Jesus era sacerdote?

Prédica

15/03/2018

Hebreus 5.5-10

Prezada Comunidade!

Gostaria de fazer a vocês uma pergunta: Jesus Cristo era sacerdote?

Os sacerdotes da Igreja Católica, das Igrejas Luteranas e Anglicanas – principalmente - sustentam que os seus sacerdotes são iguais a Jesus. Mas Jesus Cristo era sacerdote? De onde eles tiraram essa ideia que Jesus Cristo era sacerdote? Nos 4 Evangelhos jamais se menciona algo parecido. Os únicos sacerdotes que aparecem nos Evangelhos são os sacerdotes do templo de Jerusalém, entre eles estava Zacarias, o pai de João Batista (Lucas 1.5). Mas Jesus nunca oficiou cerimônias religiosas no Templo.

Também no livro de Atos dos Apóstolos não fala de nenhum sacerdote, além dos sacerdotes judeus (4.1) ou dos pagãos (14.13) Nas cartas do apóstolo Paulo nem mesmo aparece a palavra sacerdote. Também nas outras cartas e nem mesmo no Apocalipse se menciona que Jesus era um sacerdote.

O único livro do Novo Testamento que afirma que Jesus era sacerdote é a carta aos Hebreus. Por quê? Por quê a carta aos Hebreus diz que Jesus Cristo era sacerdote?

Parece que a Comunidade dos Hebreus estava desilusionada pela simplicidade da liturgia cristã, com os cultos nas casas, onde o principal era recontar as histórias de Jesus e repartir o pão. Os primeiros cristãos - em sua maioria - eram judeus convertidos. E os judeus estavam acostumados com as esplêndidas e vistosas celebrações no Templo de Jerusalém, onde estavam presentes dezenas de sacerdotes e levitas, onde havia cantos, ornamentos, música, ritos impactantes, nuvens de incenso e ritos de purificação com água. A religião dos judeus era bem pomposa e fazia grandes peregrinações nacionais, que a aconteciam principalmente nas grandes festas e que reuniam gente de todo o país e até do exterior.

As comunidades cristãs tinham eliminado tudo isso. Os primeiros cristãos foram perseguidos pelos líderes judeus e, por isso, não costumavam frequentar nenhum templo. Jesus mesmo disse a mulher samaritana que Deus não se encontra no templo, mas no coração de cada pessoa (João 4.21-23). As primeiras comunidades cristãs também abandonaram o sacrifício de animais que se fazia no templo de Jerusalém. Para os primeiros cristãos, o que Jesus pedia deles é que vivessem como irmãos, que se ajudassem mutuamente, até a segunda vinda de Cristo. Por isso, as cerimônias do culto cristão nas casas não tinham nada de espetacular. Inclusive a Santa Ceia - que se celebrava cada domingo nas casas de família, não se distinguia muito das refeições familiares do dia-a-dia. Essa simplicidade e sobriedade dos cultos cristãos causaram uma frustração no ânimo das pessoas que estavam acostumadas com a pomposidade dos cultos no templo.

Outro problema na Comunidade dos Hebreus eram os rumores que diziam que Jesus não podia ser o verdadeiro Messias, porque ele não era sacerdote. A tradição religiosa judaica dizia que no fim dos tempos Deus enviaria três grandes personagens para salvar o seu povo: um sacerdote, um profeta e um rei.

Em Deuteronômio 18.18 diz: Do meio deles escolhei um profeta que será parecido com você. Darei a esse profeta a minha mensagem e ele dirá ao povo tudo o que eu ordenar. A promessa de um futuro rei está em II Samuel 7.12 onde Deus manda dizer ao rei Davi: Quando você morrer e for sepultado ao lado dos seus antepassados, eu colocarei um dos seus filhos como rei e tornarei forte o reino dele. E finalmente a promessa de um futuro sacerdote para os últimos tempos foi feita por Deus ao sacerdote Eli em I Samuel 2.35: Escolherei para mim um sacerdote fiel, e ele fará tudo o que eu quero.

Quando Jesus apareceu, as pessoas começaram a identificar nele as características que se esperava de um enviado de Deus. Jesus foi reconhecido como grande profeta (Marcos 9.8 e Lucas 7.16). Também foi reconhecido como rei que vem em nome do Senhor (Lucas 19.38 e João 12.13). Mas nunca ninguém viu em Jesus um sacerdote. Aliás para ser sacerdote era preciso pertencer a tribo de Levi e Jesus pertencia a tribo de Judá. Portanto, Jesus não poderia ser sacerdote, mesmo que quisesse. Por essa razão nunca ninguém falou do sacerdócio de Jesus.

As primeiras comunidades cristãs pareciam desconcertados. Já não queriam se reunir em grupos. Tinham saudade do grande templo, das antigas celebrações grandiosas, dos ritos, dos sacrifícios. Os cultos que se faziam nas casas eram cada vez menos frequentados.

Foi nesse contexto que no ano 90d.C. surgiu a carta aos Hebreus com um ensinamento totalmente novo, que dizia que Jesus sim era um sacerdote. Mas como poderia ser sacerdote se Jesus nem era da tribo de Levi, perguntaram alguns. Nos capítulos 7 e 8, a carta aos Hebreus diz que Jesus era um tipo diferente de sacerdote, que Jesus não pertencia a tribo de Levi, mas sim a ordem de Melquisedeque, pois assim está escrito no Salmo 110.4: O Senhor Deus fez este juramento e não voltará atrás: Você será sacerdote para sempre, na ordem do sacerdócio de Melquisedeque. Mas quem era Melquisedeque? Conforme Gênesis capítulo 14, ali se fala de um sacerdote de Jerusalém que certo dia foi ao encontro de Abraão e o abençoou. Esse Melquisedeque era considerado o verdadeiro sacerdote de Deus e por isso nunca morreu. E a única pessoa que reuniu as mesmas características de Melquisedeque e que ressuscitou dos mortos – tornando-se também eterno, foi Jesus.

Com essa argumentação da Carta aos Hebreus, Jesus é apresentado como um sacerdote superior aos sacerdotes levitas, pois os sacerdotes levitas são passageiros, transitórios, mas um dia todos eles morrerão, enquanto que Jesus é eterno. Os sacerdotes levitas, antes de oferecer sacrifício pelos pecados das pessoas, tinham que oferecer um sacrifício pelos seus próprios pecados. Jesus Cristo não precisava oferecer sacrifício pelos seus pecados, porque ele era puro e santo. Os sacerdotes levitas ofereciam sacrifício de animais – todos os dias – o que demonstrava que esses sacrifícios eram pouco eficazes para perdoar pecados. Jesus Cristo realizou um único sacrifício, que foi entregar-se a si mesmo por amor, e por isso, com seu próprio sangue ele pode purificar toda a humanidade e perdoar todos os pecados sem necessidade de novos sacrifícios. Os sacerdotes levitas oficiavam o culto em um templo terreno, construído por mãos humanas. Jesus Cristo é o sacerdote do templo do céu, o santuário eterno, onde habita o próprio Deus 

O sacerdócio dos levitas tinha a missão de sacrificar animais para Deus. Ao oferecer o sangue - que era o símbolo da vida – os sacerdotes levitas lembravam ao povo que a vida pertence a Deus. O sacerdócio de Cristo distribui o sacerdócio entre todos os cristãos, não para oferecer a Deus o sacrifício de animais, mas sim colocar a própria vida à serviço de Deus. Cada pessoa é um sacerdote/sacerdotisa de sua própria vida e - por isso - deve colocar a sua existência à serviço de Deus, para que a humanidade inteira viva com justiça, com paz, com tolerância e assim o mundo inteiro se encha da vontade de Deus. A partir do batismo, cada pessoa cristã é um sacerdote/sacerdotisa de Cristo e o sacrifício que cada pessoa deve fazer – no sacerdócio de Cristo – é o viver nesse mundo conforme os valores e os princípios ensinados por Cristo.   

Essa mensagem nos chega nesse tempo da Quaresma, em que mais uma vez somos lembrados que o verdadeiro sacerdócio de Cristo não se vive fechado em algum templo, praticando certos ritos, mas sim transformando a terra, a sociedade, a história  e assim encaminhando a humanidade para a vontade de Deus.
Amém.


 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Hebreus / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 5 / Versículo Final: 10
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 46374
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