Prezada comunidade em Cristo, meus irmãos, minhas irmãs
O Salmo 68 faz parte de um conjunto de orações no livro de Salmos que, segundo os pesquisadores, eram usadas pelo povo nas grandes festas de colheita, um louvor coletivo em agradecimento a Deus pelos frutos da terra, pelas chuvas, pelos alimentos da mesa posta, dádiva de Deus.
Certamente o Salmo 68 é também uma palavra apropriada para nós, hoje, aqui. Agradecemos a Deus pelas chuvas que regaram os campos nestes últimos dias, quebrando a longa estiagem que assolava nossa região. Com o salmista oramos, “Tu fizeste cair muita chuva e renovaste a tua terra cansada” (v.9).
O Salmo 68 é o texto indicado para este domingo junto com o relato da Ascenção de Jesus. Conforme Atos 1, Jesus foi elevado para o céu diante de seus seguidores e seguidoras, mas antes lhes prometeu enviar o Espírito Santo – promessa esta que se cumpre na festa de Pentecostes, que, por sinal, também era uma festa de gratidão pela colheita. Na festa de Pentecostes o poder do Espírito Santo foi derramado sobre a comunidade de Jesus, capacitando as pessoas para dar testemunho do evangelho. Portanto, é bastante instrutivo ler e meditar no Salmo 68 a partir de Cristo e a partir do Espírito Santo que impulsionam a igreja a participar na missão de Deus neste mundo.
O Salmo 68, como muitos outros salmos, traz à memória a ação de Deus em favor de seu povo, relembrando o tempo em que Deus conduziu um grupo de escravos fugitivos do Egito pelo deserto, “Ao saíres, ó Deus, à frente do teu povo, ao avançares pelo deserto, a terra tremeu” (v.7). É ainda motivo de gratidão a nova vida na terra prometida, “O teu povo fez nessa terra o seu lar; com a tua bondade, cuidaste dos pobres” (v.10). Ganha também destaque a defesa de Deus em favor das pessoas mais vulneráveis, as pessoas mais indefesas na sociedade daquele tempo e lugar, “Deus, que vive no seu santo Templo, cuida dos órfãos e protege as viúvas” (v.5). Uma outra tradução no Português diz o mesmo usando, porém, uma linguagem mais poética, “Pai dos órfãos e juiz das viúvas é Deus em sua santa morada”.
Por estes motivos, e muito mais (nós ouvimos hoje apenas um trecho do salmo 68), o povo de Deus, reunido em festa para celebrar a colheita, era chamado para louvar, cantar, recordar, trazer à memória e agradecer ao Deus presente em sua história. Obstáculos e inimigos foram derrotados por um Deus que caminha com seu povo. Obstáculos e inimigos não foram nem são impedimento para Deus e sua missão neste mundo, como proclama o início do salmo, “Deus se levanta e espalha os seus inimigos . . . Deus os espalha como a fumaça que desaparece no ar” (v.1-2).
Como pessoas cristãs, nós também, neste tempo e lugar, somos chamados por Deus para louvar, cantar, recordar, trazer à memória e agradecer ao Deus presente em nossa história. A partir de Cristo Jesus nós também somos povo de Deus. A partir de Cristo Jesus nós também confiamos na promessa do Deus presente que caminha com seu povo neste mundo. E trazemos à memória o dia quando Jesus foi levantado para o alto, cumprindo assim a missão que Deus lhe entregou. É certo que no dia da Ascensão Jesus foi elevado aos céus. Este, porém, não foi o único momento em que Jesus foi levantado para o alto para realizar a missão de Deus. Trago à nossa memória a sua cruz, onde Jesus cumpre a sua missão de reconciliar o mundo, incluindo você e eu, com Deus. Trago à nossa memória, Jesus levantado dentre os mortos, reunindo de novo sua comunidade dispersa. Quem ascendeu aos céus, quem subiu às nuvens, é o crucificado que carregou os pecados do mundo e que na sua ressurreição inaugura um novo tempo, uma nova criação, uma nova humanidade.
Ao levantar Jesus na cruz, Deus espalha os seus inimigos, o pecado, o mal e a morte, como fumaça que desaparece no ar. Ao levantar Jesus dentre os mortos, Deus faz cair muita chuva e renova a terra cansada e seus habitantes. Ao levantar Jesus aos céus, Deus conduz o seu povo pelo deserto rumo à terra prometida. E enquanto nós caminhamos, enquanto a igreja de Jesus caminha, participamos da missão de Deus neste mundo. O Espírito Santo nos é derramado para dar testemunho do evangelho. O Espírito Santo conduz a igreja no caminho de Cristo Jesus. Estamos, portanto, no caminho.
E quem caminha não permanece com seu olhar fixo para o alto. Quem caminha olha para baixo, olha para o chão onde se pisa. E este chão, este mundo, é o lugar onde Deus nos coloca para participar na sua missão. Este chão, este mundo, é onde vamos ao encontro das pessoas para anunciar que Deus é o Deus da vida, Pai dos órfãos e juiz das viúvas. Este chão, este mundo, é onde somos testemunhas de Cristo Jesus, no poder do Espirito Santo. Amém.