Lucas 4.14-21 - Ano de aceitação

Prédica

01/01/1979

ANO NOVO (ou domingo após)
ANO DE ACEITAÇÃO
Lucas 4.14-21 (Leitura: Salmo 100)


«Feliz ano novo!» — «Um bom ano novo para você!» Assim nos cumprimentamos nestes primeiros dias do ano. Os cartões de felicitações que alguns costumam enviar aos amigos, por ocasião dos dias festivos, costumam desejar, além do «feliz Na-tal», um «próspero ano novo». Sermos felizes e prósperos — este seria, então, o desejo íntimo de nós todos. Felizes e bem sucedidos. Trezentos e sessenta e cinco dias vividos sem problemas financeiros, sem problemas de saúde, sem problemas familiares ou profissionais. Trezentos e sessenta e cinco dias de bem-estar, de trabalho, de descanso, de amor, de amizade, de horas festivas.

Nada de errado com tais desejos. O coração tem uma sede inata de felicidade. E esta vontade de ser feliz, afinal de contas, lhe foi implantada pelo Criador. Mas a pergunta é, se este desejo geral de um «feliz ano novo» não revela uma inquietação interna de todos nós. Uma inquietação que nos vem dos anos passados, que não foram tão felizes assim, que nos trouxeram problemas e surpresas dolorosas. Uma inquietação, que é fruto da grande incerteza em que vivemos. Talvez, bem por dentro, todos nós saibamos que o «feliz e próspero ano novo» não passa de um sonho. Que a realidade é bem diferente. Que haverá crises econômicas e outras, Que os preços vão subir, que a inflação vai se acentuar, que o País vai viver dias críticos, que os partidos e as classes vão se combater e se acusar. Que os 365 dias do ano serão dias de incertezas e de possibilidades de azar. Sendo assim, quem sabe, o nosso «feliz e próspero ano novo» seria uma espécie de oração, uma intercessão pelos outros — para que não venham a ser vítimas do azar? — Mas onde estaria Deus, nesta oração? Ou o nosso desejo seria antes uma espécie de fórmula mágica, uma benzedura contra o azar, que poderá vir sobre nós? 

Nós sabemos que a Bíblia não é um livro que dá receitas para uma vida dita «feliz e próspera.» A Bíblia não prega uma mensagem otimista, quanto ao futuro que nos aguarda. Ela fala de guerras e de clamor de guerras, de terremotos e de fomes que haverão de vir sobre o mundo. Fala da grande tribulação que marcará os últimos tempos. Ela aponta para a cruz de Jesus Cristo, como sendo uma realidade bem palpável, que marca este mundo e que não faremos bem em ignorar. 

Mas apesar desta realidade escura e inquietante que a Bíblia nos aponta, ela aponta também, e com a mesma clareza, uma outra realidade: A realidade do evangelho. A mensagem alegre, a boa nova de Deus, em meio à inquietude e à angústia de nossa vida. Assim, bem no centro da passagem bíblica que lemos há poucos minutos, vem escrito que Jesus, cumprindo uma antiga profecia, veio «para apregoar o ano aceitável do Senhor». Ano aceitável — entendemos bem! Não é um ano mais ou menos aceitável, de nossa parte. É um ano de aceitação. Um ano em que Deus nos aceita e em que nós aceitamos Deus e o que ele nos manda. Um ano em que acabou a revolta, a inquietude, a rejeição. Um ano aceitável isto é, um ano de paz. Um ano de paz é mais do que um ano feliz e próspero. Porque «paz», na Bíblia, é fruto da reconciliação com Deus. E foi isto que Jesus trouxe — no ano em que morreu e ressuscitou, e é isto que ele nos traz, no ano que acabamos de iniciar. E por isso faremos bem em levantar nossas cabeças e em abrir nossos ouvidos e nossos corações para o evangelho de Cristo, hoje e em cada um dos 365 dias, ou tantos, quantos Deus nos quiser dar no ano que iniciamos. O evangelho é como o arco-íris, o sinal da aliança, a brilhar em meio a nuvens negras. É que nem a estrela que brilhou na noite de Natal. É bom sabermos isto. Deus costuma escrever sua mensagem de amor para conosco — sobre um fundo escuro. Se tal fundo escuro aparecer neste ano, lembremo-nos que poderá bem ser um simples cartão que Deus esteja preparando para nos escrever o seu voto de um ano aceitável, e mais do que isto, de nos oferecer aceitação, perdão e paz. 

Sigamos os versículos de nossa passagem bíblica para que esta mensagem nos fique mais clara. Soletremos as frases, letra por letra! Não leiamos por cima, como se fôssemos entendidos no assunto, como se fôssemos doutores da lei, para os quais não há mais novidade na Bíblia. Lembremo-nos de que um discípulo é um aprendiz, que está cursando o Mobral de Cristo e que este curso não só durará este ano, mas que durará todos. os anos de nossa vida. — Nós lemos que Jesus voltou para a Galiléia, no poder do Espírito, e que ensinava nas sinagogas, isto é, nos centros das comunidades judaicas. Esta será a primeira lição que queremos aprender, aprendizes de Cristo, que somos: Jesus vai e vem, fala e age no poder do Espírito. Ele não ensina sua própria doutrina. Não inventa algum caminho novo para os homens, sem perguntar pelo caminho que Deus preparou para eles. Anuncia o caminho de Deus, por ele mesmo ser o caminho de Deus. 

Jesus fala com autoridade, porque o poder do Espírito está com ele. Não fala assim como os fariseus e os escribas falam. Eles apenas ensinam, dizendo ao povo o que vem escrito na Bíblia. Isso faz diferença. Ainda hoje, a pregação do evangelho vivo só pode ser feita no poder do Espírito Santo. Onde ele não estiver agindo, uma comunidade será que nem um fogão sem fogo. Peçamos ao Senhor que ele implante hoje o seu evangelho em nossos corações, pelo poder de seu Espírito! 

«Indo para Nazaré, onde fora criado, Jesus entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.» — Aprendamos aqui uma segunda lição: O poder do Espírito leva Jesus a abrir a Bíblia e a explicá-la para o povo. O Espírito Santo, então, age através da pregação. Ele usa a palavra da Bíblia para falar aos homens. Não passa por cima da Bíblia. Também em nossos dias, o Espírito Santo faz uso deste livro para criar a fé e para transformar a vida das pessoas. O Espírito Santo não age sem a palavra do evangelho, e a Bíblia seria um livro morto, se nela não agisse o poder do Espírito. Graças a Deus, por termos a Escritura Sagrada! Graças a Deus, por nos dar o seu Espírito Santo, que nos faz entender e aceitar a mensagem contida nela! 

E Jesus lê um trecho do profeta Isaías (61,1-2): «O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos pobres; enviou-me para proclamar Libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitável do Senhor.» E, depois de ter lido, se assenta, dizendo simplesmente: «Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.» — Esta será, então, a terceira lição que queremos aprender hoje de nosso Mestre: O evangelho não é apenas um ensino sobre Jesus. Jesus é o cumprimento do evangelho. Jesus é o evangelho em pessoa. Ainda hoje, se anunciamos o evangelho de Jesus, anunciamos Jesus, anunciamos sua presença, seu poder, sua ação.

Contamos com sua presença real e pessoal. Os ouvintes da mensagem deverão ser capazes de dizer: A palavra que acabamos de ouvir, se cumpriu. Aconteceu alguma coisa em nossa vida. Encontramos o Salvador, o Cristo de Deus. Os ouvintes do evangelho, hoje, deverão ser capazes de dizer o que disseram aqueles samaritanos, mencionados em João 4: «Já não cremos pelo que disseste, mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo.»

Esta terceira lição tem quatro partes que convém lembrar: 

1. Jesus é enviado para evangelizar os pobres. Os pobres são os que estão de mãos vazias, os que sofrem privação e necessidade, os que sentem no próprio corpo que lhes falta o que é essencial para viver — os que têm fome e sede de justiça, os que foram deixados á margem da estrada pela sociedade. Jesus veio para eles. Veio para lhes trazer o evangelho. A boa nova de que sua pobreza acabou. De que eles são filhos do Reino de Deus, Filhos de um Pai rico e amoroso. Irmãos de Jesus, para cuja mesa são convidados. Você é um destes pobres? Então esta mensagem é para você! 

2. Jesus é enviado «para proclamar libertação aos cativos». Cativos: São os que vivem sem liberdade; certamente não só os que se acham presos, nas cadeias públicas. São, antes, aqueles cuja liberdade foi destruída por poderes que escravizam o homem pelo diabo e seus ajudantes humanos, por paixões e vícios, por doenças e desgraças, por sua própria natureza, afinal, já que nós mesmos somos os nossos piores tiranos, e a prisão que nós fabricamos com as grades de nosso egoísmo, é a pior de todas as cadeias. Você é um destes cativos? Então esta mensagem é para você! 

3. Jesus veio para restaurar a vista aos cegos. Cegos são os que não vêem, que são incapazes de reconhecer a realidade. Os que, tateando no escuro, fiando-se em sua luz própria, em sua inteligência, sua filosofia, se embrulham sempre mais no cipoal do erro, da dúvida, dos caminhos enganosos. Cegos que perderam o contato com a realidade de Deus. Você é um destes cegos, que tem saudade da luz de Deus? Então esta mensagem é para você! 

4. Jesus veio para pôr em liberdade os oprimidos: Mais uma vez: liberdade! Liberdade verdadeira, trazida por Jesus. Liberdade aos oprimidos, aos que têm um peso por cima de si, que se arrastam pela vida, que não conseguem andar de leve, felizes e alegres. Ai dos poderes que oprimem! Eles terão de enfrentar Jesus. Benditos aqueles oprimidos, aqueles deprimidos, que encontrarem o verdadeiro Libertador! Ele não lhes vai só anunciar a liberdade. Ele os vai pôr em liberdade! Você se sente oprimido acha que é um bóia-fria neste mundo de Deus, que está carregando uma carga insuportável? Então esta mensagem é para você! 

Um feliz ano novo? Um próspero ano novo? — Antes um ano aceitável, um ano de aceitação! Um ano de Jesus, um ano iluminado por seu evangelho! Um ano de libertação e de luz! Um ano do Senhor, afinal, para você e para todos os que necessitam de um Salvador! 

Oremos: Jesus, nosso Redentor: Nós acabamos de ouvir a boa mensagem do ano de aceitação. Obrigado, Senhor, por tua presença em nossa vida tão ameaçada e tão inquieta. Obrigado por teu amor aos pobres, aos cativos, aos cegos, aos oprimidos. Ajuda-nos para que nós mesmos possamos viver em tua liberdade. Ajuda-nos para que possamos tirar a carga de outros, passando adiante a boa nova da libertação. Que este ano seja teu, e que nós possamos estar contigo — hoje e sempre. E que possamos estar ao lado de todos os que tu amas. Ao lado dos que sofrem injustiça. Ao lado dos pobres, dos doentes, dos infelizes. Faze-nos viver em teu amor. Amém.

Veja:
Lindolfo Weingärtner
Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Lindolfo Weingärtner
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Ano Novo

Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 14 / Versículo Final: 21
Título da publicação: Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19591
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Cada qual deve se tornar para o outro como que um Cristo, para que sejamos Cristos um para o outro e o próprio Cristo esteja em todos, isto é, para que sejamos verdadeiros cristãos.
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