Prédica
Baseada em João 6.41-51
Quando, recentemente o Papa Bento XVI esteve num campo de extermínio nazista, em Auschwitz na Polônia, e pronunciou a pergunta “Onde estava Deus naqueles dias?”, ele se expôs a severa crítica. Independente do papel da Igreja Católica diante do nazismo, há de se reconhecer a coragem de verbalizar uma pergunta que expressa a atitude do ser humano diante de Deus. O sofrimento do qual não se entende a razão, e que por isso, não é aceito, se torna uma
oportunidade de recriminação a Deus.
Essa atitude é conhecida do ser humano. Freqüentemente, ignorando sua responsabilidade diante da vida e a inerente precariedade da mesma, o ser humano se volta contra Deus. Não para buscar rever sua ótica, mas para julgar a Deus.
A deficiência entre nossos queridos, oportuniza atitudes semelhantes. Quem de nós não imagina ser plausível que alguém dizer: “Como eu seria feliz se não fosse essa deficiência?” ou “Porque, Deus, você permitiu que isso acontecesse comigo?” Deus então se torna o objeto de minha condenação, de minha frustração diante da vida. No entanto, devemos nos perguntar: É justa esta atitude? Esta questão afeta somente quem sofre?
Em João 6,vemos Jesus alimentando uma multidão de ouvintes que perdeu a noção do tempo maravilhada diante da sua pregação. No dia seguinte, esta multidão encontra novamente Jesus e é recebida com a recriminação: “Vocês estão me procurando porque comeram os pães e ficaram satisfeitos e não porque entenderam os meus milagres.”
Segue-se então um diálogo em que Jesus os questiona sobre os reais motivos de seguirem-no. Na defensiva, e sem demonstrar compreendê-lo, a multidão tenta desfazer a sua importância.
Jesus continua, então, esclarecendo que o alimento que ele realmente quer oferecer é a si mesmo. Ele é o pão da vida. Enquanto o alimento material sacia momentaneamente nosso corpo, ele se oferece como pão que sacia plenamente nossa fome por vida.
A grande questão que Jesus coloca é a possibilidade do ser humano sair dessa posição de juiz de Deus e reconhecer duas questões básicas a respeito da condição humana:
Primeiro, que a vida é imperfeita. Os limites da condição humana estão sempre diante de nós. As pessoas com deficiência, neste sentido, nos podem ensinar muito porque aprendem bem cedo que a deficiência faz parte da condição humana. Nos ensinam a viver sobretudo com a fragilidade e vulnerabilidade da vida. Nos mostram como é possível lidar com as limitações e fazer sobressair nossos dons. Usando as palavras do Evangelho, todos temos fome e precisamos aprender a lidar com esta questão. Além disso, temos uma fome que sempre de novo voltará enquanto vivermos. A fome nos iguala como seres humanos, ou seja, a nossa humanidade é uma demanda para todos.
Em segundo lugar, sabemos que há uma fome maior. Uma fome por esperança e sentido da existência. Para saciar essa fome, comida e bebida não resolvem. Novamente falamos de uma condição que iguala a todos, sejam pessoas que se reconhecem com deficiência ou não. Aqui deve-se falar de Jesus como o pão da vida. Jesus vem ser o alimento dessa fome que o mundo não pode saciar e que a vida por si só não tem solução. Aqui se deve falar da fé, como a resposta à oferta de Jesus. A fé que representa uma nova atitude diante de Deus. Não mais de recriminação e julgamento, mas de confiança e entrega.
A novidade nessa nova postura é que, reconciliados com Deus, nosso olhar se desvia de nossas incompletudes para se fixar na plenitude de vida que Deus nos oferece. O amor de Deus transforma o nosso olhar. Nos torna mais solidários e cheios da graça que nos move a partilhar. Nos faz perceber que a aparente fraqueza de uma pessoa com deficiência, pode ser um tremendo testemunho de força de vida para quem se sente fraco diante dos desafios da vida. Nos possibilita vislumbrar a dimensão da força da interdependência e da riqueza da diversidade como parte do corpo de Cristo.
Encerro com palavras da canção: “Há esperança de viver em plenitude, se a fraqueza e a força derem as mãos. E a diferença não separe, mas complete. Por fé vivamos como corpo de Jesus. Então o medo e a frieza venceremos. Será a graça o impulso do servir. Caminharemos ampliando nosso abraço. No amor de Cristo, somos plenos, somos um.”
Pastor Cláudio Kupka
Índice do Caderno de Subsídios - Semana Nacional da Pessoa com Deficiência - 2006