Jesus e a Mulher Enferma...

04/07/2021

 

Sou e sempre fui uma pessoa organizada. Procuro seguir a agenda. Em casa, desde cedo, tenho uma rotina. Não gosto de imprevistos. Todavia, no pastorado e na vida, o imprevisível acontece com certa frequência, querendo ou não. Como agir? Ou, como reagir às situações que aparecem? Algumas pessoas desistem do projeto original, outras ficam com raiva e acabam xingando o que vem pela frente. Confesso: Eu fico bem ranzinza e costumo resmungar bastante. Todavia, também nestes momentos, preciso me perguntar: Em meus passos o que faria Jesus? Uso tal introdução em vista de ser este o tema do nosso sermão. Como agir quando algo atrapalha os planos originais? Há proveito? Veremos na prática como Jesus reagiu ao extraordinário. Ele é e sempre será o Mestre, por isso a nossa maior inspiração.

O evangelista diz que certo sujeito influente e muito religioso chamado Jairo chegou até Jesus com uma grande preocupação. Sua filha de 12 anos estava doente, à beira da morte. Então, o caso era urgente. Os minutos contavam. Eram a diferença entre vida e morte. O Mestre bem poderia ter dito: Jairo! Segue teu rumo. Vai para casa. Você vai encontrá-la curada. Mas, não! Ele usa o momento extremo para trabalhar o coração daquele pai ansioso. Não bastava entregar a causa da menina. Jesus queria alcançar a família inteira. Então, seguindo em direção à casa de Jairo, acontece uma situação fora do previsto. Jesus conhece, cura e ainda dedica tempo para conversar com uma mulher que, coincidentemente, sofre por “12 anos” de hemorragia. A mesma idade da filha de Jairo.

A cabeça e o coração do pai estão em casa com sua filha adolescente. Ele venceu seu preconceito, aproximou-se de Jesus e, humildemente, pediu que ele o acompanhasse. O Mestre concordou. No caminho, ocorreu o encontro com uma mulher que sofre por 12 anos. Então, Jairo passa por uma prova de fé. Ele tem urgência. Mas, Jesus está atento àquilo que acontece no caminho. Ele tem um destino certo, mas sem perder a noção da realidade que o cerca. Cabe ao pai somente confiar e esperar. Coisa simples e fácil de fazer. Ou, não? Há um conflito de prioridades. Jairo criou a filha por 12 anos e agora ela está doente. A mulher sofre por 12 anos e agora tem a chance de ser curada. Quem tem a prioridade? O que Jesus faz? Ele dedica toda a atenção à mulher, sem esquecer a necessidade do pai.

Ouçam o relato do evangelista: “Uma grande multidão seguia e apertava Jesus. Estava ali certa mulher que havia doze anos vinha sofrendo de hemorragia. Ela padecera muito sob o cuidado de vários médicos e gastara tudo o que tinha. Mas, em vez de melhorar, piorava. Quando ouviu falar de Jesus, chegou por trás - no meio da multidão - e tocou no seu manto. Ela pensava: Se eu tão somente tocar em seu manto, ficarei curada. Imediatamente cessou sua hemorragia. Ela sentiu em seu corpo que estava livre do seu sofrimento. No mesmo instante, Jesus percebeu que dele havia saído poder, virou-se para a multidão e perguntou: Quem tocou no meu manto? Responderam os seus discípulos: Vês a multidão aglomerada ao teu redor e ainda perguntas quem tocou em mim? Mas, Jesus continuou olhando ao seu redor para ver quem tinha feito aquilo. Então, a mulher - sabendo o que lhe tinha acontecido - aproximou-se, prostrou-se aos seus pés e tremendo de medo contou-lhe toda a verdade. O Mestre lhe disse: Filha! A tua fé a curou. Vá em paz e fique livre do seu sofrimento” (Marcos 5.24b-34).

A mulher sequer é identificada pelo nome. O evangelista apenas apresenta sua situação. Antes tinha saúde. Porém, por 12 anos vinha enfraquecendo dia a dia devido à hemorragia. Antes, tinha bens e uma vida confortável. Precisou investir tudo o que possuía em busca de saúde. Mas, sem resultado. Quem sabe, ela fazia parte de uma família. Agora, estava só no meio da multidão. Aliás, se os outros soubessem do seu sangramento sequer se aproximariam dela. Sob a lei judaica, ela é impura e pode contaminar. Uma mulher sem esperança, destinada à morte, somente. Todavia, naquele dia, ao ouvir o nome de Jesus surge uma ponta de esperança. À sua cabeça vem o pensamento: Nenhum médico me ajuda. Jesus está passando por aqui. Ele dará conta? Minha família e meus amigos me rejeitaram por causa do sangramento. Ele me acolherá? Não vou incomodá-lo. Apenas, quero tocar suas vestes.

Ela planeja. Com muito esforço, se esgueira entre a multidão. Aproximando-se de Jesus, toca-o. O milagre acontece. Ela sente imediatamente a cura. Pensou consigo: Pela graça de Deus, enfim curada. Que o abençoado Mestre siga seu caminho carregado pelo povo. Mas, Jesus para. Por um momento, esquece a multidão e o pedido urgente de Jairo. Algo iniciado precisar ser concluído com exatidão. Toda a atenção de Jesus se volta àquela mulher. Ela quer sumir. Mas, precisa assumir o milagre. Ela precisa abrir seu coração. Jesus tem algo a lhe dizer. Ela confessa. Jesus liberta: A tua fé te trouxe aqui. Eu te curei. Agora não basta a hemorragia estancada. Você terá paz no coração. A paz que somente eu posso te dar. Completou-se assim um ciclo com ela que durou 12 anos. Mas, Jairo está com seu pensamento na filha de 12 anos. Os olhos aqui. O pensamento lá. Confirma-se o “poder” de Jesus. O incidente que poderia ser entendido com um atraso se torna um fortalecimento no propósito. Jesus vai curar minha filha! Ainda outras provas, Jairo precisou enfrentar na jornada. Todavia, a salvação ocorreu.

Agora pergunto: Do episódio, o que podemos aprender? Primeiro, uma vez entregue a causa a Deus – como Jairo fez - Ele está no comando. No devido tempo, ela se efetivará. Com frequência costumamos orar: “Que seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. Precisamos aprender a entregar e esperar. Já cedo quando inicia o dia, pois não sabemos “o que o dia nos trará” (Mateus 6.34). A dica é: Abrir o coração e entregar ao Senhor tudo o que está planejado, desejando que também o imprevisto esteja sob a orientação divina e tenha como propósito nosso crescimento. Noutras palavras, a situação fortaleceu o propósito de Jairo ao invés de incomodá-lo. Segundo, outra lição diz respeito aos enfraquecidos e rejeitados pela nossa sociedade. A mulher enferma vinha dia a dia enfraquecendo. Ela foi rejeitada por causa de sua situação até que encontrou acolhida e salvação em Jesus. Percebo muitas situações onde as pessoas sangram e são rejeitadas (idosos, obesos, deficientes, opção sexual, cor da pele, baixa escolaridade, classe social, enfim). Não quero julgar o caráter das variadas situações. Mas, simplesmente questionar a exclusão, motivando à necessidade do acolhimento em amor. Eis uma lição que vale tanto às pessoas individualmente, quanto à nossa Comunidade. Penso que também aí, Jairo – como judeu ortodoxo – recebeu uma lição.
 


Autor(a): P. Euclécio Schieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense / Paróquia: Garuva-SC (Martinho Lutero)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 24 / Versículo Final: 34
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 63563
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