Lucas 19.41-48

Prédica

Lucas 19.41-48 - 10º. DOMINGO APOS TRINDADE

Prezada comunidade!

Todos os Evangelhos do Novo Testamento nos contam que, antes de todos aqueles acontecimentos em torno da Paixão e morte de Jesus Cristo, ele teve uma entrada triunfal, sob grande aclamação do povo, em Jerusalém. O Evangelho de Lucas nos narra, nesse contexto, um episódio especial, ocorrido á chegada de Jesus em Jerusalém. Lemos a respeito no capítulo 19 do seu Evangelho: 

E, ao se aproximar, contemplou a cidade e chorou sobre ela, dizendo: Ah!, se reconheceras também tu hoje o que é bom para a (tua) paz! Mas agora isso está oculto aos teus olhos. Porque virão dias sobre ti, em que os teus inimigos construirão uma trincheira contra ti e te cercarão e te afligirão de todos os lados, e te arrasarão a ti e aos filhos dentro de ti, e não deixarão pedra sobre pedra em ti, porque não reconheceste o tempo da tua visitação. E (então) entrou no Templo e começou a expulsar os vendedores, dizendo-lhes: Está escrito: E a minha casa será uma casa de oração. Vocês, porém, a transformaram num covil de salteadores. E ele ensinava diariamente no Templo. Contudo, os principais sacerdotes, os escribas e os primeiros do povo procuravam eliminá-lo, e não achavam o que pudessem fazer, pois todo o povo se prendia a ele, quando o ouvia. 

I

É pavoroso o que Jesus diz aí sobre Jerusalém: Virão dias sobre ti, em que os teus inimigos construirão uma trincheira contra ti e te cercarão e te afligirão de todos os lados, e te arrasarão a ti e aos teus filhos dentro de ti! Será o fim de Jerusalém, o fim de seus magníficos edifícios, de seus muros imponentes, o fim de seus habitantes. É a visão de uma devastação total, fantástica, horrível! E por quê? 

Porque não reconheceste o tempo da tua visitação. Por isso, o castigo, a devastação. Porque não reconheceste o tempo da tua visitação. Difícil de entender, não é? 

O tempo da tua visitação. Deus visitou Israel. Antes, Deus tinha um pacto, um contrato com Israel. E Israel vivia quebrando o contrato. E Deus enviava profetas ao povo, que lhe apontavam as falhas, que clamavam para que entrasse de novo no caminho da obediência. Mas isso não acontecia. Então passaram a anunciar o Messias, aquele que viria para restabelecer a harmonia entre os judeus e seu Deus, aquele que traria finalmente a paz. E o povo todo passou a esperar, a desejar ansiosamente aquele Messias, que viria pôr tudo em ordem. 

E no ano zero da nossa história veio o Messias. No ano zero da nossa história Deus visitou Israel, como homem, para restabelecer a harmonia. O ano zero foi o tempo da visitação. 

Mas Israel não o reconheceu. Israel não deu ouvidos aquele Jesus vindo de Nazaré; muito pelo contrario, quando ele se tornou incômodo, pregou-o na cruz.
Se reconhecesses também tu hoje o que é bom para a tua paz! Ainda é hoje. Hoje Israel ainda pode mudar. Amanhã será tarde demais. Amanhã passou o tempo da visitação. Ainda hoje. E hoje Israel ainda pode reconhecer o que e bom para a sua paz, isto e, o que é bom para a sua verdadeira vida, para a sua participação no Reino de Deus. Se reconhecesses que tudo o que é bom para isso está na pessoa desse Jesus, que hoje ainda esta com vocês. 

Mas Israel não reconheceu. Preferiu basear, fundamentar-se em algo mais sólido do que aquele marceneiro. Está escrito: 'E a minha casa será uma casa de oração!' Vocês, porém, a transformaram num covil de salteadores. O que é um covil de salteadores? É o lugar, a caverna, o esconderijo, onde esses salteadores escondem a muamba. Não é apenas um depósito. É o forte, a cidadela, a caixa-forte, o INPS, a aposentadoria, o futuro todo do salteador. Lá, na muamba, ele tem a garantia de sua vida, e é de lá que ele parte, e para lá que ele retorna após o assalto. O covil de salteadores é o lugar de segurança, por excelência. 

E o Templo se tornou um covil de salteadores, um lugar de segurança, de garantia - contra Deus. Um lugar onde se compra Deus. Essa história de arrependimento, que o marceneiro de Nazaré anda espalhando por aí, é pura besteira. Bolas, nós trazemos sacrifícios e gastamos uma nota tremenda para que isso funcione. Deus é nosso! E vem o outro falar de arrependimento! Pipocas, arrependimento pra que, se aqui praticamos o nosso culto e trazemos as nossas ofertas. Deus não pode deixar a gente na mão depois do que nós fizemos para ele aqui. O Templo, um covil de salteadores, um reduto inexpugnável de segurança, de garantia - contra Deus. Um lugar onde se compra Deus para não ter que fazer sua vontade. 

E por isso, por causa da segurança do Templo, os judeus não reconheceram hoje o que era bom para a sua paz, não reconheceram o tempo da sua visitação, negaram a oferta de Deus para restabelecer a harmonia. E isso traz juízo, castigo. Eis uma coisa importante, prezada comunidade: A bondade de Deus é uma coisa cara, foi paga por alto preço; sua recusa é ofensa contra Deus. E merece castigo. Deus visitou Israel para lhe oferecer a paz. Israel não reconheceu o tempo da visitação. Por isso Jerusalém será devastada!

II

Os senhores já devem ter percebido que eu não estou apenas relatando um acontecimento histórico do passado. Se tudo o que foi dito vale para Jerusalém, não é menos valido para nós. Pois nós estamos vivendo no tempo da nossa visitação. Nós estamos vivendo no hoje. Deus não nos visita mais em carne e osso como visitou os israelitas. No entanto, sua visita a nós no é menos real e decisiva. Hoje, no tempo da nossa visitação, ele vem através do testemunho dos seus enviados, através da sua palavra que é pregada em todo mundo. E através dessa palavra ele vem nos trazer o que e bom para a nossa paz. E como em Jerusalém, é aqui que se decide o nosso futuro. Na nossa posição diante de Cristo, diante da sua oferta. Aqui se decide o nosso futuro: paz, harmonia, Reino de Deus, vida eterna já no presente; ou castigo, juízo, destruição, fim. 

Se reconhecêssemos hoje, também nós, o que é bom para a nossa paz! Sim, prezada comunidade, vamos pensar um pouco sobre isso: O que ë bom para a nossa paz? O covil da segurança ou a oferta da visitação. E notem uma coisa: eu não estou pedindo que me dêem a resposta a uma questão matemática, teórica! Eu estou colocando os senhores diante da vida ou morte. Em que querem basear-se: no covil da segurança ou na oferta da visitação? Essa é a questão de vida e morte para todos nas aqui, velhos e moços, homens e mulheres. 

Nas sempre tendemos a apelar primeiro para o covil da segurança. Onde esta o nosso covil? Em parte também está no Templo. Aqui, na igreja. Com a nossa ida regular ao culto, com nossas contribuições mensais, com nossa participação no trabalho da JEAS, da OASE em prol da construção, da mordomia, na Escola Dominical, nós vamos reunindo um certo lastro, e lá por dentro, talvez bem baixinho, nas vamos pensando: Bem, cá pra nós, com tudo isso não pode dar nada errado! Afinal, nas estamos contribuindo, nos estamos dando algo de nas, estamos fazendo um favor a Deus. Consequência: No nosso caso ele vai ter que fechar um olho. Ele não vai poder ignorar. 

E com isso já compramos Deus. Com isso já o encostamos. E o que vale então não é o que ele quer, mas o que nas queremos. E o que nós queremos é isso: que ele reconheça a nossa parte, o que nas fizemos, as nossas obras. E nesse caso, prezada comunidade, a nossa ida regular ao culto, a nossa contribuição, o nosso trabalho na comunidade é muamba, é segurança, é garantia - contra Deus. 

Sim, contra Deus: Pelo seguinte: Porque essas coisas que fazemos e realizamos, esses supostos favores que prestamos a Deus começam a isentar-nos de realmente ouvir e obedecer-lhe. De obedecer-lhe nos atos concretos da nossa vida cotidiana. De obedecer-lhe, reconhecendo o nosso pecado, arrependendo-nos e mudando de vida. Arrependimento e obediência concreta tornam-se dispensáveis onde temos muamba para a nossa garantia. 

E enquanto isso acontecer, não reconhecemos o que é bom para a nossa paz, o hoje, o tempo da visitação. Portanto vamos livrar-nos da muamba, da garantia, de nós mesmos. Vamos buscar a base em outro lugar: na visitação. Vamos, que e tempo da nossa visitação Deus esta nos visitando e oferecendo o verdadeiro fundamento. Que é este: Jesus Cristo! Tiremos o olhar da nossa segurança e olhemos para Cristo. Com toda a atenção. E olhando para Cristo com atenção nós vamos reconhecer muita coisa: Vamos reconhecer que aquele homem obedeceu mesmo, cumpriu a vontade de Deus, no ato concreto - e que nas não o fazemos. Vamos reconhecer, portanto, que a nossa muamba, a nossa segurança, e falsa. Então vamos reconhecer mais que, se não obedecemos, só nos cabe arrependimento, humildade, pedir perdão. E uma vez reconhecido isso, veremos o decisivo: Que para ter paz, a vida, só nos resta aceitar a oferta da visitação, a morte de Cristo em nosso lugar. Então não precisaremos mais da muamba. 

Mas não esqueçamos uma coisa. Eu falei há pouco de decisão. E volto a repeti-lo. Eu chamo os senhores a decidir-se: muamba, segurança - Jesus Cristo. Nosso texto é muito claro, prezada comunidade. Existe um tempo da tua visitação. Existe, portanto, também um momento em que é tarde demais. O tempo é limitado. Vamos aproveitar o hoje, o tempo da nossa visitação, o tempo em que ainda é feita a oferta, a oferta da graça, da bondade. E esta oferta custou caro. Quem recusá-la deve contar com um Deus zeloso, que hão suporta menosprezo. A alternativa e: Segurança ou Jesus Cristo; castigo ou vida. Cada um se decida: Amém. 

Oremos: Senhor, nosso Deus, louvado sejas pela tua paciência, porque ainda nos visitas, porque ainda é hoje e nos dizes o que é bom para a nossa paz. Ajuda-nos a escolher o certo: não a nossa segurança, mas a tua oferta em Jesus Cristo. Leva-nos ao arrependimento e a uma nova vida. Por Jesus Cristo. Amém.

Veja:
Nelson Kirst
Vai e fala! - Prédicas
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Nelson Kirst
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 11º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 19 / Versículo Inicial: 41 / Versículo Final: 48
Título da publicação: Vai e fala! - Prédicas / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1978
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 20317
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