Volta e meia a Cacá chama a minha atenção: Cuidado para não deixar a torneira do banheiro pingando. É desperdício. Ela precisa ser bem apertada. Às vezes, fico chateado. Mas, sempre de novo, quando lavo as minhas mãos, não aperto o suficiente. Certo é que eu deveria tomar consciência e ter mais cuidado. Em forma de confissão, apresento uma situação doméstica, a qual é frequente em todos os lares. Sem ser chatos, precisamos nos cuidar e corrigir mutuamente. O mesmo acontece dentro da igreja. Sabemos o que é certo e o que precisa ser feito. Mas, de novo, esquecemos e erramos. Então, lá vem o pastor ou a missionária com a mesma conversa. Dá a impressão que, logo após sair do templo, esquecemos muito do que ouvimos e vivemos. É a nossa natureza. Todavia, eu creio também que, com o passar do tempo e muita insistência, certas verdades e princípios vão se solidificando em nossa mente e coração, moldado assim o nosso caráter. Por isso, meu conselho pastoral: Se tiver oportunidade, leia a Bíblia, devocionários e boa literatura cristã. Escute louvores. Participe e se envolva nas atividades da comunidade, principalmente dos cultos. A maturidade é possível. Mas, precisa ser desejada e buscada com insistência. Somos barro nas mãos do Oleiro.
Voltemos ao Evangelho. Por meses, os discípulos caminharam ao lado de Jesus. Ouviram o chamado e a palavra da boca do próprio Filho de Deus. Observaram maravilhas. Mesmo assim, em certas situações, eles mostravam fragilidades e incertezas. Contudo, Jesus - que é sempre amoroso - não se isentou de puxar a orelha deles, assim como um pai ou uma mãe faz com seu filho que ama. Da mesma forma, um pastor ou uma missionária precisa fazer com os fiéis. Nem sempre é uma situação agradável. Mas, faz-se necessário. Então, ouçam o relato do evangelista (Marcos 8.14-21). Recordem que tal situação aconteceu logo após a multiplicação dos pães e do diálogo de Jesus com os fariseus. Eles pediram um sinal do céu. Jesus precisou deixar claro que o “sinal” estava na terra, diante deles. Mas, é pouco provável que tenham entendido o recado de Jesus.
OS DISCÍPULOS HAVIAM SE ESQUECIDO DE LEVAR PÃO. HAVIA SOMENTE UM PEDAÇO DE PÃO NO BARCO. ADVERTIU-OS JESUS: ESTEJAM ATENTOS E TENHAM CUIDADO COM O FERMENTO DOS FARISEUS E DE HERODES. ELES COCHICHAVAM ENTRE SI: É PORQUE NÃO TEMOS PÃO! PERCEBENDO A SITUAÇÃO, JESUS PERGUNTOU: POR QUE VOCÊS ESTÃO DISCUTINDO SOBRE NÃO TEREM PÃO? AINDA NÃO COMPREENDEM NEM PERCEBEM? SEUS CORAÇÕES ESTÃO ENDURECIDOS? VOCÊS TÊM OLHOS, MAS NÃO VÊEM? TÊM OUVIDOS, MAS NÃO OUVEM? NÃO SE LEMBRAM? QUANDO EU PARTI OS CINCO PÃES PARA OS CINCO MIL, QUANTOS CESTOS CHEIOS DE PEDAÇOS VOCÊS RECOLHERAM? RESPONDERAM: DOZE. QUANDO EU PARTI OS SETE PÃES PARA OS QUATRO MIL, QUANTOS CESTOS CHEIOS DE PEDAÇOS VOCÊS RECOLHERAM? RESPONDERAM: SETE. JESUS QUESTIONOU: VOCÊS AINDA NÃO ENTENDERAM?
Os discípulos estavam numa caminhada entre a antiga e a nova aliança. Eles eram judeus, criados sob a lei e a supervisão dos fariseus. A tradição estava arraigada nos seus corações. Mas, com Jesus abriu-se a possibilidade de serem transformados de mente e de coração, assumindo o propósito do Reino de Deus. Noutra oportunidade, o Mestre usou a parábola do fermento para ilustrar que a massa já estava preparada e o fermento do Evangelho posto. O povo de Deus que era Israel, a partir de Jesus, crescerá e será a Igreja. Todavia, aqui o Mestre apela ao fermento com exemplo negativo, apontando não ao Evangelho, mas às doutrinas e ideologias humanas que também querem crescer, espalhar e tomar conta, seja do coração humano, como da sociedade e até da igreja. Muito cuidado! Alerta Jesus. A quem damos espaço em nosso coração. Ou, melhor dizendo: Quem faz a nossa cabeça? Seguimos modas ou o Evangelho? Ídolos humanos ou Cristo?
De fato, o que aconteceu? Houve a multiplicação. De sete pãezinhos sobrou muita comida. Todos ficaram impressionados com o milagre. Mas, logo em seguida, no barco os discípulos se deram conta de que o pão seria escasso para todos. Pelo lado administrativo, no deserto Jesus mostrou a importância da organização e da partilha. Mas, a situação no barco revela muita falta de planejamento. O que eles fizeram afinal com os 7 cestos de sobras? Houve desperdício de comida? Fartaram-se, mas não souberam se preparar para os dias seguintes? Reflito comigo: Quando oro o Pai Nosso e peço pelo pão de cada dia, estou isento de planejar o dia de amanhã e trabalhar? Muito pelo contrário, a prece me desacomoda e me leva à ação, sob os cuidados de Deus.
Por outro lado, além da questão administrativa, há uma lição espiritual: Será que o milagre foi tão grande que esqueceram que o pouco pode virar muito a partir da presença de Jesus e da partilha. Recordando o Salmo 23: “O Senhor é o meu Pastor. Nada me faltará”. Jesus que é o Pão da Vida está no mesmo barco com os discípulos. Dias atrás, no mesmo barco, eles questionaram: Jesus! Não te importas que vamos morrer no meio da tempestade? Então, Jesus se levantou e acalmou o mar e o vento. Será possível que agora passem fome? Como é difícil compreendermos quem é e o que pode Jesus em nossa vida. Como é difícil entregar tantos as nossas dores, quanto o nosso futuro em suas poderosas mãos.
Da antiga à nova aliança, o Mestre desafia-nos a deixar o Evangelho fermentar em nossa vida. Mas, também pede cautela: Cuidado com o fermento dos fariseus e de Herodes? Os fariseus eram a elite religiosa. Herodes representava o Império Romano. Ou seja, os poderes religiosos e políticos. Jesus diz: Cuidado! Não se deixem influenciar pelos poderes deste mundo. Não é a religião, a tradição e a lei que salvam. Elas até são necessárias e regulamentam a nossa vida. Mas, só Cristo salva. Como cidadão, cumpro minhas obrigações. Como cristão, deixo que o amor ensinado por Jesus seja a minha principal diretriz. Vale aqui a lembrança de que, alguns dias antes, os discípulos se decepcionaram com Jesus na primeira multiplicação. O povo queria fazer dele um rei. Os discípulos se alegraram com a possibilidade. Mas, Cristo se escapa de fininho. Assim como a religião não salva, também a política não muda a pessoa. Ela serve à humanidade. Mas, de fato, quem governa nossa vida é Jesus. Por isso, sempre de novo precisamos orar: Venha o teu reino, Senhor! Comece o teu governo em nosso coração. Estamos aqui para te adorar e servir.
Por fim, confesso que não me sinto superior ou mais entendido do que os discípulos de outrora. Muito pelo contrário, me coloco ao lado deles quando Jesus puxa suas orelhas e diz: Vocês têm uma fé pequena e um coração duro. Vocês têm dificuldades em compreender e se adequar. Mas, ao mesmo tempo, oro nas palavras de Lutero: “Senhor! Abre os olhos do nosso coração para que possamos ver a ti como verdadeiro pão do céu, a resposta para todos os nossos desejos e necessidades. Amém”!
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