João 4.31-38

Prédica

30/01/1972

João 4.31-38
4º. Domingo após Epifania 

Entre os 40 e 50 anos as pessoas geralmente começam a fazer um balanço de suas vidas. E um olhar ao passado mostra que, nesta vida, seguidamente colhemos alguma coisa do que semeamos. Justamente ao fazer essa revisão de vida, lamentamos algumas semeaduras. E não são poucos os que gostariam de começar tudo de novo. 

Por outro lado, é o olhar lançado ao passado que nos vai mostrar quanta semente boa também foi lançada - e não germinou. Quase todos conhecemos o imenso esforço gasto em prol de uma causa - e os escassos resultados... 

Por que isso? Exatamente porque, na vida, ninguém semeia nem colhe sozinho. A vida de cada um sempre está relacionada, entrelaçada, interligada com a vida de outros, muitos outros. São as circunstâncias de nossa vida combinadas às circunstâncias de outras vidas que determinarão muito, quase tudo, na semeadura e colheita de atos praticados e suas consequências. 

A partir desse fato, cada um deveria aquilatar, avaliar seus sucessos. Atrás dos acertos de cada um, geralmente encontramos o trabalho prévio de vários outros. E a partir dessa constatação, deveríamos considerar os fracassos e culpas do próximo. Porque o pecado quase sempre um fenômeno coletivo. Se nem todos são culpados de tudo - o certo é que todos somos culpados, diante de todos. Viver é conviver. E a convivência implica numa solidariedade total, nos bons e nos maus momentos.

Esses fatos da vida de cada um e de todos - são aplicados por Jesus à atividade de seus discípulos. Os discípulos, nós, a Igreja, somos gente enviada, gente que tem uma tarefa. E curiosamente, nessas palavras de Jesus, nossa tarefa não é comparada à semeadura, e sim, à colheita. Por que essa inesperada comparação? Estará tudo pronto, tudo feito? Não. Jesus compara nossa missão a uma colheita, justamente para que lembremos uma coisa muito importante: que antes de nosso trabalho, antes de nossos êxitos ou fracassos, antes de nossa dedicação ou nossa realização - existe aquilo que Deus já fez, existe um começo, um fundamento lançado por Deus, existem todos aqueles que já foram Igreja, foram, discípulos - antes de nós. 

Essa visão global da vida e do testemunho cristão impede toda e qualquer soberba. Impede a estreita visão do só hoje. E permite que lembremos aqueles a quem devemos muito. Ao mesmo tempo mostra nosso compromisso em relação ao futuro. As relações entre tradição e inovação, na Igreja, ficariam mais claras, mais compreensíveis, se lembrássemos que entramos (fomos introduzidos!) no trabalho de outros... Que, portanto, vivemos da dedicação, do sacrifício de outros. De outros ao nosso lado – e de outros que nos antecederam. 

Contudo, não é só isso que Jesus lembra a seus discípulos. Jesus diz mais: que nossa tarefa só será realizada com alegria, na medida em que a compreendermos como vontade e obra do próprio Deus. Em outras palavras: o cumprimento de nossas esperanças, a realização de nossos planos, nada mais são do que dádiva. Dádiva semeada por Deus. A pertinácia às vezes amarga com que alguns perseguem certos objetivos, a maneira tensa e contraída com que avançam para o alvo - nada mais representam que fanatismo. E o fanatismo nunca é alegre. Deus, o semeador, quer que nós, os ceifeiros, nos alegremos com Ele. O semeador quer Se alegrar com os que colhem. 

Com isso, Jesus está lembrando o mais importante: para Deus semeadura e colheita acontecem ao mesmo tempo. Não existe prazo, não existe espera, entre uma coisa e outra . A ação de Deus acompanha nosso trabalho - assim que para nós, só existe a decisão do momento presente. Para nós só existe a atualidade decisiva: o tempo da colheita chegou, nada mais há a esperar. Esse é o sentido das palavras: v. 36 - Nós não somos apenas cristãos para cumprir uma tarefa. Não: é através do cumprimento da tarefa que nos tornamos, cada dia, sempre de novo, verdadeiros discípulos. A própria aceitação da tarefa, a própria integração em nosso trabalho já inclui a recompensa, o fruto. Ninguém vive para trabalhar, para comer, para isso ou aquilo. Pelo contrário: é trabalhando, comendo, fazendo isso ou aquilo que estamos vivendo. Assim também ninguém é cristão para garantir a vida eterna. Pelo contrário: é vivendo o discipulado, é cumprindo a missão, é realizando a tarefa, desde já, que nos encontramos na verdadeira vida - que os evangelhos chamam de vida eterna. 

Só quem compreender sua existência diária como vida eterna, ficará livre do triste resultado de um balanço aos 40 ou 50 anos de idade. Porque Jesus não nos convida a esse tipo de avaliação. Jesus nos convida para uma tarefa, junto com outros. Tarefa na alegria de Deus e com Deus. Tarefa que introduz a eternidade no cotidiano. Nenhuma outra coisa da rá sentido maior à nossa vida. E nenhuma outra coisa pode:: rá tornar mais alegre nossa vida. 

Este culto, esta comemoração da ceia do Senhor não pretendem ser outra coisa do que a mão estendida de Deus: para que demos o passo decisivo, numa vida mais plena. Amém.

Volte para Índice de Prédicas

Veja mais - Breno Schumann

 


Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 4º Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 31 / Versículo Final: 38
Título da publicação: Auxílios para a Prática Pastoral - Seleção póstuma de prédicas e medit / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974 / Volume: P - 2
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 23306
REDE DE RECURSOS
+
Ele, Deus, é a minha rocha e a minha fortaleza, o meu abrigo e o meu libertador. Ele me defende como um escudo, e eu confio na sua proteção.
Salmo 144.2
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br