Jeremias 29.4-14 (7)

Prédica

27/04/2014

Ser Igreja na cidade!

Jeremias 29.4-14 (7)

Irmãos e irmãs em Jesus Cristo!

“Pastor, eu estou membro nesta comunidade, mas não me considero pertencente à mesma. Meu coração permanece na minha comunidade de origem, onde estão minhas origens, onde ainda sou sócio do cemitério e para onde pretendo retornar assim que for possível”.

Conhecemos nós este sentimento? Será que ele reflete o nosso próprio pensamento? Há pouco tempo, uma senhora afirmou que, no início, sua adaptação à vida na cidade foi muito difícil. Ela tinha muitas saudades de seus familiares e do jeito de ser do seu lugar de origem. Enfrentou muitas resistências para se acostumar com o ritmo da vida urbana. Sua vontade era voltar para sua terra natal. Porém, os filhos nasceram, foram crescendo, e ela percebeu que a vida deles estava totalmente identificada com a cidade. Foi quando ela se deu conta e aceitou que o seu lugar também era aqui, que ela precisava romper com as suas origens e assumir a cidade como sendo seu lugar. Quantos pensam igual a essa senhora? “Estou na cidade, mas não sou da cidade!”

É como se enxergasse a cidade apenas como uma laranja da qual pudesse espremer o suco que interessa: “Estou na cidade apenas por necessidade. Aqui posso estudar e oferecer condições de estudo para a família. Aqui estão as melhores oportunidades de emprego e salário. Não assumo a cidade, porque nela eu me sinto deslocado/a – aqui não é o meu lugar! – meu coração permanece no lugar de origem. Aqui eu me sinto inseguro/a: violência, drogas, stress, desagregação familiar, trânsito, filas, solidão... Vejo a cidade como um lugar que me ameaça. Estou aqui porque preciso, não porque eu quero!”

Seria este o sentimento de muitas pessoas que vivem na cidade? Seria este o sentimento de membros de nossa comunidade, que migraram para esta cidade?

Tudo isso também reflete no jeito de ser igreja neste lugar. A comunidade é da cidade ou apenas está na cidade? O jeito de sentirmos a cidade interfere no jeito como interagimos com a mesma.

A bíblia fala muito sobre a cidade, não só como um lugar de ameaça e de morte (por exemplo, Babel em Gênesis 11), mas como um espaço de oportunidades (O apóstolo Paulo encontrou nas cidades o espaço ideal para divulgar e plantar comunidades) e também como um lugar da manifestação do amor e da graça de Deus (Apocalipse 21 e 22).

Jeremias 29 retrata a relação do povo de Jerusalém com a cidade para onde este fora deportado – acontecimento que ficou conhecido como “Exílio da Babilônia” – e sugere uma relação amistosa dos exilados com a cidade, embora vivam nela contra a própria vontade. Ao orarem pela cidade e ajudarem a estabelecer a paz na mesma, construiriam um novo jeito de interagir com ela. Adquiririam melhor qualidade de vida à medida que também a cidade fosse melhorando.

Na qualidade de cristãos, temos o mesmo sentimento de Abraão, entendendo a nossa vida como apenas algo provisório, passageiro, neste mundo, pois aguardamos a cidade eterna, da qual Deus é o arquiteto e construtor (Hebreus 11.8-11). Mesmo assim, entendemo-nos como “administradores, guardadores da boa Criação de Deus” (Gênesis 2.15).

Também assim deve ser a nossa relação com a cidade na qual vivemos. Jeremias também se dirige a nós e diz: “Procurem o bem da cidade” (v. 7). “Não fujam dos problemas e das ameaças da cidade, não se refugiem em ilhas e guetos, que vocês constroem ao redor de si mesmos, mas envolvam-se nas necessidades das pessoas e na sua busca por soluções libertadoras e inclusivas.

Certa pessoa enxergava a cidade como ameaça, embora vivesse nela. Primeiro, cercou sua residência com um muro de quatro metros de altura. Não bastasse isso, colocou mais uma grade pontiaguda, depois, acrescentou uma cerca eletrificada. Colocou alarme eletrônico e câmeras de monitoração. Por fim, contratou uma empresa de vigilância vinte e quatro horas. Nenhum vizinho conhece as pessoas que moram na casa. Embora vivam na cidade, as pessoas não convivem com ela e não querem contato social. Por isso se isolam.

Quando uma comunidade não se relaciona com a cidade, acontece tal qual a casa cercada por altos muros. Ela se isola e não tem mais serventia para as pessoas da cidade. Interagir com a cidade significa abrir as portas, derrubar as barreiras e ir ao encontro das pessoas em suas necessidades. É envolver-se com aquilo que move a cidade. É também exercer nela, sobretudo, a voz profética e libertadora, que lhe cabe como Igreja de Jesus Cristo.
Jeremias nos anima a aproveitar as oportunidades Não devemos encarar as dificuldades e os sofrimentos como ameaças, mas enxergá-las como oportunidades diaconais na “seara” que nos chama a servir.

Que estendamos as nossas mãos para buscar o melhor para o bem da nossa cidade, para o bem do próximo, sim, até para o bem daquele que nos ameaça e prejudica. Que nossas mãos também se juntem em oração a Deus pelo bem de nossa cidade, pelo bem de nosso próximo.

Que Deus nos conceda, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, uma interação, busca, descoberta e firmeza na nossa fé e na nossa esperança, mesmo onde a cidade nos pareça hostil. Que nos sintamos amparados por Deus nessa caminhada.

Amém

Pastor Geraldo Graf
Belo Horizonte
g.graf@uol.com.br


Autor(a): Geraldo Graf
Âmbito: IECLB
Área: Campanhas / Nível: Tema do Ano
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Antigo / Livro: Jeremias / Capitulo: 29 / Versículo Inicial: 4 / Versículo Final: 14
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 28319
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