Lucas 4.1-15 Quaresma

Tentação de Jesus

17/02/2013

Pregação: Lucas 4.1-15 (Tentação de Jesus)


Saudação do púlpito: Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Deus Criador e a comunhão do Santo Espírito sejam conosco.
 

Quando eu era menina, a professora de português sempre orientava, dizendo: Ao escrever um texto, uma redação, observem que ela tenha começo, meio e fim.
 

A vida da gente também tem começo, meio e fim. O começo de nossa vida está, ainda, no ventre de nossa mãe. O meio ou a vida em si é um tempo bastante incerto. Muitas coisas acontecem como conseqüência de nossas decisões; outras estão além de nosso poder de decisão. O fim da vida é certo: ela se encerra com a morte. A ocasião de nossa morte, no entanto, permanece desconhecida. Nossa história acontece, pois, neste espaço de tempo, entre a gestação e a morte.
 

Lembrei-me das aulas de português quando li o texto bíblico de hoje. Ele também tem um começo, meio e fim. Mais do que isso: o relato do acontecido com Jesus conforme o evangelista Lucas tem um fio vermelho que perpassa o acontecido do início ao fim: O texto inicia dizendo que JESUS ESTAVA CHEIO DO ESPÍRITO SANTO e foi levado ao deserto pelo ES - o ES permaneceu com Jesus no deserto – e termina dizendo, no v.14, que Jesus voltou à região da Galiléia, e o poder do ES estava com ele. Isto é: Do início ao fim do que nos é relatado o Espírito Santo estava com Jesus!
 

A tentação que Jesus enfrenta acontece ainda antes do início efetivo do seu ministério. Os capítulos 1 e 2 de Lucas nos trazem o relato do nascimento de Jesus. No início do capítulo 3 tomamos conhecimento de que João Batista está anunciando no deserto a vinda do Salvador. Em seguida, ainda no capítulo 3, Jesus se deixa batizar por João Batista junto ao Rio Jordão, na Galileia, e nesse momento o ES desce do céu em forma de pomba e se ouve uma voz que diz: “Tu és meu filho querido e me dás muita alegria.” Logo em seguida, nos é dito que Jesus estava cheio do Espírito Santo e o Espírito Santo o levou ao deserto.
 

Antes, pois, de iniciar seu ministério público de anúncio do Reino de Deus e de sua justiça Jesus passa por uma prova de fogo. Ele é testado! Ele é tentado a desistir e a fugir do seu ministério optando por ocupar-se apenas consigo mesmo: sua fome, sua necessidade, poder e riqueza para si e até mesmo é tentado a desafiar o próprio Deus.


„h O DESERTO na linguagem bíblica é lugar de provação. É um lugar cheio de perigos e dificuldades. O povo de Deus, quando saiu do Egito rumo à terra prometida enfrentou o deserto. No deserto o povo experimentou a proximidade de Deus, mas, também, não resistiu à tentação e foi infiel a Deus.


„h 40 anos foi o tempo que o povo de Israel permaneceu no deserto. Quarenta dias é o tempo que Jesus permanece no deserto, diz o testemunho bíblico. 40 dias foi o tempo do dilúvio. 40 é um número revestido de um significado na Bíblia: indica sempre um tempo de provação na fé e de preparação!
 

„h No “deserto” Jesus foi tentado pelo DIABO. O diabo na linguagem bíblica não é um ser personalizado, com mão, pé, cabeça, mas é o confundidor, o que traz confusão, aquilo que impede que tenhamos o discernimento correto diante das situações na perspectiva do Reino de Deus, que impede que façamos a opção certa. Jesus é tentado a abandonar o seu ministério antes mesmo de começá-lo e a optar apenas por si próprio. Mas o diabo não consegue seduzir Jesus!
 

(1ª TENTAÇÃO) A primeira tentação foi a de transformar pedra em pão. Diante do jejum de Jesus, o diabo propõe uma solução individual para a sua fome: transformar pedra em pão e se satisfazer. Jesus tinha consciência da miséria em que vivia o povo do seu tempo. Sabia que era preciso abraçar o projeto de vida coletivo de Deus pra que houvesse pão para todos, para que houvesse melhor distribuição do alimento e de tudo o que é necessário para viver. Por isso ele responde: “Nem só de pão viverá o ser humano”. O pão para todos virá, sim, em resposta à fidelidade ao projeto de Deus! Jesus não se deixa tentar por satisfazer apenas a sua necessidade de alimento naquele momento. Ele não se deixa seduzir por um pensamento muito comum também em nosso tempo: “Salve-se quem puder”.


Na Boate Kiss, em Santa Maria/RS, muitas pessoas escaparam do incêndio e voltaram para o interior do prédio para ajudar aquelas que ainda se encontravam na boate. Outras tantas, como os taxistas que estavam perto da Boate, vieram especialmente para socorrer pessoas quando tomaram conhecimento do que estava acontecendo. Muitas pessoas foram salvas! Muitas pessoas perderam a vida salvando outras vidas, ou melhor, não se deixaram confundir pelo mal e pelo desejo egoísta de salvar-se apenas a si próprio!


(2ª TENTAÇÃO) O confundidor tenta Jesus pela segunda vez: lhe oferece poder e riqueza. É uma tentação, certamente, muito forte! Muitos se deixam seduzir por ela. Isto nós vemos no esquema de compra de votos de parlamentares conhecido por Mensalão. Costumamos dizer antes das eleições, quando discutimos nossas opções por este ou aquele candidato: A pessoa pode ser muito boa, ética e ter excelentes intenções, mas muitas vezes se deixa corromper porque o meio é corrupto. Jesus não se deixa seduzir pelo poder e pela riqueza. Ele conhece o primeiro mandamento da liberdade: “Eu sou o Senhor, seu Deus, não terás outros deuses além de mim.”
 

(3ª TENTAÇÃO): Finalmente Jesus é tentado a testar o poder do próprio Deus. Do alto do grande templo de Jerusalém o diabo desafia Jesus a pular e ver se Deus vem acudi-lo. Até mesmo utiliza com cinismo palavras da Sagrada Escritura para tentar convencê-lo, falando a linguagem de Jesus. Vejam o cúmulo da situação: Deus é quem tem que provar que ele tem poder para salvar!


Há muitas igrejas que, de forma irresponsável e populista, exigem que Deus mostre sinais de seu poder com hora, data e lugar determinados.
Também é fácil, é cômodo, esperar que alguém venha nos socorrer quando nós agimos de forma irresponsável. É mais ou menos como diz a letra de um samba muito gostoso de se cantar, mas que nos isenta de nossa responsabilidade pessoal. Diz o Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar, vida leva eu!” Assim fica fácil viver se eu não preciso assumir a responsabilidade diante das decisões que me cabem e nem as conseqüências de meus atos!

Jesus responde à tentação citando a Escritura Sagrada pela terceira vez: “Não ponha a prova o Senhor, seu Deus:


(ATUALIZAÇÃO) Queridas irmãs e irmãos em Cristo! Iniciamos na quarta feira de cinzas o tempo de QUARESMA – 40 (!) dias antes da Páscoa. O ministério de Jesus como um todo foi uma verdadeira QUARESMA no sentido bíblico do número quarenta: um tempo de provação e de dificuldades. A morte na cruz era a punição mais cruel utilizada pelos romanos para calar opositores. Jesus tinha conhecimento disso; ele conhecia o risco de falar do Projeto de Vida de Deus em oposição ao Projeto de Morte do Império Romano! Em toda a sua “quaresma”, Jesus resistiu a tentação de abandonar o seu ministério e permaneceu fiel à comunhão que experimentava com o próprio Deus. Na oração que ensinou aos seus seguidores e seguidoras, conhecida por nós como a Oração do Pai Nosso, Jesus nos ensinou a pedirmos a Deus que não caíssemos em tentação. Não nos ensinou a pedir que não sofrêssemos tentação. Vejam bem que Jesus foi conduzido ao deserto pelo próprio Espírito Santo de Deus. Mas em meio às tentações ele não permaneceu sozinho: O Espírito Santo estava com ele.


A nossa força diante da tentação de (1) olharmos somente para nós mesmos e para as nossas necessidades (“Transforma esta pedra em pão!”), (2) de buscarmos poder e riqueza para benefício próprio ou (3) de colocarmos Deus à prova tem dois fundamentos que se entrelaçam: a Palavra de Deus - Jesus invocou as Sagradas Escrituras diante de cada uma das tentações! - e a certeza da presença de Jesus conosco! “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” – disse Jesus.


Que Deus nos ampare em nossas tentações para que permaneçamos fiéis ao seu Projeto de Vida, do início ao fim da nossa vida, e não esqueçamos que o horizonte das pessoas que crêem é a ressurreição!


Autor(a): Scheila dos Santos Dreher
Âmbito: IECLB / Sinodo: Mato Grosso
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19146
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