Leitura Bíblica Básica: Lucas 10.25-37
Outras Leituras: Deuteronômio 30.9-14
Autor: P. Elton Pothin
e-mail:
Origem: CEJ - Paróquia Martin Luther
Cidade: Joinville - SC
Data da pregação: 15/07/2007
Data Litúrgica:
Prédica:
Prezada Comunidade cristã aqui reunida.
O texto bíblico do Bom Samaritano é bastante conhecido entre nós, mas sempre nos traz ensinamentos e nos mostra o caminho do amor que devemos seguir enquanto cristãos.
No texto, um homem, um intérprete da lei judaica, ou seja uma pessoa que ensina, que esclarece, que traduz para as pessoas o significado da lei judaica, se dirige a Jesus com a intenção de pôr Jesus à prova. Não era intenção deste homem aprender de Jesus, mas de prová-lo com o objetivo de desmoralizá-lo perante aqueles que o seguiam e o consideravam como sábio e mestre. Ele havia preparado uma armadilha para pegar Jesus. E inicia perguntando a Jesus: que farei para herdar a vida eterna?
Jesus, provavelmente percebendo a intenção deste homem, não responde à pergunta, mas devolve a pergunta ao intérprete da lei: que está escrito na lei? Como interpretas?
Diante da pergunta de Jesus, o intérprete da lei cita os versículos bíblicos de Deuteronômio 6.5 e Levítico 19.18: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Ele responde com o grande mandamento do amor, que o próprio Jesus também ensinou (Mateus 22.34-40 e Marcos 12.28-31). Um mandamento antigo, que já estava na lei judaica desde o princípio.
Ao ter ouvido esta resposta, Jesus diz: Respondeste corretamente. Faze isto e viverás.
Mas o homem não se dá por satisfeito, porque queria pegar Jesus em contradição, pô-lo à prova, e isto ele não havia conseguido.
Por isso, volta a investir contra Jesus e pergunta: Quem é o meu próximo? E, ao formular esta pergunta, provavelmente pensa: agora, sim, peguei Jesus. Não tem como ele responder sem cair em contradição. Isto seria possível pelo conceito de próximo que os judeus tinham. PRÓXIMO é todo aquele que pertence ao povo judeu. Aquele que não é judeu não é próximo, é inimigo - não tem o mesmo Deus, as mesmas crenças. Se Jesus respondesse: os JUDEUS são meus próximos, todos os demais que ouviam Jesus iriam deixar de ouvi-lo e segui-lo. Se respondesse: TODOS são meu próximo, iria cair em descrédito junto aos judeus que o seguiam, e poderia ser acusado por não ensinar de acordo com a lei judaica.
Jesus percebe a armadilha contida nesta pergunta e, por isso, de novo, Jesus não responde à pergunta que lhe foi feita, mas conta a história do Bom Samaritano. E, observem, no final da história, Jesus não somente não responde à pergunta feita, mas faz OUTRA PERGUNTA ao intérprete da lei: qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?
Jesus MODIFICA a pergunta. A pergunta havia sido: quem é o meu próximo? Observem que, nesta pergunta, está implícito um julgamento do OUTRO. Eu (o puro, o certo) olho, vejo, qualifico, JULGO se o OUTRO é o meu próximo.
Ao modificar a pergunta para qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?, Jesus muda a direção do questionamento, onde EU é que vou julgado, não o OUTRO, eu é que vou verificar se EU me faço o próximo do outro. O julgamento passa a ser de mim mesmo, e não do outro. É a mesma lógica que Jesus aplica no episódio da mulher adúltera, onde ele diz aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. (João 8.1-11), ou quando diz em Mateus 7.5: Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente pra tirar o argueiro do olho do teu irmão.
Os intérpretes da lei judaica, os líderes judeus eram rápidos em julgar, em apontar os erros dos outros, e, por outro lado, se considerarem os piedosos, os certos, os corretos, os que conheciam e seguiam a lei.
Jesus, ao perguntar qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores? diz: não importa quem é o meu próximo - não importa a nacionalidade da pessoa, a idade da pessoa, se é homem, mulher, escravo, livre, judeu, grego... Importa, sim, a SITUAÇÃO da pessoa. Se ela precisa de mim, da minha ajuda. Importa, sim, é saber se eu estou disposto a ser um próximo para uma pessoa que necessita de ajuda. Daí se passa não mais a julgar os outros, mas, sim, a um auto julgamento onde não importa a situação do outro, mas, sim, a minha situação, a MINHA consciência, a MINHA postura ética, a MINHA atitude.
O interpreta da lei precisa admitir a sua derrota. Não tem saída diante da pergunta que Jesus lhe faz e é obrigado a responder: o que usou de misericórdia para com ele. Jesus foge da armadilha e ainda coloca o homem numa situação embaraçosa, uma vez que ele precisa rever conceitos, deixando de o lado julgamento dos outros para fazer seu próprio julgamento.
E este ensinamento de Jesus chega até nossos dias, ecoa através dos tempos e atinge a nós hoje. Isto porque nós também somos rápidos a julgar os outros e tardios para ver nossos erros. Este ensinamento de Jesus questiona cada um de vocês, questiona a mim. Nos faz pensar: eu me identifico com aquele intérprete da lei, que julga os outros quando pergunta: QUEM É O MEU PRÓXIMO? Ou eu me identifico com aquilo que Jesus ensinou, perguntando a mim mesmo EU SOU UM PRÓXIMO PARA AQUELE QUE NECESSITA DE MIM?
A resposta cada um deve dar conforme a sua consciência. Se a sua identificação for com aquele que julga os outros, ainda há tempo de rever conceitos, de pedir perdão, de mudar o rumo. Se a sua identificação for com o ensinamento de Jesus, você já está no bom caminho. Resta, então, pedir que Deus o mantenha firme neste caminho para que não caia.
Amen.