João 1.1-14

Auxílio Homilético

25/12/2018

 

Prédica: João 1.1-14
Leituras:Isaías 62.6-12 e Tito 3.4-7
Autoria: Júlio Cézar Adam
Data Litúrgica: Dia de Natal
Data da Pregação: 25 de dezembro de 2018
Proclamar Libertação - Volume: XLIII

O Natal e os entusiasmos

1. Introdução

Natal é, no Brasil, a festa mais celebrada, não apenas na igreja. A sociedade como um todo celebra com entusiasmo essa festa, muitas vezes, sem uma noção mais teológica e espiritual cristã sobre seu sentido. O comércio talvez seja o principal impulsionador desse entusiasmo. Além disso, o Natal está em uma época privilegiada no calendário civil brasileiro, o que contribui para o sucesso da festa e também do próprio mercado. É final de ano, fim do ano escolar, início das férias e do verão, época de ir à praia, descansar, encontrar familiares, pessoas amigas. O Natal, assim como a passagem de ano, fecha um ciclo e inicia um novo. É um tempo de esperar por um novo ano, com aquela esperança de que se o ano passado não foi tão bom, talvez o ano novo guarde algo mais positivo. Por tudo isso o entusiasmo natalino aqui é muito diferente do espírito de maior recolhimento e privacidade que vemos em países da Europa, por exemplo.

Mesmo assim, o entusiasmo natalino leva muitas pessoas às igrejas, uma grande oportunidade para pregar o evangelho de forma cativante e relacionar o milagre da estrebaria de Belém com o entusiasmo dessa época. Se olharmos os textos bíblicos previstos para este dia, veremos uma riqueza imensa a ser proclamada. Em Isaías 62.6-12, somos lembrados da promessa de Deus de trazer o povo de volta para Jerusalém. Voltar para casa – algo que muitas pessoas acabam fazendo no Natal – é aqui prometido. Não apenas voltar para casa, mas voltar para poder ficar, comer o próprio pão e tomar o próprio vinho (v. 8 e 9). O Salvador está vindo, trazendo o povo a salvo para uma cidade que novamente será habitada.

Em Tito 3.4-7 encontramos também uma palavra de salvação, manifesta por meio da benignidade e do amor de Deus, não para estabelecer um povo numa cidade, mas justificar as pessoas por graça, tornando-as, assim, herdeiras na esperança da vida eterna. Essa salvação acontece por meio do lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, derramado sobre as pessoas por meio de Jesus Cristo. Tito deixa claro que tudo isso acontece não por justiça e obra humana, mas tão somente por iniciativa e ação misericordiosa de Deus (v. 4 e 5). Ou seja, em ambos os textos se fala de algo novo e grandioso que Deus realiza. Em Isaías, o centro está no povo trazido de volta do exílio para sua cidade reconstruída. Em Tito, o centro da salvação está naquilo que Deus faz por cada pessoa: aceitar a pessoa e torná-la herdeira na esperança da vida eterna, através da ação da dádiva do Espírito Santo, a partir da salvação operada por Jesus Cristo.

Nenhum dos dois textos tem uma relação direta com a narrativa do Natal, mesmo que ambos falem de grande esperança que vem a partir daquilo que Deus faz por meio do Salvador. O texto de João 1.1-14 deixa mais explícita a relação com a celebração do Natal, mesmo sendo um texto que também não relata o nascimento especificamente. Se Isaías está mais concentrado na reconstrução de Jerusalém, e Tito mais focado na salvação pessoal do ser humano com vistas à vida eterna, o texto do evangelho expande a salvação para níveis cósmicos, colocando o Verbo atuando na criação de tudo que há. Surpreendentemente esse Verbo cósmico se torna carne, vida, criança na manjedoura de Belém, no Natal.

2. Exegese

O Evangelho de João difere dos evangelhos sinóticos pela maneira como relata o evento de Jesus Cristo. Essa diferença se dá em grande medida na linguagem, que tem influência de círculos místicos e de conhecimento e sabedoria judaicas, algo que se aproxima também à gnose. Um exemplo disso é o uso de certo dualismo, como luz e trevas, verdade e mentira, anjo da luz e anjo das trevas etc. O evangelho utiliza poesia, metáforas e linguagem figurada, refletindo um caráter cultual e sacramental judaico na vida de Jesus. O evento de Jesus Cristo é revelado envolto no grande mistério da Páscoa, assemelhando-se a uma forma primitiva de pregação cristã, sob a direção do Espírito Santo. Nada é simplesmente relatado, dito ou ensinado, mas tudo é revelado dentro de um espírito simbólico, metafórico, poético, sapiencial e sacramental, como forma de manifestar algo especial, extraordinário, mesmo que simples e discreto. O objetivo do evangelho é revelar que Jesus é o Messias, a verdadeira e plena encarnação de Deus. É exatamente nesse mesmo espírito que encontramos no prólogo do evangelho: Jesus é o Verbo feito gente que veio dar vida aos seres humanos (1.14).

Olhando especificamente para nossa perícope, percebemos que o Evangelho de João inicia com uma poesia densa, surpreendente, uma das páginas mais sublimes da Bíblia (Niccaci; Battaglia, 1985, p. 33). O texto, seu conteúdo e a maneira como é construído realmente são impactantes, dando um caráter de prólogo, de anúncio condensado de algo extraordinário que está acontecendo: um Deus que se digna a tornar-se gente para habitar entre nós e revelar a si mesmo. Suspeita-se que o prólogo tenha sido colocado, posteriormente, no início do evangelho, assim como fazemos muitas vezes nossas introduções de trabalhos e textos. Outra possibilidade é que o texto tenha sido originalmente um hino litúrgico preexistente e que era conhecido no círculo joanino. O autor do evangelho provavelmente o complementou para usá-lo na abertura da sua obra (Niccaci; Battaglia, 1985, p. 33). Há relação desse texto e seu estilo com textos da sabedoria do Primeiro Testamento, como, por exemplo, Sabedoria 9.9-12 ou Provérbios 8.22-36. Ali se entende que a Sabedoria está no princípio com Deus, participa da criação, virá à terra para agraciar a humanidade.

Diferentemente do que prevê o Lecionário Comum Revisado da IECLB, os comentaristas bíblicos sugerem que a perícope seja ampliada até o versículo 18. O prólogo funciona como uma introdução de uma peça musical organizada em 21 capítulos, o Evangelho de João completo. Flanagan (1996, p. 6) observa também que esse texto poético usa um tipo de paralelismo de ideias característico da tradição hebraica. No caso do prólogo do João, o autor ressalta que se trata de um paralelismo invertido, demonstrado da seguinte maneira:

1. A palavra de Deus (v. 1-2)
2. Papel na criação (v. 3)
3. Dom à humanidade (v. 4-5)
4. Testemunho de João (v. 6-8)
5. A Palavra entra no mundo (v. 9-11)
6. Pela Palavra somos filhos e filhas
de Deus (v. 12-13)
1. O filho ao lado do Pai (v. 18)
2. Papel na recriação (v. 17)
3. Dom à humanidade (v. 16)
4. Testemunho de João (v. 15)
5. A encarnação (v. 14)

Sobre o texto do prólogo, em si há vários termos que despertam a atenção do leitor e da leitora. O primeiro deles é o termo Verbo (Logos), a Palavra ou a Revelação. Segundo a poesia, o Verbo não só é preexistente, como também está estreitamente relacionado ao próprio Deus. Esse termo, ao lado dos termos “graça e plenitude”, estarão ausentes no restante do evangelho. A oposição entre trevas e luz fica aqui também evidente, algo que, sim, estará presente em todo o evangelho.

Olhemos cada uma das partes da perícope separadamente.

V. 1-3: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. Chama atenção o uso do termo “Verbo” (logos, em grego), que é um termo polissêmico, denso e rico. Pode--se entendê-lo como a palavra de Deus, o dabar hebraico, palavra carregada de potencialidade, palavra criadora, pode-se entendê-lo como mensagem e revelação. Acima de tudo é um termo que condensa mais do que apenas uma palavra ou ideia. Diria que tem densidade simbólica, no sentido de que abre para a grandeza do mistério divino. É transcendente. Esse verbo está junto de Deus, quase formando uma unidade, como se a Palavra e Deus se equivalessem, não no sentido de identidade pessoal, mas de essência. Esse verbo está presente antes da criação e foi o meio através do qual a criação foi feita. Esse sentido e significado do verbo, somada a expressão “no princípio” não deixam dúvida de que em Jesus Cristo inicia uma nova criação. Há que lembrar que Jesus ressuscita no primeiro dia da semana, marcando assim esse caráter. Há uma dinâmica que está sendo desencadeada: o mundo está sendo recriado através de Jesus Cristo. Ele não só é o mediador da criação, mas o revelador do Pai e o mediador da filiação divina aos que creem.

V. 4-9: A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela. Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João. Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele. Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz, a saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem. O tema principal aqui é a luz. O termo luz é apresentado como sinônimo de vida. A luz, primeira coisa criada por Deus na criação, por meio da Palavra (Disse Deus: haja luz – Gn 1.3), é a essência do Verbo, a vida. Importante considerar que a vida aqui é mais que uma vida transitória, pessoal. Vida (zoē), para João, é a vida eterna. Em 1 João 5.11 diz que Deus nos deu a vida eterna e essa vida está em seu filho. Essa luz, essência da vida eterna, ilumina as pessoas, resplandece apesar das trevas. A manifestação da luz é tão divina, que as trevas não prevalecem contra ela. Ou seja, para João, a antítese luz e trevas não é uma questão de escolha moral, mas uma constatação fundamental: só há a luz divina. O homem enviado para dar testemunho da luz, João Batista, não deve ser confundido com a própria luz. A verdadeira luz que alumia toda pessoa é Jesus Cristo, que está chegando. Em João 8.12 novamente se diz que Jesus é a luz, e em 9.5 se fala da vinda luz.

V. 10-13: O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. O tema aqui é a incredulidade e a fé. Pode-se dizer que estamos no centro temático do prólogo. Não há sentido algum na vida da luz se ela não é recebida e conhecida pelas pessoas. E mais que isso: não basta ser conhecida e recebida como que por uma necessidade do próprio Deus, mas o motivo supremo da encarnação, ou seja, de todo o evento Jesus Cristo, é tornar o ser humano filho de Deus por meio da fé. O paralelismo de João aparece também neste trecho: os que não reconheceram a luz e os que creram e a receberam. O cerne do prólogo, portanto, está naqueles e naquelas que se deixam iluminar pela luz. Deixar-se iluminar pela luz significa ser tornado filho e filha de Deus. Para João, o termo “mundo” (v. 10) significa oposição à criação. Trata-se do mundo marcado pelo pecado, dominado por Satanás (12.31). Por isso o uso da expressão “feito por intermédio [do Verbo]” e “para o que era seu”. Aqui, especificamente, significaria todas as pessoas e não apenas Israel, que por causa do pecado e do mal, estão afastados de Deus e separadas da criação. “O poder ser filhos e filhas de Deus” (v. 13) é algo marcante. Significa deixar-se como que ser recriado por meio de Cristo. Não é apenas reconhecer, mas sim aderir ao Verbo totalmente, algo que só é possível por meio da fé (final do v. 12). Esses e essas nascem agora da vontade de Deus. Ou seja, a mesma força dinâmica e criadora do Verbo, que impulsiona à existência tudo que há, encarna-se em Jesus Cristo, luz e vida verdadeiras, através de quem, por meio da fé, cada pessoa pode também ser recriada com filha de Deus. Essa é a mensagem do Natal!

V. 14: E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. A encarnação do Verbo é condicio sine qua non da culminância e da viabilidade da graça e da verdade para dentro da vida, do mundo. Sem a encarnação em Jesus Cristo, nada do que o prólogo anuncia e prenuncia de todo o evangelho seria possível. Dizer que o Verbo se fez carne significa dizer que desceu da esfera divina para a categoria das criaturas. Ao tornar-se ser humano, dignou-se a estar conosco. O termo “Verbo”, do v. 1, reaparece somente aqui, no v. 14, evocando todo o desenvolvimento anterior. Graça e verdade reforçam a essência do Verbo, a luz, a vida eterna. Uma possível tradução para o “habitou entre nós” seria “armou sua tenda entre nós”, que também remonta à tradição da primeira aliança do Deus que se faz presente, acampa, caminha com seu povo. A encarnação significa presença de Deus através do humano, único meio para o vislumbre da presença, da manifestação de Deus. Jesus Cristo, o unigênito do Pai, ou seja, em unicidade absoluta, o Verbo encarnado, é todo o acesso possível a tudo que Deus é. A humanidade de Cristo é a nova tenda da presença de Deus. Ao mesmo tempo em que esse tudo ainda se mantém encoberto e escondido.

3. Meditação

Como vimos acima, na introdução, no Brasil o Natal é uma festa de entusiasmo, em grande medida porque o ano de trabalho e estudo está terminando e as férias, o verão, a praia, o encontro com pessoas amadas serão possíveis. Natal é, portanto, um tempo de encontro consigo, com a natureza, o descanso, com pessoas. Por trás desse motivo entusiasmante, o prólogo de João coloca em poesia um encontro cósmico do Verbo que se digna a armar sua tenda no meio da vida humana e nos dar acesso, por meio de Jesus Cristo, à dinâmica criadora e salvadora de tudo que Deus é. Isso sim é motivo para entusiasmo. Lembremo-nos de que o termo entusiasmar deriva do verbo grego enthousiazein, que significa “estar inspirado, possuído por Deus”, ou de “entheos”, “divinamente inspirado”.

Parece que no Natal brasileiro temos um choque de entusiasmos: do final de ano e do que deveria ser o verdadeiro, que é a encarnação de Deus no menino de Belém, através de quem cada ser humano pode deixar-se também entusiasmar, tomando parte na mesma dinâmica criadora e restauradora de Deus. Esse segundo entusiasmo parece já não entusiasmar mais. Suspeito que o motivo desse desentusiasmo evangélico não é apenas devido ao entusiasmo do cotidiano, da festa de final de ano, mas sim devido ao discurso teológico e à pregação a respeito da encarnação que já não falam algo com sentido para a vida das pessoas. Parece que as palavras impactantes – como encontramos no prólogo – sobre o sentido do Natal ficaram desentusiasmadas, palavras que já não falam do sentido que ali habita. Mesmo assim, deveríamos encontrar na encarnação do Natal o mesmo entusiasmo presente nos festejos e ritos do final do ano. Parece que o entusiasmo de final de ano funciona como uma “religião vivida”, um novo conjunto de sentido que as pessoas atribuem a tradições e conteúdos religiosos originários. A religião vivida empolga mais porque pode ser livremente associada a questões concretas da vida cotidiana. Por isso não é suficiente apenas moralizar a prática da religião vivida, contrapondo o “verdadeiro” sentido bíblico, evangélico. O exercício da pregação deve ser justamente de permitir que Cristo se encarne na vida das pessoas através da pregação da Palavra, por meio da ação do Espírito Santo. Pregar é entusiasmar a fé de pessoas e da comunidade. Como fazer isso? Pregando sobre o Natal! Pregar sobre o Natal a partir do prólogo de João é mais que apenas contar uma história bonita de um menino que nasce em uma estrebaria, em Belém. A história de Natal não tem sentido em si sem odomingo da Páscoa! A pregação sobre o Natal não tem sentido se não entusiasmar as pessoas, ou seja, refletir sobre o que significa a encarnação de Deus para dentro da vida das pessoas. A mensagem do Natal deveria libertar as pessoas de construir por conta própria o entusiasmo de final de ano e ajudar a entender que Deus cria na vida de quem crê um entusiasmo novo, mobilizador, transformador. Não preciso ir para o novo ano apostando na sorte de que o ano será melhor. Com a encarnação há, de fato, algo sendo operado, uma nova criação, em favor da pessoa e da comunidade crente. Jesus não nasce apenas em Belém, ele nasce dentro da vida de cada pessoa que crê, ele nasce cheio de graça e verdade na vida da comunidade. Esse é o entusiasmo do Natal e precisa encontrar as palavras para expressar-se com sentido.

4. Imagens para a prédica

No ponto anterior já deixei transparecer imagens para a prédica. As imagens do entusiasmo de final de ano poderiam ser encenadas ou projetadas. Por outro lado, o prólogo em si tem uma imagem fascinante da dinâmica criadora e cósmica do que está sendo feito por meio de Jesus Cristo. Toda essa dinâmica divina tem a ver com nossas vidas, comuns e simples, tão somente por meio da fé. Tudo o mais já está feito por Deus. A prédica deveria ajudar a refletir que a encarnação de Deus ou seu nascimento em Belém não é apenas uma história, mas sim um evento que tem impacto na vida de cada pessoa. Lembro-me do texto de João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina, onde ele conta sobre o nascimento de uma criança no mangue pobre. Essa criança pobre, franzina e feia é a fonte da esperança e de entusiasmo. O mesmo franzino é belo, porque é uma porta abrindo-se em mais saídas. Belo porque tem do novo a surpresa e a alegria:

“– De sua formosura já venho dizer: é um menino magro, de muito peso não é, mas tem o peso de homem, de obra de ventre de mulher. – De sua formosura deixai-me que diga: é uma criança pálida, é uma criança franzina, mas tem a marca de homem, marca de humana oficina. – Sua formosura deixai-me que cante: é um menino guenzo como todos os desses mangues, mas a máquina de homem já bate nele, incessante. – Sua formosura eis aqui descrita: é uma criança pequena, encrenque e setemesinha, mas as mãos que criam coisas nas suas já se adivinha. – De sua formosura deixai-me que diga: é belo como o coqueiro que vence a areia marinha. – De sua formosura deixai-me que diga: belo como o avelós contra o Agreste de cinza. – De sua formosura deixai-me que diga: belo como a palmatória na caatinga sem saliva. – De sua formosura deixai-me que diga: é tão belo como um sim numa sala negativa. – É tão belo como a soca que o canavial multiplica. – Belo porque é uma porta abrindo-se em mais saídas. – Belo como a última onda que o fim do mar sempre adia. – É tão belo como as ondas em sua adição infinita. – Belo porque tem do novo a surpresa e a alegria. – Belo como a coisa nova na prateleira até então vazia. – Como qualquer coisa nova inaugurando o seu dia. – Ou como o caderno novo quando a gente o principia. – E belo porque o novo todo o velho contagia. – Belo porque corrompe com sangue novo a anemia. – Infecciona a miséria com vida nova e sadia. – Com oásis, o deserto, com ventos, a calmaria.”

O termo “entusiasmo” poderia ser aproveitado na pregação. O que nos entusiasma? Qual o entusiasmo da época do Natal? Qual o entusiasmo do Natal?

Outra imagem importante que não deve ser esquecida é o contexto de trevas em que vivemos. Vivemos um período de trevas no Brasil e no mundo, um período severino, trevas que se manifestam na intolerância frente às diferenças, no ódio, na desigualdade social e humana, na violência disseminada no cotidiano brasileiro, a falta de esperança e perspectivas políticas. Natal é reafirmar que a luz de Jesus Cristo prevalece em meio às trevas, simplesmente porque o criador da luz se encarna naquele menino que nasce numa estrebaria e nos chama para ser seus filhos e suas filhas.

5. Subsídios litúrgicos

Oração de coleta

Verbo Divino, tu que criaste a vida e tudo o que existe. Tu que te fizeste carne no Pequenino de Belém, vencendo assim as trevas da desesperança e do medo, nós te pedimos que tu venhas cheio de graça e de verdade nascer de novo em nossas vidas e na vida de nossa comunidade, para que possamos nos reconhecer novamente como teus filhos e tuas filhas e, assim, testemunhar a tua luz em meio à violência, ao cansaço e à injustiça. Por isso agora te pedimos: que teu Espírito Santo fale a nós por meio do Verbo, tua Palavra, para que possamos fortalecer a fé no milagre do Natal; para que possamos iniciar um novo ano, como pessoas entusiasmadas pela tua novidade, vivenciar tua glória e transformar o mundo. Por Jesus Cristo, Deus conosco, unigênito contigo e o Espírito Santo. Amém.

Bibliografia

NICCACI, Alviero; BATTAGLIA, Oscar. Comentário ao Evangelho de São João. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.
FLANAGAN, Neal M. El Evangelio y las Cartas de San Juan. Collegeville: The Liturgical Press, 1996.


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Autor(a): Júlio Cézar Adam
Âmbito: IECLB
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2018 / Volume: 43
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 50264
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