Lucas 11.14 - Jesus expulsa o demônio mudo

Prédica

28/01/1979

JESUS EXPULSA O DEMÔNIO MUDO
Lucas 11.14 (Leitura: Salmo 103) 

«Certo dia Jesus expulsou um demônio que era mudo. E aconteceu que, ao sair o demônio, o mudo passou a falar.» 

Um demônio mudo? Um espírito mau, que tomara conta de uma pessoa, tomara conta dela de tal forma que não dava mais para distinguir entre o demônio e a pessoa? Observemos que o evangelista diz no início que o demônio era mudo — e, no final, que o mudo, isto é, a pessoa, falava. Então este homem, possesso pelo demônio mudo, não era mais ele mesmo. Se fosse ele mesmo, falaria. Pois Deus fez o homem à sua imagem. E Deus é um Deus que fala. Ele quer que o homem seja seu parceiro, parceiro que fale como ele, que ouça e que responda, que fale com seus semelhantes, que se comunique com eles, que tenha comunhão com seus irmãos. Então, dentro daquele homem, do qual vamos falar hoje, havia um poder que o fazia ser mudo. Um poder que não o deixava falar. Um poder que não lhe permitia que fosse aquilo que Deus queria. Um demônio mudo, como diz o evangelista Lucas. 

Vamos falar, pois, do demônio mudo, hoje. Daquele demônio quieto, que não se manifesta, mas que trava o homem por dentro, que não o deixa ser o que Deus quer que seja. Vamos falar do demônio mudo, e vamos falar daquele que o expulsou e que ainda hoje o expulsa. Notemos bem: O demônio que Jesus expulsou naquele dia não era dos barulhentos. Não era nenhum demônio que gritava, que se revoltava, que ameaçava atacar, usar de violência, destruir ou matar. Não era demônio terrorista que encenava revoltas, assassínios e sequestros. Ele não era furioso como os outros demônios. Não berrava, não manifestava nem raiva nem ameaça. Era um demônio mudo e pacífico, aparentemente bem comportado.
«Jesus — por que tu não deixas aquele demônio onde ele está? Não estás vendo que ele não incomoda? Ele está quietinho, lá em seu canto! Há tantos outros demônios — barulhentos, revoltados, malvados mesmo! Expulsa estes demônios turbulentos! Por que criar problemas? Deixa aquele mudo em seu cantinho, enquanto ele não incomoda ninguém. . . » 

Não. Jesus não concorda. Jesus expulsa o demônio mudo. E depois de ele sair, o mudo começa a falar. — Nós achamos que esta passagem não descreve apenas a cura de um simples homem mudo por Jesus. Uma tal descrição não teria muito significado para nós. Achamos que Jesus realmente libertou aquele homem de um poder maligno que contrariava a vontade de Deus. De um poder que o escravizava, que o possuía, que lhe trancava a língua por dentro, que não permitia que ele se comunicasse, que saísse de si mesmo. E vendo a pessoa desta forma, vamos notando, de repente, que a realidade daquele demônio mudo ainda existe hoje -- e que talvez seja o mais perigoso de todos os demônios. 

Vejamos: Um homem revoltado e amargurado chegou a engolir a sua revolta e a sua amargura — deixou de gritar e de protestar — passou a emudecer. Quantos jovens gritam a sua revolta para o mundo -- e, depois, acomodados e deixando de incomodar, emudecem. Será que eles venceram a sua revolta? Será que venceram mesmo os problemas que os tinham feito protestar? Não. Eles apenas se acomodaram. Engoliram o seu furor. Não incomodam mais. Já não abrem a boca nem em casos onde deveriam falar e argumentar. É o demônio mudo que tomou conta deles, substituindo os demônios da revolta e do rancor, muito mais fáceis de reconhecer e de identificar. 

Nós todos bem sabemos como é. Sabemos que tantas e tantas vezes também nós engolimos os nossos problemas. Não os botamos para fora, não falamos, discutimos, confessamos, contestamos -- antes silenciamos, amargurados, pisados, ofendidos. A palavra «engolir» diz tudo. O problema engolido parece desaparecer. A gente simplesmente não comenta mais aquele caso odioso, aquela discussão feia, aquela injustiça revoltante que nos feriu. E lá dentro, lá no recinto escuro e secreto do coração (os psicólogos, hoje, falam do subconsciente), o demônio aparentemente se acalma. Vai sendo mantido num recinto secreto. A gente não fala mais do caso, A gente começa a usar uma máscara, ao encontrar pessoas que odeia ou rejeita, — «Bom dia, tudo bom?» -- «Ôi, como vai você, e a família, como vai?» -- Você diz isso — mas bem por dentro vai pensando: Tomara que não encontre mais este sujeito! Por fora, você faz de conta que está tudo bem. Mas na realidade, não está, não. Agora, diga: Você, ao cumprimentar aquela pessoa, estava falando mesmo? Não, não estava. Na realidade você não disse nada. E o outro notou. Na realidade você foi mudo. O demônio mudo que travou você por dentro não o deixou falar. Não lhe permitiu ser autêntico. Não deixou você olhar para seu próximo e falar o que devia. Não lhe permitiu falar com seu colega numa atmosfera de verdade, de amor, de aceitação e de respeito. Você parecia trancado por dentro. Trancado em si mesmo. Ensimesmado. Você não conseguiu destrancar-se para perdoar e pedir perdão. Ia sendo roído por dentro pelo rancor recalcado, mas não falou. Não conseguiu abrir-se, nem para Deus, nem para uma pessoa de confiança, O demônio mudo não deixou. Ele quis que você falasse só consigo mesmo. Ou com ele quem sabe! Porque cada demônio, barulhento ou mudo, não quer outra coisa, a não ser ocupar o lugar que compete a Deus. — Vamos ser mais concretos e claros: Marido e mulher se desentenderam. Houve realmente uma briga séria, que está pondo em perigo a harmonia que antes tinha reinado naquele lar. Briga que deixou os filhos perturbados e angustiados. E chega um momento em que teria bastado uma única palavra cio marido ou da mulher para restabelecer a paz, para fazer renascer o amor ferido. Mas o marido deixa passar o momento. A mulher não diz o que sente que deveria dizer. O demônio mudo não os deixa falar. Ele tranca a língua. Cria uma teimosia que não permite dizer aquela palavra milagrosa. É como se uma nuvem escura pesasse sobre o casal, criando um silêncio de cemitério. Homem e mulher continuam vivendo lado a lado — mudos. Mas — eles não estão falando? Sim, estão. «A comida está pronta?» «Hoje eu vou voltar mais tarde do trabalho.» — «As crianças precisam de roupa de inverno.» Mas a palavra decisiva, a palavra da verdade, a palavra que abre um coração ferido e trancado, ela não vai sendo pronunciada. O demônio mudo não deixa. No seu local de trabalho se discutem problemas da sociedade. Um colega chega a dizer coisas que contrariam totalmente a sua fé. Chega a fazer gozação do evangelho. Você sabe que veio a hora do testemunho, nota que agora precisa falar, Precisa confessar em público o seu Senhor, que você adora em casa e na igreja. Mas, quando você se dispõe a falar, o demônio mudo lhe sugere: «Silêncio! Em boca fechada não entra mosca .. . Por que se meter em problemas?» — E você passa a não dizer nada, É assim que acaba por identificar-se mais uma vez com aquele demônio mudo! 

Agora — louvado seja Jesus Cristo! A mensagem da breve passagem bíblica, sobre a qual estamos meditando hoje, não é que o demônio mudo é poderoso, que ele continua agindo, travando, recalcando. Note bem, caro leitor, caro ouvinte: a mensagem de nosso versículo bíblico é que Jesus expulsou o demônio que era mudo e que, ao sair o demônio, o mudo falou. A mensagem de nosso texto é que Jesus tem poder de expulsar o demônio mudo. Que ele tem poder de libertar uma criatura humana do espírito da mudez. «O mudo falava.» Parece uma contradição. Como é que um mudo pode falar? Mudo é mudo — e quem fala não pode ser mudo, Mas não esqueçamos que Jesus é o Cristo, que ele é o Filho do Deus todo-poderoso. Quando Deus disse: Haja luz! Houve luz. No momento em que Deus falou, trevas cobriam o abismo. E no mesmo momento houve luz. Porque Deus é Deus. Você que nunca se esqueça disso, em nenhuma situação de sua vida! 

Os milagres de Jesus não são simples curas. Não são meros consertos de um organismo que não funciona mais como deveria. Os milagres de Jesus são atos de poder divino, são como nova criação: O cego vê, o paralítico anda, o surdo ouve, o mudo fala. E poderemos continuar: O descrente crê, o desanimado se anima, o covarde cria coragem, o triste canta louvores, Assim foi com os apóstolos. Pessoas de pouca instrução (e bem sabemos como a falta de instrução pode trancar a pessoa por dentro), eles se puseram a falar em público e em particular, «em tempo oportuno e não oportuno», abriram sua boca e deram testemunho do evangelho de Jesus. 

E o mesmo Jesus que expulsava demônios pelo poder de Deus, que libertava pessoas escravizadas por poderes malignos, este mesmo Jesus continua agindo entre nós, hoje. Ele realmente é capaz de livrar uma pessoa de sua prisão — de sua teimosia, sua covardia, seu rancor, seu medo — sua falta de fé. É capaz de soltar-lhe a língua presa, de abrir-lhe o coração fechado, de transformar a sua vida, começando bem no centro do «eu» mesmo. Ele é capaz de fazer um marido — ou uma esposa dizer aquela palavra que poderá salvar o seu matrimónio. É capaz de transformar um cristão medroso em discípulo destemido que confessa a sua fé com alegria. 

Que Deus nos faça reconhecer aquele demônio mudo em nossa vida pessoal, no ambiente de nossa comunidade, em nossa sociedade. Ele é muito mais difícil de identificar do que o demônio falador. Por isso mesmo ele é mais perigoso. E vamos ser realistas: Nós não temos o poder de expulsar nenhum demônio, muito menos aquele da mudez, do silêncio gelado e da teimosia. Mas Cristo tem o poder de o expulsar e de lhe impedir o regresso. Cristo tem poder de fazer o mudo falar — com Deus, com o próximo, Ele tem poder de fazer cantar louvores, mesmo aqueles que por ora parecem mudos como pedras e fechados como prisões. Se isso é verdade — por que não rogamos a Deus para que aquele milagre aconteça entre nós? Por que não abrimos nossa boca para sermos porta-vozes daquele que é o Senhor dos poderes visíveis e invisíveis? 

Oremos: Senhor, nós te confessamos que também em nossa vida o demônio mudo teve poder. Muitas vezes não dissemos aquela palavra que deveríamos ter dito. Ficamos mudos, e assim pecamos contra o teu amor. Deixamos de dar um testemunho claro, e assim negamos o teu senhorio. Perdoa-nos, Senhor. Expulsa de nós o poder que nos tranca o coração e a boca. Faze-nos ser criaturas libertadas, regeneradas conforme a tua imagem. Amém.

Veja:

Lindolfo Weingärtner 

Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão

Editora Sinodal

São Leopoldo - RS

 


Autor(a): Lindolfo Weingärtner
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 11 / Versículo Inicial: 14
Título da publicação: Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19692
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Da fé, fluem o amor e a alegria no Senhor, e, do amor, um ânimo alegre, solícito, livre para servir espontaneamente ao próximo.
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