deus, que sofre a tortura sob a coroa de espinhos; não será uma imagem impossível e paradoxal? O mundo religioso dos nossos dias aplica imagens de um deus ex machina, como se Deus fosse, de fato, uma máquina: um poder que oferece solução para todos os problemas ou que atua positivamente quando as forças humanas estiverem á beira do fracasso. O Deus da Bíblia não está nos limites das possibilidades humanas. Na realidade, Ele ocupa o centro da vida, é o eixo do Universo. O lugar da Igreja não está na fronteira, quando as possibilidades humanas falham, mas ela deve estar no centro da vila, da roça e da cidade, para servir, acolher, ser Igreja da Esperança!
O tempo da Paixão confronta com a realidade do Deus que nos abandona e que deixa de viver no mundo. Deus permite que seja, na cruz, expulso deste mundo.
Porém, o Deus que abandona o mundo é aquele que está conosco. “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste”? o mundo, de aparência emancipada de Deus, vive como se Deus não existisse. Nessa situação de pessoas que prezam a autonomia, independência e a liberdade, reconhecemos a verdadeira situação de humanos. A cada novo dia vimo-nos colocados diante do desafio de viver como pessoas que se arranjam sozinhas na vida, sem o próximo e seu Deus.
O Evangelho faz compreender que Cristo, o Messias, não ajuda graças à sua onipresença, mas em razão da sua fraqueza e do seu sofrimento. O Deus da Bíblia é aquele que nos conduz à descoberta da impotência de Deus e identifica o sofrimento em favor da humanidade. Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas doenças: Mateus 8.17.
Somente o Deus sofredor pode ajudar. O tempo da Quaresma oferece lições importantes. Jesus Cristo, o Médico, o Salvador antes de ser médico de almas, o curador de feridas é o Deus abandonado, que chora e sofre sob a s feridas da coroa de espinhos. A Igreja consciente da sua vocação ecumênica, antes de ter respostas a todos e a tudo, se identifica como família que promove comunhão fraterna: sente-se enviada ao mundo para servir. Igreja que serve, SERVE!
Quanto maior nossa expressão de humanidade, tanto maior será a vivência, sob a graça e a misericórdia do Deus. A Páscoa, então, se desenha no horizonte como sol que irradia coragem, alegria, consolo e esperança. Uma feliz e abençoada Páscoa!
Manfredo Siegle
Pastor Sinodal do Sínodo Norte-Catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Diocese Informa - 04/2009