João 13.1-17

Prédica

31/12/1970

João 13.1-17

Fim de ano 

Servir


Só escravos lavavam os pés de alguém. Mas Jesus não o fez porque seus discípulos fossem muito orgulhosos ou estivessem cansados. Jesus não veio ao mundo para fazer aquilo que nós também podemos fazer. Jesus é o Salvador do mundo - não o lacaio do mundo. Lavando os pés dos discípulos Jesus não, só faz algo, mas está querendo dizer algo com essa ação - algo sobre a encarnação, seu sentido e objetivo. 

Através de ação que é parábola, Jesus quer ajudar os discípulos para que entendam o maior de todos os mistérios. Como? Jesus entende seu nascimento, sua vida, seu sofrimento e morte como maneira de servir

Jesus se levanta da ceia, tira a roupa e improvisa um avental com a toalha. Isso é Natal: o Cristo eterno esvazia-se de sua divindade e assume forma humana, forma de servo. 

Jesus lava os pés dos discípulos. Isso é sexta-feira da Paixão: humilhação. É provável que todos já se perguntaram por que Deus escolheu esse caminho para salvar os homens? Por que manjedoura e cruz? Por 'que não diferente, mais acessível, menos absurdo? 

A resposta da Bíblia é: os pensamentos de Deus não são iguais aos nossos - porque são pensamentos do amor. E seus caminhos também não são os nossos - porque são caminhos do amor. Se Jesus não tivesse se tornado homem como nós - Deus não seria o Deus do amor. Deus não seria o Deus do a mor, se Jesus não fosse limpar os pés dos discípulos, pés sujos do pó da estrada. Deus não seria o Deus do amor, se não fosse de um a outro, nesta noite, lavando-nos da sujidade dos caminhos que andamos neste ano que chega ao fim. 

E nós não seriamos mais gente, pessoas humanas, se não perguntássemos como Pedro: Senhor, Tu me lavas os pés? 

Sim, Jesus faz isso. Jesus quer fazer isso. Porque o amor precisa ajudar, precisa servir, precisa ter piedade e misericórdia. O amor precisa curvar-se, humilhar-se. 

Somos capazes de compreender isso? Talvez sim, talvez não. Não importa. Jesus diz que aquilo que não compreendemos agora, compreenderemos algum dia. 

Claro, não é a resposta que teríamos desejado, hoje, no fim deste ano. Ninguém chega sozinho ao fim do ano. Pelo contrário, 1970 chega conosco ao fim. Com tantas questões abertas! 

Os pensamentos de Deus tantas vezes foram contrários aos nossos. E para nós é, incompreensível, é difícil de crer que tenham sido pensamentos de amor. É difícil acreditar que 1970 tenha sido um ano de amor, um ano de graça...

Afinal de contas, nós fracassamos em tantas coisas! E fracasso sempre significa culpa. E culpa nunca é só nossa ou só dos outros. Culpa é sempre uma coisa que envolve pessoas a quem amamos. Talvez a única pessoa a quem amamos. Apesar do amor, nós nos tornamos culpados. Por quê? 

Nós perguntamos por quê? E depois nos calamos. 

E para dentro de nosso silêncio surge o Cristo que serve, que ajuda, que tem misericórdia. Para o meio de nosso silêncio culpado vem o amor de Deus. E vai de um a outro, para lavar os pés, limpar, consolar, fortalecer. 

Se conseguirmos guardar isso - saberemos que nossos pensamentos, e perguntas sem resposta, e aflições não terão a última palavra. Nem mesmo nossos pecados são a coisa última. 

A última coisa, neste dia e neste ano, não é aquilo que entendemos ou não, nem aquilo que funcionou ou fracassou, nem aquilo que encontramos ou perdemos, nem aquilo que ganhamos ou que nos foi tomado. 

A última coisa é o servir, a ajuda, a misericórdia do Cristo. A última coisa que nos resta e que permanece, é um Cristo que se curva, se ajoelha diante dos discípulos e faz o serviço do mais humilde dos escravos. 

Por isso, não é nossa a última palavra, neste ano. Não é nossa a última ação. A última palavra e a última ação, neste 19.., se chamam amor.
E isso também vale para o novo ano. Ninguém de nós sabe, se em 19.. seu nome será Pedro, o que negou a Cristo, ou se será o nome de qualquer dos discípulos que o abandonaram e ou se será Judas. 

O que desejo dizer a todos, porém, é que nenhum erro, nenhum engano, nenhuma queda, nos pode colocar fora dos céus e da terra. Mas o amor de Deus engloba céus e terra. Ninguém pode ir tão longe, cair tão fundo - porque o amor vai mais longe e mais fundo, E, se a dor e o sofrimento nos curvarem - existe um que se curvou mais ainda para nos lavar os pés. 

Que o novo ano seja um ano de amor!

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Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Natureza do Domingo: Silvestre/Véspera de Ano Novo

Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 17
Título da publicação: Auxílios para a Prática Pastoral - Seleção póstuma de prédicas e medit / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974 / Volume: P - 2
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 23335
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