Lucas 20.9-19

Auxílio Homilético

05/04/1992

Prédica: Lucas 20.9-19
Leituras: Isaías 43.16-21 e Filipenses 3.8-14
Autor: Walter Hoppe
Data Litúrgica: 5º Domingo da Quaresma
Data da Pregação: 05/04/1992
Proclamar Libertação - Volume: XVII


1. Introdução

Em nossa tradição litúrgica o 5° Domingo da Quaresma é o domingo de Judica, cujo tema é o cordelro de Deus. Também na série de perícopes agora em uso na nossa igreja, os textos poderiam ser lidos nesta perspectiva. O tema do culto e também da prédica pode ser o mesmo.

A leitura prevista do AT (Is 43.16-21) vê o exílio como castigo de Deus e o novo êxodo, a volta de Israel à sua terra, como sinal do perdão de Deus. É-nos apresentada a restauração completa de Israel e a aniquilação de seu passado. Trata-se de um texto que nos fala da sempre presente justiça misericordiosa de Deus. Também o texto da epístola (Fp 3.8-14) caminha nesta direção, quando aponta para Cristo como obra única para a justificação.

O evangelho sugerido para a pregação conflitua com esta linha de pensamento, quando fala de destruição e substituição do povo escolhido por Deus. O assunto continua sendo a justiça, mas mais no aspecto do juízo no qual o povo de Deus se encontra.

Neste sentido o texto do evangelho tratado por Konings (vide bibliografia) está ligado à temática. Trata-se de Jo 8.1-11, o texto da mulher adúltera, que tem o perdão e a misericórdia de Deus como centro.

Para nós, no entanto, é proposto Lucas 20.9-19, a parábola dos maus lavradores. Somos, de certa forma, roubados da possibilidade de explorar a temática proposta pelas leituras do AT e da epístola. A menos que desenvolvamos toda a prédica a partir do v. 17, onde Jesus é colocado como pedra rejeitada e angular. A prédica é de juízo para a Igreja cristã que vê com descaso o seu testemunho em meio a este mundo.

2. O texto

Nosso texto é uma parábola e como tal é única em seu caráter alegorizante. Apesar dos perigos de uma leitura alegórica o texto aqui o força (v. 19). Também a partir do contexto tal leitura se torna necessária. No cap. 20.1-8 Jesus é perguntado pelo Sinédrio acerca de sua autoridade. Na resposta Jesus se solidariza com João Batista. A isto acrescenta a parábola, onde como em Marcos e Mateus, fala acerca de sua morte e a compara com a morte dos profetas. A pergunta feita pelo Sinédrio é uma armadilha para pegar Jesus. Ele, no entanto, usa o mesmo artifício (20.4) e desmoraliza as autoridades reunidas no Sinédrio, passando ao ataque (vv. 9-19). Acusa as autoridades de se apoderarem do que pertence a Deus (vinha — Is 6.1). l)c pois de muitos profetas (servos que anunciaram a justiça, Deus envia seu próprio filho, o filho amado (Jesus Is 42.1; Lc 3.22). A rejeição e a morte do filho trazem ;i sentença: o povo de Deus, agora congregado em torno de Jesus (pedra — Is 8.14; 28.16; SI 118.22) passa a outros, que não devem tomar posse do reino, mas servi-lo (Rm 9.32; l Pe 2.4). É-nos falado da passagem da fé dos judeus para os gentios. O texto quer de certa forma justificar esta passagem.

Ao falar em vinha, o texto se refere ao povo ao qual Deus teve carinho. A vi nhã que foi arrendada, lembra da responsabilidade que há em dar frutos (Is 5.1-7). Os servos, profetas enviados por Deus, foram rejeitados, espancados, ultrajados e feridos. Foram enviados de volta e de mãos vazias. E, por fim, Deus envia o filho amado (Lc 3.22), Jesus. A comparação termina com a pergunta: Que lhes fará, pois, o dono da vinha? A parábola é de juízo e ameaça. Jesus é apresentado na dupla função de pedra fundamental e de tropeço (vv. 17-18; Is 28.16; 8.14-15; Lc 22.34). A pedra rejeitada se torna fundamental e base para a salvação. Os que ameaçam se tornam ameaçados.

3. A prédica

O texto contém uma plasticidade assustadora. No grupo de jovens onde o trabalhamos, houve um mal-estar já na leitura do mesmo. O conflito social que ele ex piora é algo atual e corre-se o risco de simplesmente transferi-lo para a atualidade e ler o texto de forma moralizante. Creio que tal desenvolvimento da prédica foge por inteiro do conteúdo que o texto quer transmitir.

Também não deveríamos ficar nos lamentando acerca do ocorrido a Jesus, é necessário que nos confrontemos com a nossa responsabilidade de dar frutos. O texto abre assim a possibilidade de denunciar, pois também hoje Jesus continua sendo rejeitado, é pedra de tropeço e de salvação. Assim, acredito que a parábola deveria ser lida e dita a nós. Deveríamos, diante do texto, perguntar-nos e à comunidade, até onde temos feito da eleição de Deus um compromisso de vida? Até onde somente nos preocupamos conosco, em nos manter, e deixamos de dar frutos para o povo faminto pela palavra, faminto pelo reino de Deus e por uma existência de fé? A pergunta central da prédica deve ser: continuamos a tirar a vida de Jesus ou esta mós dando vida? Estamos tornando Jesus vivo ou continuamos a matá-lo?

Passos para a prédica:

1. Incômodo causado na leitura e contexto histórico.
2. A imagem de Deus e seu jeito de ser em Jesus. Apontar para a tarefa que Deus nos confia.
3. Perguntar em nosso testemunho. Época de quaresma; época que acusa.
4. Desafiar para o serviço em prol da vida, serviço que acontece no caminho da cru/.

4. Subsídios litúrgicos

1. Confissão: Senhor Deus, tu novamente nos reúnes e queres falar. Nós não temos muito lugar para ti, nossos pensamentos e ações não te colocam no centro. Pensamos e agimos conforme nossa vontade nos tem ditado. Tu nos enviaste como teus para dentro deste mundo, nós fizemos de teu mundo algo exclusivamente nosso, perdoa-nos Senhor.

2. Oração de coleta: Eterno Deus, somos o teu povo. Tu nos chamaste em teu Filho para o teu serviço. Abre os nossos corações e nossas mentes para ouvir-te; ouve-nos, Senhor. Abençoa com tua santa presença o nosso encontro. Amém.

3. Oração final: Lembrar do compromisso do cristão com seu Senhor e para com o mundo. Após rebuscar o assunto abordado na pregação e frutificá-lo para a intercessão, orar com a comunidade o hino 166 (HPD).

5. Bibliografia

GEORGE, A. Leitura do Evangelho Segundo Lucas. São Paulo, Paulinas, 1982.
JEREMIAS, J. As Parábolas de Jesus. São Paulo, Paulinas, 1980.
YODER, J. H. A Política de Jesus. São Leopoldo, Sinodal, 1988.
KONINGS, J. Espírito e Mensagem da Liturgia Dominical. Petrópolis, Vozes, 1986.
MESTERS, C. Deus, onde estás? Belo Horizonte, Vega, 1976.


Autor(a): Walter Hoppe
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Quaresma
Perfil do Domingo: 5º Domingo na Quaresma
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 20 / Versículo Inicial: 9 / Versículo Final: 19
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1991 / Volume: 17
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17978
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