Jesus cura e liberta | Marcos 1.29-39

5º Domingo após Epifania - ANO B

30/01/2024

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

Jesus caminha entre nós e quer nos curar e nos libertar!

 

A cor litúrgica verde indica que estamos vivendo o tempo da Epifania. Essa palavra significa a revelação/manifestação de Deus. Jesus nasceu, cresceu, foi batizado no Rio Jordão por João Batista e agora é o momento de conhecermos realmente quem é o mestre a partir daquilo que as Escrituras nos revelam sobre ele. Na plenitude do tempo, Deus revelou seu Filho a nós. Jesus revelou a si mesmo com os sinais do seu reino, acolhendo, orando e anunciando o Evangelho – ele mesmo é o Evangelho!

Nós, como seres humanos, estamos cada vez mais distantes uns dos outros. Em grandes centros urbanos, é comum pessoas não conhecerem sequer seus vizinhos de apartamentos. Há pessoas que estão cercadas de muitas pessoas, mas que se sentem sozinhas e vazias. Cada vez há menos espaço no mundo para a compaixão, solidariedade e afeto. Fugimos do sofrimento alheio. Não queremos estar entre aqueles que sofrem. Ao contrário, rejeitamos os sofredores e ainda encontramos desculpas para julgarmos os motivos de seus sofrimentos.

Jesus não fez assim! No texto de hoje, vemos Jesus agindo na prática! Jesus cumpre o que foi dito sobre ele em Isaías 53.4: “Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si”. Jesus tem compaixão. Jesus tem empatia por aqueles que sofrem: ele sofre com os sofredores! Isso tem tudo a ver com a nossa forma de ser igreja enquanto IECLB. O P. Dr. Martin Dreher diz:

A IECLB rejeita, por meio do Credo Apostólico do ano de 150 e do Credo de Nicéia de 325, além do Credo Atanasiano, qualquer forma de pensamento que nega que Deus seja capaz de sofrer e de se solidarizar até as últimas consequências com os seres humanos e a criação. Designa-se a isso, no Catecismo e na Confissão de Augsburgo, dois escritos calcados na teologia de Lutero, de Teologia da Cruz.[1]

 

O sofrimento remexe as entranhas de Jesus. Ele sente compaixão. Ele precisa agir! “Jesus sente a dor humana. A compaixão lhe estremece as entranhas. Ele permite que a miséria se aproxime dele, mas é mais forte do que ela”[2]. Portanto, o que podemos aprender sobre a ação de Jesus a partir de Marcos 1.29-39?

 

1               JESUS ACOLHEU

 

Jesus acolhe quem está sofrendo sem distinções e preconceitos. Seja a sogra de Pedro ou outra pessoa, Jesus não exclui. Aliás, Jesus nem mesmo faz perguntas ou julga antes de realizar a cura e a libertação. Jesus simplesmente faz!

Jesus não recua; não lhes assustam as feridas, os membros retorcidos, os rostos deformados, as dores de todo tipo. Acolhe-os. Não escolhe o que lhe parece mais urgente ou o que corresponde melhor à força que há nele; simplesmente acolhe, e põe em prática as palavras: “Vinde a mim todos vós” (Mt 11,28) antes mesmo de as ter pronunciado.[3]

 

Quando Jesus acolhe, transformações acontecem. A vida é transformada. A enfermidade e os demônios são expulsos! A partir do acolhimento de Jesus, surge uma vida nova! Vida voltada ao serviço: “A febre a deixou, e ela passou a servi-los”. (Marcos 1.31).

Ao sermos acolhidos, curados e libertados por Jesus, experimentamos a liberdade para servir – não por obrigação, mas por alegria e espontaneidade. Já não dá mais de viver como antes. Tal qual fomos acolhidos, passamos a acolher sem preconceitos ou brios!

 

2               JESUS OROU

 

Tendo-se levantado de madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus saiu e foi para um lugar deserto e ali orava”. (Marcos 1.35). Mesmo preocupado com os sofrimentos humanos, Jesus não caiu em um “ativismo desenfreado”. Ao contrário, buscava tempo para si! Para sua interioridade! Mesmo sendo Deus, para sua espiritualidade.

Jesus caminha entre nós e quer nos curar e libertar também do ativismo, da pressa e do imediatismo. Compreendemos melhor o nosso próximo quando estamos “conectados” com Deus. Alienados/separados de Deus, estaremos também alienados/separados do nosso próximo. Por isso, tempo para oração é algo fundamental!

 

3               JESUS EVANGELIZOU

 

A espiritualidade de Jesus não o isola. Mesmo sozinho e introspectivo, quando foi procurado por Simão e outros, não os rejeita ou rechaça; ao contrário, acolhe seu pedido. “Todos estão à sua procura” (Marcos 1.37). Todos querem Jesus! Todos querem estar com Jesus. E então se inicia a missão: Vamos a outros lugares, aos povoados vizinhos, a fim de que eu pregue também ali, pois foi para isso que eu vim”. (Marcos 1.38).

Jesus passa a pregar e a realizar os sinais do seu Reino em outros lugares. É a expansão e o avanço do Reino de Deus. Jesus é o mensageiro e, ao mesmo tempo, ele mesmo é a mensagem; Jesus anuncia o Evangelho (boa notícia) e, ao mesmo tempo, ele mesmo é o Evangelho que gera cura e libertação. Pessoas continuaram a ser evangelizadas e demônios continuaram a ser expulsos.

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

Jesus caminha entre nós e quer nos curar e nos libertar!

Quais são os seus demônios? Quais são as suas sombras? O que te atormenta e tira o sono? Jesus quer te libertar desse fardo horrível. Permita-o fazer isso – mesmo que possa ser doloroso! Há coisas em nós mesmos que não gostamos. Há coisas que gostaríamos de abandonar e que não conseguimos. Jesus consegue! Jesus consegue te ajudar a resolver traumas e conflitos não resolvidos. Jesus pode te libertar dos pesos que te possuem e que você não consegue controlar!

Também em relação a curas físicas. Deus faz curas; mas Deus continua sendo Deus também quando não há curas. E, muitas vezes, é preciso perguntar “qual é a verdadeira cura?” Nem sempre a verdadeira cura que precisamos é física, mas pode ser emocional ou espiritual. A verdadeira cura pode ser um pedido de perdão ou o ato de perdoar; a verdadeira cura pode ser o desapego a coisas que nos aprisionam; a verdadeira cura pode ser o abandono do egoísmo. Seja como for, Deus é conosco. Como testemunha o apóstolo Paulo: “E, para que eu não ficasse orgulhoso com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que eu não me exalte. Três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então ele me disse: “A minha graça é o que basta para você, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.” De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Por isso, sinto prazer nas fraquezas, nos insultos, nas privações, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então é que sou forte.” (2 Coríntios 2.7-10).

E claro, Jesus nos cura também espiritualmente. Quando Jesus expulsa o que nos faz mal e nos liberta, ele mesmo passa a habitar em nossas vidas plenamente. Jesus nos preenche e nos deixa completos! Agostinho de Hipona diz: “Fizeste-nos, Senhor, para ti; e nosso coração andará inquieto enquanto não descansar em ti”. Há em nós um vazio do tamanho de Deus! E a única cura é permitir que Deus se encaixe perfeitamente nesse vazio. Isso significa renunciar a nós mesmos, tomar a cruz e seguir a vontade de Jesus.

 

Jesus caminha entre nós! Deseja não outra coisa senão que sejamos seus discípulos. Aceite o convite! Creia na revelação de Jesus Cristo como Filho de Deus. Jesus nos acolhe, nos cura e nos ensina seu Evangelho. Deus haja em nós e nos conceda verdadeira cura e libertação em seu Filho. Amém.

 

P. William Felipe Zacarias

Paróquia Evangélica de Confissão Luterana Ferrabraz – Sapiranga/RS.

 

 



[1] DREHER, Martin Norberto. “História e teologia do primeiro artigo da Constituição da IECLB”. in: BUTZKE, Paulo Afonso (Coord. geral). IECLB: Igreja de Jesus Cristo: Caderno de Estudos. Porto Alegre: Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, 2023. p. 33.

[2] GUARDINI, Romano. O Senhor: reflexões sobre a pessoa e a vida de Jesus Cristo. São Paulo: Cultor de Livros, 2021. p. 76.

[3] GUARDINI, 2021. p. 75.


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 29 / Versículo Final: 39
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 72216
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Jamais a fé é mais forte e gloriosa do que ao tempo da maior tribulação e tentação.
Martim Lutero
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