João 3.1-17

Sobre o conflito dos judeus com os seguidores de Jesus

10/03/2017


Nesse quadro (pintado entre 1640 e 1650) o pintor holandês Mathias Stommer mescla duas cenas biblicas. O diálogo de Jesus com Nicodemos (João 3.1-17) e o jovem rico (Mc 10.17-31). O ponto de encontro dos dois (Nicodemos e o jovem rico) é a Torá (os dois tem nas suas mãos o Livro da Lei de Deus). Para Nicodemos - um professor da Lei - é absolutamente necessário obedecer a Torá. O jovem rico - um aluno aplicado - diz a Jesus: Mestre, a tudo isso tenho obedecido desde a minha adolescência.


João 3.1-17

Estimada Comunidade:

Na relação entre duas pessoas – ou entre grupos – é natural ocorram situações em que uma pessoa não se está de acordo com a outra, em que se tem opiniões e pontos de vista diferentes…. Esses desentendimentos podem levar a conflitos. Se os conflitos não forem resolvidos (ou pelo menos respeitados), então eles podem fazer que ambas as pessoas se sintam incompreendidas, zangadas, contrariadas – e o relacionamento entre essas pessoas vai se deteriorando ainda mais.

Os conflitos são inevitáveis. Eles simplesmente acontecem. Por isso, é importante compreendê-los para tratar de resolvê-los da melhor forma.

O texto do Evangelho de hoje nos traz uma situação de conflito. Nicodemos e Jesus conversam sobre um problema entre os judeus e os seguidores de Jesus. Nicodemos fala primeiro: Ele reconhece que Jesus é uma pessoa abençoada por Deus, porque ninguém pode fazer o que Jesus faz (curas, milagres) se Deus não estiver com ele. Mas, para os fariseus – era estritamente necessário que cada pessoa cumprisse a Lei de Deus, que era um código de 613 ordens e proibições, chamada de Torá. Para os fariseus, cumprir estritamente a Lei de Deus era a única maneira de estabelecer o Reino de Deus na terra. Não existe nada mais importante do que cumprir a Lei de Deus.

O problema para os judeus (e Nicodemos fala disso com Jesus) era que Jesus e seus seguidores pensavam e agiam de maneira diferente. Jesus dizia que mais importante que cumprir a Lei era promover a Vida. Deus quer vida para todas as pessoas, Por isso, sempre que a vida não pode ser vivida de maneira plena – então é necessário interferir, não importando se isso for em dia de sábado, ou se a pessoa é considerada impura ou pecadora. Deus quer que seus filhos e filhas tenham vida e vida plena (em abundância), ensinava Jesus.

Essas opiniões entraram em choque. Por isso, a expressão “os judeus” aparece 70x no Evangelho de Joao e somente 6x em cada um dos outros três Evangelhos. Dessas 70x, mais da metade são referências hostis a Jesus, demonstrando a gravidade do enfrentamento entre os seguidores de Jesus e os Judeus/fariseus.

Nós sabemos que conflitos podem se transformar em ódio e isso divide irmãos, amigos, classes sociais. Os judeus já tinham ódio de Jesus e de quem fosse visto com Jesus. Por isso, muitas pessoas ficaram com receio de serem vistas com Jesus e seus seguidores.
Esse receio estava também em Nicodemos, que era um dos chefes dos judeus. Por isso, ele foi procurar a Jesus de noite, quando já estava escuro. Ele não queria ser visto, não queria que ninguém soubesse que ele foi falar com Jesus. Se ele fosse descoberto falando com Jesus, certamente ele também seria criticado. Por isso, Nicodemos vai com medo. Ele não queria arriscar o seu prestígio de professor da Lei, uma autoridade importante no judaísmo

Depois que Nicodemos falou, - aqui temos uma importante lição: numa situação de conflito é preciso deixar o outro falar, sem interromper - Jesus colocou o seu ponto de vista dizendo que o Reino de Deus não vai se estabelecer na terra pela obediência a Lei, mas – para que o Reino de Deus se estabeleça sobre a terra, é preciso cada pessoa nascer de novo.
Nicodemos não entende. Não é possível voltar ao ventre materno e nascer de novo. Jesus logo esclarece que não se trata de um nascimento natural, mas de uma renovação/mudança de mentalidade e de atitudes. Como professor da Lei, Nicodemos deveria saber que no Antigo Testamento, Deus falou sobre isso através do profeta Joel:

Deus diz:
Derramarei o meu espirito sobre todas as pessoas, os filhos e as filhas de vocês anunciarão a minha mensagem, os velhos sonharão e os moços terão visões, até sobre os escravos e as escravas eu derramarei o meu espirito naqueles dias
. (Joel 2.28-29).

Jesus também faz o Nicodemos lembrar a história do Êxodo, quando o povo no deserto foi castigado com serpentes por sua falta de fé. A cura somente aconteceu pelo reconhecimento do pecado. Assim também seria necessário que os judeus olhassem para o crucificado e reconhecessem o seu pecado. Por isso, nascer de novo tem a ver com uma nova mentalidade, com uma nova maneira de agir e de viver.

Hoje em dia nós ainda usamos essa expressão “nascer de novo” – para nos referir a alguém que escapou de um acidente, que foi curado de uma terrível doença ou que superou uma difícil cirurgia. Nascer de novo é então sinônimo de ter escapado da morte. Mas a maioria das pessoas – mesmo reconhecendo que escaparam da morte - não mudam o seu modo de vida, seus pensamentos, seus preconceitos e suas atitudes. Continuam vivendo com os mesmos preconceitos e alimentando os mesmos problemas de antes.

Jesus diz aqui que NASCER DE NOVO implica em mudar de pensamentos e de atitudes. Jesus fala em nascer de novo na água e no espírito. O batismo é um testemunho público da fé, por isso, nascer de novo significa também dar testemunho, mostrar em atitudes visíveis que a pessoa mudou de pensamento.

Não é suficiente dizer que a gente tem Deus no coração e ter atitudes agressivas contra outras pessoas. Uma igreja não cresce e nem aparece com gente como Nicodemos, que vive sua fé com medo (ou onde um quer controlar a vida do outro).
Jesus nos convida a reconhecer a igreja como o nosso lugar, onde podemos nos alimentar da palavra de Deus e promover a vida entre as pessoas e o cuidado com o meio ambiente. Uma igreja cresce e aparece quando ela pratica o Evangelho, quando ela acolhe as pessoas e promove a participação das pessoas em grupos e atividades. Os conflitos na igreja devem ser resolvidos com a prática do amor. Quem se deixa encher do amor de Deus e se dispõem a ajudar ao seu irmão, não tem tempo para ficar inventando leis e normas que apenas dificultam a vida comunitária.

Desta forma, o Evangelho de hoje diz que também nós devemos NASCER DE NOVO. Martin Lutero ensinava que esse nascer de novo deve acontecer todos os dias. Devemos buscar o arrependimento e o perdão de Deus todo os dias. Para resolver  os conflitos – ou ao menos conviver pacificamente com as pessoas – devemos cuidar com o radicalismo de nossos pensamentos e de nossas atitudes. Viver com outras pessoas - é conviver - isso significa respeitar essas diferenças e tocar a vida em frente, sem necessidade julgar ou de condenar o outro.  

É difícil de fazer isso? Sim, é difícil. Tomemos esse chamado como um desafio para esse tempo de QUARESMA. Vamos pedir a ajuda  ajuda de Deus. A palavra de Deus sempre nos quer ajudar e orientar a nossa vida. Portanto, escutemos esse chamado de Jesus para cada um de nós:  para superar os nossos conflitos, para viver melhor daqui para frente, importa-vos NASCER DE NOVO. Esse é o chamado de Jesus para cada um de nós.

Amem.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 17
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 33495
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Façam todo o possível para juntar a bondade à fé que vocês têm. À bondade, juntem o conhecimento e, ao conhecimento, o domínio próprio. Ao domínio próprio, juntem a perseverança e, à perseverança, a devoção a Deus. A essa devoção, juntem a amizade cristã e, à amizade cristã, juntem o amor.
2Pedro 1.5-7
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