Leitura Bíblica Básica: Lc 15.1-7
Outras Leituras:
Autor: P. Elton Pothin
e-mail:
Origem: CEJ - Paróquia Martin Luther
Cidade: Joinville - SC
Data da pregação: 09/09/2007
Data Litúrgica:
Prédica:
Prezada Comunidade aqui reunida.
O texto de Lucas 15.1-7, a Parábola da Ovelha Perdida, é muito conhecido, mas traz sempre uma renovada mensagem de misericórdia, de perdão e de salvação de nosso Deus. E desta misericórdia, perdão e salvação nós não podemos deixar de falar, como nos lembra o lema de nossa igreja para este ano, de Atos 4.20: Não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos.
O texto inicia dizendo que publicanos (cobradores de impostos) e pecadores aproximavam-se para ouvir Jesus. Lembramos que tanto publicanos como pecadores eram discriminados e desprezados na religiosidade judaica:
- os publicanos porque cobravam impostos do povo por concessão do império romano opressor;
- os pecadores porque tinham conduta imoral (ladrões, assassinos, fraudadores). Mas não somente estes eram considerados pecadores, mas também os que exerciam uma profissão considerada impura pela religiosidade judaica: jogadores de dados, usurários, pastores de ovelhas, tecelões, tosquiadores, enfermeiros que aplicavam sangrias, proprietários de casas de banho, curtidores, navegadores, médicos, transportadores, condutores de camelo e açougueiros (esta lista e comentários sobre a mesma encontra-se no livro de Joachim JEREMIAS, Jerusalém no Tempo de Jesus, p. 403-414). Os fariseus também consideravam pecadores todos os que não seguiam as regras farisaicas de conduta.
E receber pecadores, comer com eles é um escândalo para a religiosidade judaica. A comunhão de mesa com pecadores que não tivessem PREVIAMENTE mostrado sinais de arrependimento, praticando jejum e penitência, era totalmente reprovada.
Os fariseus se arrogavam o direito de zelar pela santidade do povo. O princípio religioso dos fariseus era:
- O homem justo não deve associar-se aos ímpios. Os transgressores da lei, da religiosidade judaica, os pecadores devem ser isolados. De um lado, os bons e justos; de outro lado, os pecadores.
E os escribas diziam que o pecador não pode ser amado por Deus ANTES de seu arrependimento, de fazer jejum e penitência. Não é o justo que deve ir de encontro ao pecador, de acordo com a mentalidade da religiosidade judaica. O justo deve apontar o pecado e o pecador. E o pecador, por sua vez, deve cair em si, se arrepender e, com isso, ele poderá receber o amor de Deus, porque o mereceu com seu bom comportamento. Talvez muitos de nós até concordemos com esta forma de pensar e de agir.
MAS ESTA NÃO É A FORMA DE PENSAR E AGIR DE DEUS. A forma de pensar e agir de Deus é totalmente CONTRÁRIA a esta. Deus vai ao encontro, busca,chama, socorre o perdido, como vemos de forma clara na parábola da ovelha perdida. Deus não espera que o pecador/perdido venha, que ele ache por conta o caminho e, só depois de se haver arrependido, é que irá receber acolhida e graça divinas. Deus acolhe o pecador, vai ao seu encontro mesmo ainda estando ele em pecado, o chama, o busca. A mudança de vida virá naturalmente no convívio com Jesus, com os fiéis, como podemos ver no exemplo de Zaqueu (Lucas 19.1-10).
E a parábola da ovelha perdida diz isto de forma clara. Jesus, o bom pastor (João 10.11,14), vai em busca daquele que se perdeu - procura e não desiste até encontrar. Eis que estou à porta e bato, diz Jesus em Apocalipse 3.20. Em Ezequiel 18.23, Deus mesmo pergunta: Vocês pensam que eu gosto de ver um homem mau morrer?, pergunta o Senhor Eterno. - Não, eu gostaria mais de vê-lo arrepender-se e viver. E, em 1 Timóteo 2.4, Paulo diz que Deus deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. E Jesus mostra a ALEGRIA do Pai, de Deus por um pecador que se arrepende: há júbilo, há festa no céu.
Escribas e fariseus, ao contrário, parecem ter alegria em acusar, em apontar o dedo, em pisar nos outros, em dizer: todos vocês são pecadores. Estão perdidos. Nós somos os salvos.
E eu gostaria de dar um passo adiante na reflexão e dizer que ninguém pode se arrogar o título de justo, puro, sem pecados, como faziam os escribas e fariseus. Aqui, gostaria de lembrar palavras de Paulo em Romanos 3.23: Pois todos pecaram e carecem a glória de Deus. Lembrar também as palavras de 1 João 1.8: Se dissermos que não temos pecado nenhum, anos mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Lembrar ainda as palavras de Jesus em João 8.7: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.
TODOS SOMOS PECADORES, TODOS SOMOS OVELHAS PERDIDAS. Todos precisamos que Deus nos busque, nos perdoe, nos acolha, nos salve. Não por merecimento, mas porque Ele quer, por que Ele nos ama.
Por isso, muito me entristece quando vejo ainda hoje fariseus e escribas entre nós. Igrejas e pessoas que se dizem as únicas certas, justas, santas. Igrejas e pessoas que se arrogam o status de verdadeiramente crentes, os únicos verdadeiramente fiéis e em plena comunhão com Deus. Pessoas e Igrejas que fazem como fariseus e escribas: apontam o dedo, acusam os outros de não ter a fé verdadeira ou a fé firme ou até mesmo de não ter fé: todos vocês são pecadores. Estão perdidos. Nós somos os salvos. Essas pessoas se esquecem de que Jesus combateu a presunção e a arrogância e ensinou o amor e a humildade. Vamos aprender de Jesus esta humildade, o amor, a misericórdia e vamos viver praticando tudo isto que ele ensinou.
E, em humildade, vamos nos reconhecer como ovelhas que constantemente se afastam do bom pastor, confessar a ele nossos pecados, nos colocar diante dele e reconhecer: eu preciso de ti para viver, eu dependo de ti para ser salvo. Usando as palavras do salmista, que possamos dizer: O Senhor é o meu pastor. Nada me faltará. (Salmo 23.1).
Que assim possamos crer e viver .
Amen.