Prédica: João 12.20-33
Leituras: Jeremias 31.31-34 e Hebreus 5.7-9
Autor: Antônio Luiz João
Data Litúrgica: 5º Domingo da Quaresma
Data da Pregação: 20/03/1994
Proclamar Libertação - Volume: XIX
1. Introdução
O texto de reflexão para o 5° Domingo da Quaresma faz parte do ministério público de Jesus Cristo. Começa no capítulo 2 e vai até 12.36 com a expressão: Retirando-se, ocultou-se deles. A partir disso, o evangelista discute a questão da incredulidade, que é a tônica no ministério público de Jesus, na visão do evangelista. Termina com uma nota triste: Contudo, muitos dentre as próprias autoridades creram nele, mas por causa dos fariseus não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga (v. 42).
Usando o texto como recurso literário, o evangelista conclui sua descrição do ministério público de Jesus com um resumo das temáticas desenvolvidas nos discursos.
2. Texto no contexto
Para focalizar mais de perto nosso texto, olhemos alguns acontecimentos que culminam na última pregação pública de Jesus.
A ressurreição de Lázaro agitou a opinião pública e inquietou os detentores do poder e do saber. Criou-se um complô de morte contra Jesus. Desde aquele dia resolveram matá-lo (11.53).
A unção espontânea e gostosa de Jesus por Maria alvoroçou ainda mais o ambiente. O desejo de morte intensificou-se; na lista negra estava também Lázaro. Mas os principais sacerdotes resolveram matar também Lázaro (12.10). A unção é vista por Jesus como um embalsamamento antecipado (12.7); é a ideia da morte predominando em meio a uma festa.
A entrada triunfal em Jerusalém, com a popularidade em alta, é daquelas de lazer inveja a qualquer político. Os passos de Jesus estão sendo observados pelos que têm desejo de morte e sede de sangue (12.19).
A ideia de morte está inserida nos acontecimentos; é a mensagem subliminar. Em meio à morte acontece a ressurreição de Lázaro. A liderança religiosa, preocu¬pada com o grande sinal — a ressurreição, convoca uma reunião, e Caifás pronuncia a sentença (11.47-57). A popularidade de Jesus aumentou com a ressurreição de Lázaro (11.9 e 12.17-18).
O evangelista dá ênfase muito grande à multidão. Em todos os acontecimentos em torno de Jesus, a multidão está lá com suas ações e reações. Somente no capítulo 12 ela é mencionada cinco vezes (9,12,18,29,34). A oposição faz parte da multidão e fica incomodada: Eis aí vai o mundo após ele. Quais são as ações e reações diante dos acontecimentos? Crença (11.45 e 12.11); denúncia (11.46); desejo de matar (11.53); veneração (12.3); curiosidade (12.9 e 18); euforia (12.12 -13); incredulidade(12.37); medo (12.42).
A multidão está quase sempre relacionada aos judeus. João está preocupado em descrever a reação dos judeus diante da mensagem e atos de Jesus. Apenas no versículo 20 do capítulo 12 ficamos sabendo da existência dos gentios - os gregos no meio da multidão. É claro que a intenção do evangelista é dar um caráter universalista às mensagens.
3. Texto
Quando se lê o texto, vêm à mente duas perguntas: l — Quem são os gregos? 2 — Por que queriam ver Jesus? As perguntas não são respondidas no texto. Apenas temos nossas próprias conclusões.
Os gregos eram tementes a Deus que aderiram ao costume judaico ou foram atraídos pela fé judaica, a exemplo de Cornélio (At 10.1-3).
Motivados pela notícia da ressurreição de Lázaro e pela manifestação popular em torno de Jesus (12.12-13,17), resolveram vê-lo, contemplar aquele que passou a ser o centro da festa. É o desejo de ver o Jesus dos bonitos discursos e dos milagres.
O que incomoda a todos nós são as palavras de Jesus. Ele não se deixa levar pela popularidade ou fama. Ele não se deixa levar pela euforia da multidão. Seu último discurso é iniciado com a expressão: É chegada a hora. João descreve um Jesus obstinado em cumprir seu objetivo de morte, ressurreição e salvação. Não é chegada a hora (2.4; 7.8 e 30; 8.20). É chegada a hora (12.23). Vim para esta hora (12.27).
Fazer um discurso sobre a própria morte, quando sabemos que está próxima e que será violenta, deixa qualquer um angustiado (12.29). Para os opositores, morte é sinônimo de silenciar, calar. Para Jesus, morte é sinônimo de glorificação, frutificação. É a metáfora do trigo que, caindo na terra, morre e produz fruto (v. 24). Comparar com Isaías 53.11 e Hebreus 5.7-9. Ali fala do sofrimento e agonia, porém, Jesus tornou-se autor da salvação.
O tema da glorificação está incluído no discurso (v. 23). É chegada a hora de ser glorificado o Filho do homem (v. 28). Pai, glorifica o teu nome. Já glorifiquei. E glorificarei.
Não é difícil perceber a ligação entre glorificação e morte. Ao cumprir sua missão messiânica, Jesus estava satisfazendo totalmente os planos de Deus, no que se refere à salvação, à redenção dos homens; quando levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo. Esse mesmo tipo de recurso é usado na conversa com Nicodemos (3.14-15).
O cumprimento da missão de Cristo é uma forma de julgamento do mundo. Na morte de Jesus condena-se todo e qualquer tipo de morte e todos os que operam na manutenção da morte. É a denúncia e expulsão do príncipe desse mundo, que tem prazer na morte, que é o líder da antivida (10.10). Jesus não tem prazer nela e nem quer perpetuá-la (v. 27).
Jesus não fala apenas de sua missão. É também a missão de seus discípulos. Onde eu estou, ali estará também meu servo (v. 26). Onde Ele está? A caminho Ia morte, sendo levantado numa cruz, realizando os planos do Pai e denunciando o príncipe deste mundo. O caminho do Cristo é o nosso caminho. Usando os salmos, Paulo diz: Por amor a ti somos entregues à morte o dia todo... (Rm 8.36). Estar dentro da nova aliança (Jr 31.31-34) é justamente amar e trilhar os caminhos do Mestre. Muitos tomam as atitudes dos gregos. Apenas querem ver Jesus. Motivados pela popularidade do Jesus das grandes igrejas, pelo Jesus das facilidades, pelo Jesus dos palácios. Vale a exortação do v. 25. Quem não estiver dispondo a própria vida não merece estar no Reino de Deus; o Jesus que os Evangelhos nos apresentam não atrai muita gente, porque fala de um Jesus que não é comprometido com os poderosos, com os ricos, que não tem acesso fácil aos palácios, que rompe com as estruturas criadas pelos homens.
4. Sugestões para a prédica
4.1. Em nossa meditação, não podemos perder de vista que estamos no período da Quaresma. Quaresma é o momento oportuno para refletirmos sobre nossa vida como discípulos de Cristo e participantes do Reino de Deus. O texto é sugestivo, porque questiona a nossa disposição em estarmos onde nosso Senhor está. Nesse 5° Domingo da Quaresma é oportuno refletirmos com a comunidade sobre os caminhos da Igreja hoje, que, em geral, não reflete Jo 12.20-33.
Sugerimos que se mencionem irmãos nossos que, comprometidos com o amor a Cristo, estão trilhando os caminhos do Senhor. A leitura dos livros Colheitas de Esperança, do CLAI, e A Igreja rumo ao Ano 2000, de Valdir Steuernagel, Missão Editora e Visão Mundial, enriquecerá muito a prédica.
4.2. A prédica poderá enfocar apenas a morte de Jesus como preparação para a comemoração da Páscoa. Refletir com a comunidade que a morte violenta de Cristo é a denúncia da desumanidade do homem, que insiste em perpetuar os agentes da morte.
4.3. Motivados pelo estudo do texto, escrevemos uma reflexão, que foi publicada nos jornais que circulam em Cascavel (PR) e região. Transcrevemos esse estudo aqui na íntegra, como sugestão para a prédica ou discussão em grupos pequenos: Quem tem apego à sua vida vai perdê-la; quem despreza a sua vida no mundo vai conservá-la para a vida eterna (v. 25). O interessante é notar que essas palavras de Cristo fazem parte de um assunto cativante. Leia em sua Bíblia — não importa qual a edição — os versículos 20 a 28. O assunto é sobre a missão do Messias. Cristo quer nos ensinar sobre o segredo da vida, que contém: glória, morte, serviço e honra. Para Cristo, algumas pessoas perdem e outras ganham a vida. O interessante é que perder a vida ou ganhá-la é opção de cada um de nós; é claro que a nossa preferência será sempre por ganhá-la. Porém, o ganhá-la não depende da preferência de cada um; está intimamente ligado à atitude de cada um de nós perante ela — a vida. Todos afirmam que vida é um conjunto de coisas: emprego, dinheiro, saúde, família, moradia, amizade, etc. É claro que tudo isso é importante. Precisamos de cada um em particular. Mas, é inegável que muitos têm tudo isso e ainda são infelizes. Como conciliar quando nos corações há amargura, ira, egoísmo, indiferença, competição, desamor, etc.?
Cristo afirma que podemos perder a vida. Quem a perde? Será que é somente quem entra pelos caminhos do vício (álcool e outras drogas), ou aqueles que entram pelo caminho da jogatina e promiscuidade? Há muitos ricos, bem-de-vida, cheios de saúde, bonitos, certinhos , que estão igualmente perdendo a vida. Cristo afirma que quem despreza a vida vai conservá-la. É lógico que ele não está mandando menosprezar a família, desprezar o emprego ou mesmo viver desleixado. Para entender a afirmação de Cristo, é necessário ver o que a vida contém: morte, serviço, discipulado e honra. Ele está falando da sua própria missão de salvação. Ele abriu mão de sua vida: Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Fez da sua vida um serviço para os homens: O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir (Mc 10.45). Seguiu a vontade de Deus. O resultado final foi a glorificação, a honra recebida.
Aqui está o segredo revelado por Cristo: viver sem a disposição de servir, no orgulho e na indiferença, viver longe de Deus, não ser discípulo de Cristo, é desprezar a vida, é desamá-la, é, por conseguinte, perdê-la. O apego à vida significa tê-la para si mesmo, viver de forma egoísta. Muitos estão insatisfeitos porque têm a vida para si, não aprenderam o segredo de Cristo. Viver é sentir. É dar-se. É ser discípulo de Cristo. É estar disposto para a morte. Como resultado, recebe-se a honra de Deus, isto é, a vida.
4.4. Sugerimos, também, que se use, do Proclamar Libertação X — Auxílios Homiléticos, p. 266, o item VI — Rumo à prédica.
5. Subsídios litúrgicos
Além das orações que normalmente são feitas durante o ato da celebração, poderá ser lido, junto com a oração de confissão de pecados, Hebreus 5.7-9, destacando o motivo de Jesus ser o autor da salvação.
A canção Grão, cantada pelos grupos Viva a Vida e Gente de Casa, no disco Revivendo, poderá ser usada junto com a oração da coleta.
O texto de Jeremias 31.31-34 poderá ser usado com a oração final. Esse texto enfatiza que Deus quer escrever em nossos corações.