Lucas 11.1-4 - Jesus nos ensina a orar

Prédica

27/01/1979

JESUS NOS ENSINA A ORAR
Lucas 11.1-4 (Leitura: Salmo 138) 

Discípulo é aprendiz. Não é simples moço de recados. O moço de recados não está fazendo curso. O discípulo está. É aprendiz que convive com o Mestre em tudo. Sua vida é uma única grande aprendizagem. Esta aprendizagem não termina nunca. Ao menos não termina, enquanto o discípulo viver nesta terra. Mesmo o cristão maduro, velho, experimentado — ele não deixa de ser aprendiz de Cristo. E isso é bom! Ai daquele que se considera pronto, formado, capaz de se virar sem o Mestre. Ele não irá longe. Ele vai gastar o pouco que tem, e depois, vazio por dentro, não vai ter de que viver e menos ainda de que dar a outros. 

Assim nos parece coisa bem lógica, bem natural, o que os discípulos pedem a Jesus. Eles tinham visto o Mestre orar. Sabem que a oração é a fonte que alimenta a fé, o ânimo, a obediência. E um deles, fazendo-se porta-voz dos outros, vai dizendo a Jesus: os seus discípulos.» 

Sim parece coisa bem natural. O aprendiz pede ao mestre para que lhe ensine. Por outro lado — não nos parece estranho que estes discípulos, ao que parece, estão inseguros em sua vida de oração? Eles já deviam ter aprendido a lição, não é? Eles, que conviveram tanto tempo com Jesus! Eles, que pregaram o evangelho em tantas localidades, que ensinaram, curaram e que em nome de Jesus expulsaram demônios? Eles então não sabem, se estão orando convenientemente! Será que é uma crise de oração que está havendo entre eles? Então «crise de oração» não seria somente um problema nosso, um problema de nosso tempo moderno. Seria até um problema de gente da Bíblia — seria até um problema de gente tão chegada a Jesus, como foram os doze discípulos? 

«Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego.» Eis uma palavra do salmo 22! 

«Não sabemos orar como convém, mas o Espírito intercede por nós» — eis uma palavra do apóstolo Paulo (Romanos 8)! 

Sim — é verdade: Crise de oração é tanto um problema nosso, como foi um problema dos homens da Bíblia, dos profetas, dos discípulos e dos apóstolos de Jesus. E nesta crise não vamos longe, se tentamos ser nossos próprios médicos. Não adianta aumentarmos o tempo de oração, imitarmos a oração dos outros, procurarmos uma técnica de oração melhor, tentando orar com maior concentração e com maior fervor. É Jesus quem nos deverá ensinar a orar, É o Espírito Santo quem deverá interceder por nós. Como uma criancinha aprende a falar? Não é, ouvindo? Ouvindo os pais? É por isso que uma criança surda não fala, Ela não ouve. Como poderá falar, dialogar, responder? Assim, ninguém aprende a orar por si mesmo. Quem o tentar (e seja pela moderníssima «meditação transcendental»), ele entra em crise. Chegará ao ponto em que será obrigado a confessar: Não consigo mais orar. Não consigo mais entender Deus como parceiro de conversa. Parece que estou falando ao vazio, que estou falando comigo mesmo! 

Uma crise é sempre coisa séria. Crise de respiração poderá levar à morte. E orar é respirar. Pela oração, a nossa vida espiritual, nossa fé, nossa comunhão com Deus se alimentam. Mas a crise poderá ser, também, um sinal de esperança. No momento em que nós admitimos: «Não consigo mais orar» — aí o vazio de nosso coração, a mudez de nossa boca — serão a grande oportunidade de Deus. Porque o coração de Deus não está vazio, Sua boca não é muda. Seu poder e seu amor não se esgotaram. Foi Deus quem recomeçou o diálogo com os homens emudecidos, Em Cristo, Deus nos procura. É incrível — mas ele realmente «puxa conversa» conosco. Todo o evangelho é um único documento daquela conversa que Deus recomeçou com os homens surdos e mudos. Curando sua surdez, soltou-lhes também a língua. 

Assim — seja sintoma de crise, ou seja simples desejo de aprender a orar melhor: O que os discípulos pedem a Jesus, se encaixa no evangelho. É o que Deus quer, mais do que qualquer outra coisa. Talvez, ao ouvirem a resposta, os discípulos vão notar que fizeram o pedido de forma não muito conveniente, como a gaguejar, por assim dizer: «Ensina-nos a orar como também João ensinou a orar os seus discípulos.» Eles ainda olham para o lado. Olham para João Batista, para tradições humanas. Mas o que vale, é que peçam a Jesus: «Ensina-nos.» Quem pede para ser ensinado, aceita ser corrigido, mesmo em sua maneira de pedir. 

E Jesus não se nega ao pedido de seus discípulos. Ele os ensina. Nós sabemos, qual a oração que lhes ensinou. É o Pai Nosso, a oração dominical, isto é, a oração do «dominus», do Senhor. — Mas então nós, hoje, já sabemos a lição! Então levamos vantagem em relação aos discípulos! Então não temos mais necessidade de pedirmos: «Ensina-nos!» — Sim mas só se quisermos deixar de ser discípulos de Cristo. E este preço seria muito alto. Faremos melhor, assim, em sentarmos humildemente em nosso banquinho de escola para aprendermos, de coração, uma oração que talvez só saibamos de cabeça. 

Uma coisa, de início: Você sabia que há duas formas do Pai Nosso no Novo Testamento? Que a versão de Lucas é mais breve do que a que encontramos em Mateus 6? Em Mateus diz: «Pai Nosso que estás nos céus». Em Lucas diz simplesmente: «Pai». Em Mateus há sete preces. Em Lucas há cinco. Faltam: «Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu» e «Livra-nos do mal». E falta a parte final: «Pois teu é o reino e o poder e a glória para sempre». Falta até o «Amém! Então, quem sabe, o Pai Nosso, de começo, nem foi uma oração tão rígida, tão pronta, feita para ser decorada, para ser «rezada» (rezar vem de recitar!), com todas as palavras no devido lugar. Pois se na primeira geração já havia duas versões diferentes da oração dominical, quem sabe, o Pai Nosso poderá ser entendido como uma oração aberta — não aberta para acréscimos humanos, mas aberta para nela caber toda a nossa vivência com Deus? Então talvez estejamos orando mal o Pai Nosso, recitando-o simplesmente, ao fim do culto, quase como um dever a ser cumprido, uma fórmula a ser declamada! Quem sabe -- nós poderemos estar martirizando e maltratando a oração do Senhor! Sim — é isto mesmo! Nós todos, que julgamos conhecer a oração mais conhecida da humanidade, talvez a estejamos orando mal; talvez a tenhamos esvaziado; talvez estejamos orando como surdos, que nunca ouviram realmente o Mestre falar! Talvez tenhamos a maior necessidade de pedirmos a Jesus, frente esta oração: Senhor, ensina-nos a orar! 

Senhor, ensina-nos a orar! Ensina-nos a orar a oração que tantas vezes oramos, mas que já virou rotina e que tantas vezes não une os nossos corações a Deus, nosso Pai. Ensina-nos a orar, Senhor; faze-nos ouvir! 

Pai! Esta palavra já é o evangelho. Jesus nos permite chamar Deus de Pai. Ele nos encoraja a fazê-lo. Lutero diz, no Pequeno Catecismo: «Deus quer atrair-nos com estas palavras para o crermos: Ele é o nosso verdadeiro Pai e nós os seus verdadeiros filhos.» Pai! Este nome mais querido de Deus nos diz que aconteceu alguma coisa maravilhosa em nossa vida: Fomos aceitos por Deus como filhos, como irmãos do Filho, como irmãos de Jesus! Ninguém é capaz de orar o Pai Nosso em Espírito e verdade, se este milagre não tiver acontecido em sua vida. Se não tiver acontecido o milagre que aconteceu na vida do filho pródigo: «Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado teu filho.» — «Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou.» O milagre de que falamos, é a reconciliação do filho com o Pai. Reconciliação que se dá em Cristo. Só em Cristo, o nome «Pai» é evangelho. Em outro caso é juízo - ou é fingimento.

Louvemos a Deus por Jesus nos ter aberto a porta à casa do Pai. Por não precisarmos falar a um Deus desconhecido. Por podermos falar a um Deus de coração paterno, que nos ama, que se preocupa conosco, que nos quer vivendo consigo! Se você orar a oração dominical a próxima vez, pare após a primeira palavra — ou a primeira linha — respire fundo e trate de compreender o que você disse: Pai! Você já disse tudo! Agora fale como se fala a um pai. Fale com confiança, sem receio; fale a verdade; fale como discípulo; fale em nome de Jesus. Não reze ore! 

As preces do Pai Nosso, tanto as sete que encontramos em Mateus, como as cinco que constam em Lucas, nos fazem olhar em três direções: Primeiro, para cima: O nome de Deus, o reino, a vontade de Deus. Nós nos colocamos com nossas preces sob a realidade do céu, deixamos Deus sintonizar os nossos corações com sua vontade, com seus planos de salvação eternos. Pedimos pela vinda de seu reino. — Depois olhamos para o lado. Olhamos para este mundo e seus problemas. Pedimos pelo pão de cada dia. «Hoje», diz Mateus. «De dia em dia», diz Lucas. E pedimos que Deus nos perdoe — assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Prece perigosa, prece suicida — para quem não quer perdoar. Prece impossível para quem não experimentou aquele grande perdão inicial da parte de Deus — perdão que pôs em movimento aquela coisa maravilhosa: Eu fui perdoado -- logo posso perdoar; eu perdoei, logo posso pedir perdão. É uma verdadeira corrente ininterrupta de perdão, de amor, de aceitação. Corrente que liga o céu à terra. -- E por fim, o Pai Nosso nos faz olhar para baixo. Para o abismo: Não nos deixes cair em tentação (mas livra-nos do mal). Não há oração verdadeira que não seja feita à beira do abismo. Orar não é nenhum bate-papo do homem com Deus. Quando oramos, declaramo-nos propriedade de Deus -- e declaramos guerra ao diabo. Confessamos abertamente que somos inimigos dele. Ficamos expostos à tentação do mal -- mais do que nunca, «Não nos deixes cair — livra-nos!» Só em nome de Jesus é que poderemos orar isso! 

Dissemos há pouco que no final, o Pai Nosso nos faz olhar para baixo. É verdade. A oração do Senhor não nos embala, não nos enche com otimismo cor-de-rosa. Mas de nenhum modo nos deixa parados, como que hipnotizados pelo mal, afobados pelo abismo. Também sobre o abismo encontramos o Pai -- e mesmo através das trevas olhamos para ele: «Não nos deixes cair em tentação livra-nos do mal»: É ao Pai que o pedimos. Olhamos para ele, portanto, não para o abismo. Assim, pensando bem, não olhamos a parte alguma onde Deus não esteja presente, como Senhor, como Salvador, como Pai. E isso é boa nova — para você e para mim. 

Oremos o Pai Nosso, fazendo um intervalo de cerca de um minuto após cada prece, deixando Deus falar, e agradecendo-lhe por seu amor!

 Veja:

Lindolfo Weingärtner

Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão

Editora Sinodal

São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Lindolfo Weingärtner
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 11 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 4
Título da publicação: Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19691
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Assim como o fogo sempre produz calor e fumaça, também a fé sempre vem acompanhada do amor.
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