Lucas 24.13-35

17/04/2009

Estimados irmãos:

Nesta terça-feira, pós-Páscoa, é feito o convite para uma caminhada conjunta.

Não se trata de um passeio em “rota romântica”, tampouco caminho, sob céu azul e sol radiante, rumo a um recanto, na serra gaúcha, ou a determinado refúgio, em enseada, no litoral de Santa Catarina. Trata-se de um caminho marcado por tristeza e incertezas, porém, pontilhado de esperança.

O texto lido nos anima a sermos parceiros de caminho, pessoas diferentes, porém, livres para uma empreitada conjunta; é o caminho trilhado por dois homens ligados ao grupo de Jesus (Lc 24.9).

Entristecidos e decepcionados os dois, Cléopas e o seu companheiro, procuram distância dos acontecimentos na metrópole, em Jerusalém. Seguem estrada afora, uns 11,5 km de Jerusalém distantes, até a localidade de Emaús.

Os fatos, em Jerusalém, deixaram os discípulos confusos. Lucas, o contador da história nos envolve com o seu jeito de narrar. Até parece uma trama típica de novela. Nela nos sentimos inseridos.

Não deixa de ser impressionante o fato de que uma 3ª pessoa se associa na jornada! A 3ª pessoa não é logo reconhecida. O evangelista Lucas é hábil em construir uma ponte, cujos vãos alcançam a história antiga de Israel, história de salvação, cujo manancial nos remete a um dos homens mais conhecidos em Israel, Moisés (Lc 24. 25ss), Moisés é o portador de promessa fantástica, um referencial de esperança. A promessa da salvação culmina e se realiza, plenamente, na Páscoa de Jesus Cristo.

Interpreto a jornada ecumênica promovida pela Comissão Bilateral, em obediência ao mandato do Evangelho, sendo fruto do acontecimento pascal.

É a Páscoa que nos inspira a trilharmos um caminho comum, onde o espírito da convergência remove a enorme pedra (túmulo) da divergência. Somos protagonistas de uma história que testifica o túmulo vazio!

Nesse mosaico da história, não tem faltado momentos de “cegueira”. A cegueira manifestada pelos dois companheiros de Jesus é consoladora, porque vivenciamos igual experiência. São as pedras no caminho, obstáculos que esfriam relacionamentos e emperram avanços. Permanecem marcas e provocam perguntas. Na história da separação, é pertinente a indagação: “Enfim, onde está Jesus”? O Evangelho da Páscoa leva à confiança e embala a esperança. As boas notícias, a respeito do Cristo que vive, anunciam que Ele é companheiro, em torno de uma mesa comum.

Sua presença nem sempre identificada, fortalece a comunhão de irmãos e de irmãs. Em razão da manhã da Páscoa, cujo potencial de vida nova é sem comparação, as suspeitas de um “inverno ecumênico” ou as manifestações das sombras das incertezas se tornam relativas.

Por que não testemunhar que o Filho de Deus o Senhor vivo, sempre esteve conosco e sempre continuará conosco? Não será o “fôlego ecumênico” fruto dessa presença? Vivemos da alegre esperança de que o evento da Páscoa é o marco inicial, a “pedra angular” da história do nosso diálogo.

A caminho de Emaús, a atitude de Jesus foi de paciência. Antes de revelar quem Ele era, é ouvinte tolerante. O Evangelho da Páscoa não leva ninguém a varrer debaixo do tapete, nem a tristeza, tampouco as decepções. Sentimentos e a realidade de resistência podem e devem ser colocados às claras. A caminho, o Evangelho nos faz amadurecer e a “levar as cargas uns dos outros”.

Os acontecimentos, à luz da ressurreição, em Jerusalém e em Emaús, sinalizam um enorme potencial de novidade e de luz. A simbologia das velas e luzes nas celebrações pascais, em comunidades, atesta a “luz da novidade”.

Ao chegarem a Emaús, os dois companheiros de caminhada pedem que o 3º companheiro, estranho e não identificado, entre na casa. Insistem para que se sente à mesa com eles. “Fica conosco, porque já é tarde”. A realidade do “fica conosco mais um pouco” é conhecida nossa. “Fica mais um tempo, só uns minutos ainda”. Foi este o pedido dirigido ao irmão Roger Schutz, de passagem em região na França, onde surgiu a obra de Taizé. “Fica, ainda, um pouco, não vás embora”: é o pedido do idoso solitário ou do enfermo que desconhece o dia de amanhã. “Fica só mais um pouquinho”, é o pedido que a mãe ouve, antes que seja apagada a luz, no quarto da criança.

E Jesus fica! Ele entra na casa e senta à mesa. À medida que o pão é repartido, os caminheiros reconhecem quem os acompanhava: Jesus Cristo. Enorme é a alegria. O Senhor vive! Diante da vivência em casa, os dois retornam depressa a Jerusalém.

O retorno célere a Jerusalém sinaliza que é chegado o “novo futuro”. O que antes era razão de incerteza é transformado, agora, em confiança e novidade.

A presença do Cristo, a caminho, revoluciona um passado de resignação e frustração em presente, onde brotam “sementes de esperança”. Continuam os caminhos de luto, da divisão e das decepções. A presença de Jesus Cristo, que promete companhia, anima e devolve a alegria do convívio e da esperança. Páscoa é o grito de vida nova, início de um novo tempo de espera. Em torno das nossas mesas, de agendas comuns e de diálogo, descortina o novo horizonte!

Desejo que este “novo dia” fortaleça as nossas andanças conjuntas. Que nos dê novo fôlego e determine os nossos planos, em 2009. Juntos, poderemos descobrir o potencial inerente ao diálogo e às promessas da Páscoa.

Na qualidade de membros da comunidade pascal, descobrimos que a Páscoa não se dilui em happy-end. É acontecimento que chama ao discipulado. O testemunho da ressurreição, conforme Marcos 16, não “desce redondo”, o final feliz de uma “história terminal”. As mulheres foram ao túmulo; elas sentem medo, temor, assombro. A fé desafia a não deixarmos essas três mulheres “atoladas” na lama do medo e do espanto.

Creio que a nossa Comissão situa-se, também, diante deste mandato: cooperar para que o temor, o assombro e medo sejam superados, através do poder do amor, do diálogo e do cuidado mútuo!

Sai fortalecida a expectativa diante do Reino de Deus; sai fortalecida a missão da Igreja cristã; torna-se mais forte, transformadora e digna de crédito. Nasce a Igreja da Esperança. Ela respeita a diversidade. Não relativiza e não nivela a história e a tradição. Graças a Deus a perspectiva de uma Igreja ecumênica, Igreja da Esperança, não depende, tão somente, das nossas Comissões e dos nossos planejamentos. É fruto, oferta, é liberdade decorrente da Páscoa!

Pastor Sinodal Manfredo Siegle

Obs.: Reflexão proferida por ocasião da Reunião da Comissão Bilateral Católico Luterana, realizada em Porto Alegre, em 14/4/2009. Leia a notícia, clicando aqui


Autor(a): Portal Luteranos - IECLB
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7908
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Portanto, estejam preparados. Usem a verdade como cinturão. Vistam-se com a couraça da justiça e calcem, como sapatos, a prontidão para anunciar a Boa Notícia de paz.
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