João 3.16 - A grande alegria

Prédica

25/12/1966

A GRANDE ALEGRIA
João 3.16

 

Pode-se ler, no último de uma das nossas revistas, um artigo intitulado Deus está morrendo. É um título bastante expressivo. Esse artigo sério, que merece ser lido, procura introduzir-nos na grande discussão de nossos dias, iniciada pela conclusão a que estão chegando alguns dos pensadores e cientistas de nosso tempo de que não há lugar no pensamento humano para a existência de Deus. Deus foi atingido pelas grandes transformações que deram início aos tempos modernos. É uma luta tremenda, travada principalmente ‘dentro das próprias consciências. Deus não se enquadra no pensamento humano — por isso não existe. 

A data que hoje comemoramos, porém, nos anuncia que Deus age soberanamente, sem perguntar pelos pensamentos humanos, e Ele age sempre a favor do homem, também do homem que julga não necessitar dele. 

É o que nos diz o evangelho: Naqueles dias foi publicado um decreto de Cesar Augusto (Lc. 2,1) — naqueles dias, isso é, em dias do nosso tempo e em nosso mundo, aconteceu o que nos é relatado no evangelho do Natal: Nasceu uma criança em Belém, na cidade de Davi, •deitada numa manjedoura, porque não havia outro lugar para eles na hospedaria. Vejamos — já naquele tempo não havia lugar. Mas, antes de tudo: aqui não é falado de uma idéia que se enquadrasse ou não nos nossos pensamentos; não é falado de uma hipótese ou de uma bela poesia, mas de um fato ocorrido na nossa história, em determinado tempo e lugar: naqueles dias, na cidade de Belém. Com rigorosa simplicidade e com todo o realismo nos é apresentado o acontecimento. 

Dele, porém, nos é anunciado: Nasceu-vos hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. (Lc. 2,11) Deus agiu. Deus, para o qual hoje não há lugar no pensamento humano, como naqueles dias não houve lugar na hospedaria, Deus agiu desta maneira, para salvar este mesmo mundo. Embora o mundo nada pergunte por Ele, embora o homem moderno julgue não necessitar de Deus, não deixa de ser o Senhor do mundo e de agir conforme o seu agrado e de cumprir as suas promissões — e os homens são os seus servidores que, sem que o percebam, têm que contribuir para que se realizem os planos de Deus. Ele planeja, os homens executam. 

Cesar Augusto, para garantir a arrecadação dos impostos, decretara o recenseamento geral da população do Império Romano; sem que ele ou qualquer outro tivesse a mínima ideia, é desse decreto que Deus se serve para que, conforme a promissão, a criança viesse a nascer na cidade de Davi, o grande rei; do mesmo modo, Quirino, governador da Síria, que controla a execução do decreto, e Herodes e Caifás e Pôncio Pilatos, e sem dúvida alguma, os grandes do mundo de hoje, em cujas mãos está todo o poder, para dominar e decidir sobre o destino dos povos — também eles são, seja o que for o que planejem, apenas servidores, pequenas pegas, substituíveis em cada momento na grande engrenagem dirigida pelo Supremo Senhor; com os seus planos mais ousados, com suas realizações mais inauditas, hoje como naqueles dias, eles têm que contribuir para que se cumpram os planos do Senhor. 

Que este Senhor não se enquadra nos pensamentos humanos, que ele não procede de acordo com as nossas concepções, isso o próprio evangelho do Natal nos diz com toda a clareza. Deus age como Senhor soberanamente, e como sinal de sua ação e presença nos é indicada a criança envolta em faixas e deitada numa manjedoura: nada de glória celeste, nada de majestade convincente; e sim, apenas penúria e miséria humana. Assim é Deus. 

E se perguntarmos, por que Deus procede desta maneira, por que se humilha a tal ponto de se tornar igual a nós, assim que esta criança pobre e humilde é o único lugar onde podemos encontrar a Deus — então é esta a única resposta do evangelho: Deus procede assim, porque de tal maneira amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todos que nele crêem, não pereçam, mas tenham a vida eterna. Deus ama o mundo. E não faz distinção entre um mundo que o reconhece, e outro mundo que o declara morto. Deus ama o mundo, porque este em nenhum momento deixou de ser o seu mundo. Não importa que outros se considerem senhores do mundo, declarando que não há lugar para Deus. Deus ama a este mundo que é seu, e Ele quer que todos os homens sejam salvos; que não só uma pequena parte da humanidade, mas todos venham a obter a grande alegria pela criança nascida em Belém, a alegria que será de todo o povo. E, também para que este plano de Deus se cumpra, todos têm de contribuir: alguns sem que o saibam; outros alegre e decididamente.

Deus veio a nós, tornando-se homem. Não esperou até que nós chegássemos a Ele, não esperou até que nos tornássemos dignos do seu amor. Toda a iniciativa está com Ele: solidarizou-se com a nossa existência humana, com toda a sua problemática, com toda a sua aflição. Deus não quis ficar longe de nós — desde a noite de Belém Deus está conosco, em nosso mundo, em nossa vida. 

Em seu amor Deus pensa também em ti, para que seja tua a grande alegria — como poderias deixar de aceitá-lo, com surpresa e gratidão, ser realidade também para ti e a tua vida: Nasceu-vos hoje o Salvador? Por isso não estás sozinho com a tua vida e 'os seus problemas, em nenhum momento e nenhuma situação. Cristo está presente, e a sua presença em tua vida, na família, no trabalho, no convívio com os outros, a sua presença nas tuas decisões dá um novo aspecto, um novo valor a tudo. Porque em sua presença não pode haver fracasso, não pode haver desespero nem ódio. A sua presença é paz em meio da luta, é consolo no sofrimento, é esperança diante da morte.

Nasceu-vos o Salvador — essa mensagem nos convida, para que também nós vejamos e aceitemos com gratidão o que Deus tem feito por nós, e adoremos com os anjos o eterno e poderoso Senhor que não se envergonhou de tornar-se o nosso irmão. De tal maneira Deus amou o mundo.
A alegria do Natal só pode ser a alegria sobre essa realidade — e certamente não seria a grande alegria anunciada pelos anjos, se ela não incluísse os outros, os homens ao nosso lado, e isso pela simples razão que também eles, sejam o que e como forem, antes de tudo são amados por Deus.
E Deus quer o nosso auxilio, para que esta alegria de fato seja de todo o povo. Ele quer a nossa colaboração, para que a mensagem do Natal, a mensagem do amor de Deus, da presença do Salvador, alcance também aos outros -- aos que nada sabem dela, e aos que dela se esqueceram, se esqueceram que Natal é realidade também para eles. E não há ninguém que não pudesse ajudar, para que na vida de um outro resplandeça um raio da luz do Natal. E não faltam ocasiões para ajudar que um outro perceba novamente um pouco da realidade do amor de Deus. A presença de Cristo em nossa vida só pode manifestar-se em estarmos nós com os outros ao nosso lado. Deus se tornou homem — por isso nós só podemos ser humanos uns com os outros. 

Assim, meus irmãos, Natal não apela somente aos nossos sentimentos, mas é uma pergunta dirigida à nossa consciência cristã: estamos prontos a aceitar este seu amor e deixar que ele nos una a todos os homens — a todos que hoje se alegram e com gratidão enaltecem o Senhor; mas nos una também aos outros, aos que não sabem ou não querem saber que também eles são amados por Deus? Deus quer que todos os homens sejam salvos — e Ele cumpre a sua vontade, também sem o nosso auxílio. Mas hoje Ele nos pergunta se estamos prontos a servir-lhe, para que também os outros saibam: Nasceu-vos hoje o Salvador. 

Conceda-nos o Senhor que se nos torne sobremodo grande e sempre mais importante a benigna realidade do Natal: De tal maneira Deus amou o mundo — este nosso mundo, ao qual pertencemos.

Pastor Ernesto Th. Schlieper

Natal de 1966, Porto Alegre 

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS
 


 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Natureza do Domingo: Natal

Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 16
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19598
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