Lucas 2.1-14(15-20)

Auxílio Homilético

25/12/2019

 

Prédica*: Lucas 2.1-14(15-20)
Leituras: Isaías 9.2-7 e Tito 2.11-14
Autoria: Astor Albrecht
Data Litúrgica: Dia de Natal
Data da Pregação: 25/12/2019
Proclamar Libertação - Volume: XLIV

* Nota do editor: Conforme as Senhas Diárias, o texto bíblico previsto para a prédica é Tito 2.11-14. As demais leituras seguem as mesmas. Portanto a pessoa oficiante pode escolher se a prédica seguirá o texto do evangelho ou das cartas.

Jesus nasceu: sou amado, amada por Deus

1. Introdução

No texto de Isaías 9.2-7, o profeta anuncia o nascimento do Príncipe da Paz. Ele é o descendente de Davi que vai dar liberdade a seu povo e governar em 
justiça e paz. É uma mensagem de alegria e de esperança, uma mensagem que traz luz e libertação. Será assim por causa do amor de Deus (v. 7).

O texto de Tito 2.11-14 faz um resumo da doutrina cristã. Afirma que, neste mundo, é possível viver sensata, justa e piedosamente (v. 12), porque Deus já revelou a sua graça para dar salvação a todas as pessoas. Cristo Jesus é apresentado como nosso grande Deus e Salvador (v. 13), pois ele se deu em nosso favor para sermos seu povo e que faz na terra a sua vontade (v. 14).

O texto indicado para a pregação é Lucas 2.1-14. É um desafio ler essa história tão conhecida como se fosse a primeira vez, ou, então, ouvi-la na simplicidade narrada por Lucas. O presente que Deus dá à humanidade vem sem alarde. Os primeiros que ouviram a notícia do nascimento do Príncipe da Paz foram pastores de ovelhas, que, na época, eram desprezados e considerados como mendigos e até como ladrões. Assim começa o anúncio do evangelho, alcançando aqueles que não são percebidos como dignos. Assim é a graça de Deus. Assim vamos com alegria anunciar a riqueza do evangelho neste Natal.

2. Exegese

A referência cronológica “naqueles dias” não informa o ano do nascimento de Jesus. São as obras historiográficas que procuram informar essas datas. Parece que os evangelistas não estavam preocupados com isso. Seu propósito não era comunicar conhecimento, mas despertar fé. Assim também Lucas relata o nascimento do Salvador de modo simples.

Se em algum momento da história da humanidade houve necessidade de que anjos falassem, foi nesse momento. Do céu viera o Filho de Deus para chamar a si a humanidade. O anjo do Senhor, porém, não se apresenta de modo simples, como o arcanjo Gabriel aparecera a Zacarias lá no templo ou à virgem Maria naquela casa em Nazaré. Agora o esplendor do Senhor, a doxa = glória, o envolvia. Quando a radiante glória da luz do céu rompe a escuridão da terra, temor e pavor são sempre a primeira reação do ser humano mortal e pecador.

O anjo, porém, lhes disse: Não temais (v. 10)! É a primeiríssima mensagem do Natal, muito sucinta e simples. Eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo (v. 10). No texto original consta: eu vos evangelizo, isto é, trago-vos uma alegre notícia. Essa é a primeira característica essencial da nova aliança. A palavra euangelitzesthai = evangelizar ainda é reforçada pelas palavras “grande alegria”. Essa é a segunda característica essencial da nova aliança. E essa grande alegria é intensificada pelo fato dela valer para todo o povo. Essa é a terceira característica da nova aliança: ainda que os pastores a tenham acolhido como mensagem ao povo de Israel, na essência a afirmação expressa que a salvação vale para toda a humanidade.

Ele nasceu (v. 11). O Salvador tornou-se nosso irmão de sangue, osso dos nossos ossos, carne de nossa carne e veio a ser nosso misericordioso sumo sacerdote para expiar nosso pecado e nos fazer membros de seu corpo (Ef 5.30). Ele nasceu para nós, diz o anjo. Essa é a gloriosa palavra nesta primeira pregação de Natal. Lutero diz: “Os anjos não precisam do Redentor, e os diabos não o querem. Ele veio por nossa causa, nós é que precisamos dele”. A palavra “hoje” (v. 11) define seu nascimento como fato histórico. A história de nosso Redentor não é como a história de outras pessoas, pertencente apenas ao tempo. Essa história pertence à eternidade e se renova todas as vezes que seu poder animador é experimentado por um coração humano.

O anjo proclama três títulos para o menino de Belém (v. 11). Ele é o Salvador: Deus enviou o Salvador, que é simultaneamente o próprio Deus Salvador. Em nenhum outro há salvação, não há outro nome no qual as pessoas serão bem--aventuradas. Ele é Cristo: o ungido, o Messias. Os judeus esperavam que Deus enviaria um libertador muito especial. Não seria um ungido, mas sim o Ungido, o Messias. É a esse que o anjo anuncia. Ele é Senhor, termo que na Septuaginta é empregado para Deus. Cristo, o Senhor, descreve o menino nos termos mais altos possíveis.

Aparece, então, uma multidão de anjos louvando a Deus com o primeiro hino de Natal (v. 14), que repercute hoje nos cultos da igreja celebrante e adoradora. A primeira parte do hino de adoração dos anjos diz o que ocorre nas alturas do céu. A segunda parte do hino de adoração dos anjos diz o que existe aqui embaixo, na terra.

A primeira parte do hino – os anjos declaram que junto a Deus, nas alturas celestiais, foi manifestada uma glória incomparável com a encarnação do Filho, pois nela Deus revelou a sua graça para dar salvação a todos (Tt 2.11). A encarnação do Filho de Deus desvenda o mistério do profundo amor de Deus, o qual também os anjos anelam perscrutar (1Pe 1.12).

A segunda parte do hino – a paz se refere a Jesus Cristo. O hino de louvor poderia trazer em lugar de “paz existe na terra”, “Jesus Cristo está na terra”. Em Isaías 9.6, o Messias é chamado de Príncipe da Paz. Esse testemunho está presente nas Escrituras, por exemplo, em: Efésios 2.14; João 14.27;  20.19,21,26; Romanos 5.1. Jesus Cristo é a paz em sua pessoa. A expressão “a quem ele quer bem” deve ser entendida como o prazer que Deus tem nas pessoas, como o favor de Deus. Refere-se à resolução da graça de Deus, que se mostrou em Cristo. Por causa do pecado o ser humano não evidencia aprovação para Deus. Mas Deus demonstra sua aprovação por intermédio de seu Filho. Essa segunda parte do cântico é o precioso conteúdo do evangelho. Por sua iniciativa Deus doa à terra seu Filho amado. Tal como Paulo escreveu em 2 Coríntios 5.19: Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo.

Os pastores foram logo ver por si mesmos. Agora é preciso de fato “experimentar” a realidade do nascimento e entrar em um relacionamento mais estreito com ele. A palavra anunciada pelos anjos não era mero discurso, mas um acontecimento. Por isso dizem: e vejamos os acontecimentos (v. 15). E, assim, os pastores tornaram-se testemunhas (v. 17). Olhar com fé para o Cristo, seja na manjedoura, seja em sua vida e atuação, experimentar a amabilidade e bem--aventurança de Deus, gera testemunhas. Testemunhar é um ato feliz de cada coração crente em Cristo.

Ouvimos unicamente uma frase acerca de Maria, e essa frase nos propicia uma visão de seu íntimo. Não era apenas admiração, como nos demais, ela “guardava” no coração. Os pensamentos de salvação de nosso Deus são tão grandes, profundos e ricos que um ser humano não consegue captar e absorvê-los de uma só vez. Eles precisam ser elaborados. Como diz Lutero: “Deus quer que sua palavra seja impressa em nosso coração e permaneça como uma marca que ninguém consegue lavar, como se fosse inata e natural”.

3. Meditação

O evangelista Lucas é breve e simples ao narrar o nascimento do Salvador. O relato é tão simples que dá quase para dizer que não há novidade nessa palavra. O que podemos dizer sobre o Natal que ainda não foi dito? Então eu penso: pergunte para uma mãe sobre o dia em que seu filho ou filha nasceu (seja há um ou trinta anos) e se isso é algo sem importância? Isso não está bem guardado no coração? Não foi ali, quando a mãe tomou a criança pela primeira vez nos braços, que se iniciou uma história para durar toda a vida? Um filho ou filha, que deu muitas alegrias, ao dar os primeiros passos ou escrever as primeiras letras! Que também trouxe tristeza ao ser rude ou mentir! Ainda assim ele é amado. Seja lá o que for, ainda assim é filho ou filha dela. Isso não mudará!

Isso me leva a perguntar: até que ponto Deus me ama? Não apenas quando estou neste dia de Natal, na igreja, com o sapato lustrado, cabelo penteado e roupa bonita, nem apenas quando no culto faço a ele minha oração e canto um hino. Até que ponto Deus me ama? Não apenas quando ajudo alguém, quando coopero em minha comunidade ou ajudo uma entidade carente, ou quando estou disposto a resolver o problema da fome no mundo. Nessas horas até eu me sinto bem comigo mesmo.

A pergunta é: até quando Deus me ama, quando eu não obedeço à sua vontade? Quando eu mesmo reconheço: pôxa, eu escorreguei demais! Fui  levado tão longe! Até quando Deus me ama, quando dentro de mim há cobiça ou inveja? Quando a língua está tão afiada que poderia cortar uma pedra? Como ele se sente então? Como fica quando bebo demais ou brigo com os outros? Quando os negócios me levam lá aonde não tem nada para negociar? Quando fico brabo com Deus por causa das coisas que me acontecem e não consigo entender, e peço a ele satisfação?

Ele respondeu a essas perguntas antes que as tivéssemos feito. Para enxergar a resposta, ele iluminou o céu com uma estrela. Para a ouvirmos, encheu a noite com um coro de anjos. E para que acreditássemos, fez o que ninguém imagina: se fez carne e habitou entre nós. Como lemos em Lucas 2.6-7: Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, e ela deu à luz o seu filho primogênito. Em outras palavras, Lucas escreve que Deus pôs a mão no ombro da humanidade e disse: “vocês são especiais”.

Sim! E para revelar seu amor, ele fez algo extraordinário: desceu do trono e foi parar num estábulo. Tirou seu manto de luz e glória e foi envolvido em panos. Aquele que os anjos adoravam no céu aninhou-se no ventre de uma camponesa. Aquele que habitava o mais alto dos céus foi deitado num cocho. E Maria não sabia se lhe dava leite ou louvor. Deve ter dado as duas coisas, pois sabia que tinha fome e era santo.

Então, meu irmão, minha irmã, quando situações difíceis vêm ao teu encontro ou, de repente, coisas ruins se passam em tua mente e o dia de amanhã se torna uma incerteza que tira hoje a tua paz, em vez de perguntar se o amor de Deus ainda permanece válido para ti, tu deverias era perceber o seguinte: Deus, o que o Senhor está fazendo aqui? Isso mesmo! Ele não te deixa, mas vem até ali onde tu estás. É ele que vem ao teu encontro. Ele te alcança. Ele vem nos limpar, perdoar, renovar e mostrar o caminho. Foi para isso que ele veio. Paulo afirmou isso muito bem ao escrever: Portanto, vocês não são mais escravos, mas sim filhos. E, desde que vocês são filhos, Deus também os fez herdeiros (Gl 4.7).

Tal como foi com os pastores, a palavra anunciada no Natal quer tornar-se um evento para nossas vidas. Quando se trata das coisas de Deus, não devemos perder tempo. Quantas pessoas andam afastadas da comunidade por colocar em primeiro lugar suas opiniões, sua vontade ou seu modo de celebrar como único e agradável a Deus? Ou promovem discórdias e intrigas entre pessoas da mesma casa, roubando a alegria do lar? Quantos insistem em continuar carregando consigo o seu pecado? Por que não ir até o Salvador, que é Cristo, o Senhor (v. 11)? O que impede você de ir a Belém? De ver os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer (v. 15)? Natal: você é amado por Deus! Seu lugar é junto dele. É junto de sua comunidade. É em paz e bem junto dos seus. A salvação em Cristo nos faz pessoas novas, pessoas que vivem e testemunham com fé e gratidão o amor de Deus.

Jesus veio ao mundo para iniciar uma bela história com você. Pode bem ser que você tenha falhado e não tenha sido um bom filho ou filha. Quem sabe, lá dentro, algo não vai bem. Deus não desiste de você! Ele vem ao seu encontro! O seu Salvador é muito forte! Por causa do seu amor, ele não mede esforços para nos alcançar. Ele nunca nos despreza. Também hoje a boa notícia de que Jesus está presente deve alegrar o nosso coração. Muito ele tem feito por nós e em nós. Muito ainda ele fará! Creiamos nele e sua luz nos iluminará! E não há nada que se compara a andar com Jesus. É amor que não acaba. Amém.

4. Imagens para a prédica

Segue uma ilustração que pode ser adaptada conforme se julgar mais apropriado. Conta-se que dois peregrinos decidiram visitar a cidade de Belém nos dias do Natal. Partiram muitos dias antes, de modo que a chegada coincidisse com as festas natalinas. Um deles só pensava na viagem, na chegada a Belém para ver os lugares santos e o berço do cristianismo. Assim fez sua peregrinação: não parou em outros lugares, nada viu na viagem longa e demorada, só lhe interessava chegar. O outro, à medida que caminhava, ia observando os lugares por onde passava. Quando descobria alguma necessidade, algum problema a resolver, demorava-se ali e ajudava a resolver o problema e a cuidar das necessidades. Por isso não chegou a Belém para participar dos festejos natalinos. No entanto, dos dois, foi o segundo quem realmente festejou o Natal de forma apropriada. O primeiro só viu a festa, só a teve no dia de Natal; o segundo, embora não visse a festa em Belém, participou integralmente e durante toda a viagem do verdadeiro espírito de Natal. E enquanto o outro viveu aqueles dias só para si, este viveu a viagem inteira para os outros, dando-se e proporcionando a muitos a felicidade do amor que nasce também em Belém, na pessoa de Cristo, o Salvador.

5. Subsídios litúrgicos

Acolhida

Pode-se usar a palavra de Lutero: “Creiam que Cristo nasceu para vocês, e que o nascimento aconteceu para o bem de vocês. Pois a Escritura Sagrada não afirma apenas: Cristo nasceu, mas diz: nasceu para vocês. Também não afirma apenas: eu anuncio uma alegria, mas diz: eu anuncio uma alegria para vocês. Creiam que Cristo nasceu para vocês”.

Oração do dia

Nosso Senhor e Deus, com alegria unimos nossas vozes para louvar teus grandes feitos, o teu grande amor, a tua misericórdia que nos alcança hoje. Toda distância que nos separa de ti foi eliminada quando teu Filho veio ao mundo. Tu nos queres perto de ti. Derrama teu Santo Espírito sobre nós e faze com que nosso coração e nossa vida sejam tocados por teu amor e sejamos teus. Com tua paz, dissipa todas as trevas e enche nosso coração de esperança. Aceita o nosso louvor. Bendito é teu nome para sempre. Amém.

Bibliografia

MORRIS, Leon L. O Evangelho de Lucas – introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2000.

RIENECKER, Fritz. Evangelho de Lucas. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2005. (Comentário Esperança).


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Autor(a): Astor Albrecht
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Natal
Perfil do Domingo: Dia de Natal
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 14
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2019 / Volume: 44
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 54626
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