Isaías 50.4-9a

Auxílio Homilético

16/09/2018

 

Prédica: Isaías 50.4-9a
Leituras: Marcos 8.27-38 e Tiago 3.1-12
Autoria: Marivete Zanoni Kunz
Data Litúrgica: 17º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 16/09/2018
Proclamar Libertação - Volume: XLII


 Razões para crer e obedecer

1. Introdução

É sempre bom lembrar que Isaías foi o profeta que trouxe sua mensagem no século VIII, ou seja, ele pregou quando as tribos do reino do Norte estavam quase sendo destruídas pela Assíria. Quando falamos em texto de Isaías, alguns estudiosos acreditam que a partir do capítulo 40 há um segundo autor, chamado Dêutero-Isaías. Esse autor estaria falando de questões que envolvem o período da Babilônia e também após os acontecimentos do cativeiro. É nesse bloco de textos que se encontra o texto de refl exão.

O contexto que envolve o texto de Isaías 50.4-9a tem relação com os exilados da Babilônia. Percebe-se que, desde o capítulo 49 de Isaías, o texto apresenta uma imagem de Jerusalém como uma mulher enlutada e estéril (49.21), e agora o texto do capítulo 50 mostra que embora os exilados tivessem recebido seu castigo, eles não eram como uma mulher divorciada ou como um filho vendido como escravo. A partir do capítulo 50, entende-se que os exilados não precisam entrar em desespero, pois seu Deus não os trataria assim. Diante da situação de calamidade que Jerusalém viveu desde 587 a.C., o presente texto traz uma mensagem de esperança, pois mostra que a cidade será restaurada e o povo retornará para sua pátria. Nesse sentido há um grande desafio para o povo, ou seja, de crer em Javé e obedecer a suas orientações. Depois de tantos anos (606 até 538 a.C.) poderia surgir a pergunta: por que crer e obedecer depois de tanto tempo? É isso que o texto vai mostrar, ou seja, nada pode impedir a redenção do povo de Israel. O texto mostra razões para crer e obedecer, embora as lutas tenham acontecido. Abaixo, eis algumas razões para crer e obedecer.

2. Exegese

v. 4-9: De forma geral, o texto de Isaías 50.4-9 apresenta o servo obediente. Ele enfatiza a missão desse servo no que diz respeito a ter fé, ou crer e obedecer. Esses versículos que descrevem o terceiro cântico do servo, no livro de Isaías, mostram os sofrimentos que o servo enfrentaria. Há uma ênfase na questão de submissão a Deus para o cumprimento do serviço e da vontade de Javé. É muito interessante que, nesse poema, os versículos 4, 5, 7 e 9 iniciam ou apresentam as expressões: o Senhor Deus. É esse “Senhor Deus” que será o juiz e avaliará aqueles que ouvem o servo e os seus inimigos.

v. 4: A expressão todas as manhãs pode indicar momentos especiais e a sós com Javé. Este versículo mostra que o servo sujeita sua própria mente ao seu Deus para chegar à compreensão de qual seria a obra que ele tinha para realizar através de sua vida. Esse servo também submete seu ouvido. Isso foi significativo, pois em muitos momentos, nesse contexto, Isaías transmitiu a mensagem, mas não foi ouvido. Sendo assim, era importante o servo estar atento à voz de Deus para não cair na tentação de anunciar aquilo que o povo queria ouvir, ao invés da verdadeira mensagem de Javé. Jesus, da mesma forma, como servo que obedece ao Pai, cumpriu sua missão, embora isso tivesse significado muita humilhação e até rejeição daqueles que o ouviram.

Este versículo também mostra que Javé concederá ao servo uma fala adequada para que ele possa falar a verdade com muita coragem. Neste versículo aparece um termo bem particular de todo o Antigo Testamento, o termo “cansado”. Esse termo (que é transliterado por ‘ut) só aparece neste texto em todo o Antigo Testamento. O servo deveria sustentar o “cansado” com sua palavra, ou ajudar e fortalecer. É bem possível, conforme Crabtree (1976), que esse termo tenha relação com o povo queixoso que estava no exílio. A língua dos eruditos ou instruída, que aparece neste versículo, pode ter ligação com o treinamento que o profeta recebeu para falar a verdade com “coragem e poder”. É a partir daquilo que o servo recebeu de Javé, seu Senhor, que ele irá consolar os israelitas que estavam no exílio. A descrição deste versículo mostra que o servo a cada novo dia recebia inspiração do Senhor para cumprir sua tarefa.

v. 5: Desde o versículo 4, mas também aqui bem como no v. 7, o servo testifica que depende de seu Senhor, pois é ele quem o ajuda e o orienta. Este versículo mostra que o Senhor deu ao servo ouvidos abertos e este não se mostrou rebelde, mas realizou o que lhe cabia. Assim também foi com Cristo, ou seja, ele cumpriu sua missão sem vacilar ou desistir.

v. 6: Do versículo 4 até o 6, é possível ver a descrição da obediência do servo, mesmo em meio a duras oposições. Ele terá que enfrentar tais dificuldades para cumprir sua missão. Arrancar a barba e cuspir no rosto eram grandes insultos para o homem do Oriente. O texto não mostra os motivos das perseguições que o servo sofria, apenas que o servo seguiu em frente com sua missão, embora sofresse oposições. Assim foi com Cristo, ele sofreu perseguição e muitos insultos, mas foi fiel na sua missão.

v. 7: Os exilados viviam numa situação de vergonha, pois mesmo com as promessas do profeta, não havia como compreender a forma como a libertação aconteceria. As esperanças haviam acabado e, por isso, eles não criam mais na providência divina e na sua manifestação, embora o profeta anunciasse. O servo, embora tivesse sofrido perseguições, estava convicto e foi fiel à sua missão, transmitindo o recado e seus ensinos, porque, como o texto indica, o seu Senhor o ajudou. Com ajuda do Senhor ele enfrenta o futuro e não fica ou se sente envergonhado. Assim, seu rosto foi feito como pederneira e ele está pronto para sofrer as consequências de sua fidelidade, cumprindo sua tarefa. Assim também foi Cristo, ou seja, era destemido e enfrentava toda oposição para cumprir sua tarefa.

v. 8-9: Estes versículos mostram um vocabulário de tribunal. Ciente da sua condição, o servo convida seus adversários para estarem com ele perante o tribunal, pois sabe que o Senhor o defenderá contra todas as injustiças. O servo sabe que seu Senhor será justo e condenará a injustiça, por isso leva avante sua missão, cumprindo o propósito que a ele foi designado e desafia alguém que o possa condená-lo. A parte final do poema mostra que é o próprio Senhor quem fala através do mensageiro e que o servo encontra-se feliz diante da ajuda divina recebida.

3. Meditação: Razões para crer e obedecer

Diante do contexto em que o povo de Israel vivia (estava há anos no cativeiro) e diante daquilo que o texto de Isaías 50.4-9 apresenta sobre o servo obediente, pode-se verificar algumas razões que levam a crer e obedecer a Javé.

Antes desse destaque é preciso estar ciente de que o verdadeiro servo de Javé passa por sofrimentos, mas em tudo mantém-se submisso diante do serviço e da missão a ele entregue. Tudo é possível porque o Senhor Deus se faz presente com seu servo.

Ainda é importante estar ciente que o servo consegue obedecer se tiver seus momentos com Javé, como diz o texto: todas as manhãs. É assim que o servo tem condições de sujeitar-se e compreender sua obra e recado de forma clara. Só é possível ouvir o recado de Javé estando com os ouvidos atentos à voz de Javé. Se não for assim, haverá uma grande tentação para transmitir o recado da mente humana e não aquele que vem de Javé. Estando próximo a Javé, não há razão para temer, pois o servo terá condições de ser forte, ajudar e fortalecer aquele que precisa. Além disso, esse servo também terá as palavras certas em sua língua. É isso que permite que o servo não vacile ou desista em sua missão. 

Todos têm uma tarefa, como servos de Javé, mas oposições e dificuldades virão, até mesmo situações de humilhação; com a ajuda de Javé a missão pode ser realizada e os resultados serão os melhores. Para isso é preciso crer e obedecer. Por isso seguem algumas razões para crer e obedecer.

a) Porque Javé é poderoso e cumpre o que prometeu 

Não é difícil de imaginar que muitos não acreditavam nas predições do profeta Isaías. Afinal, uma geração já havia passado desde que o povo havia ido para a Babilônia. Entretanto, o profeta mostra para o povo, ainda no capítulo 49, que Javé é conhecido como o “Deus Poderoso” desde os antepassados de suas gerações. Desde a saída do Egito, Javé já vinha mostrando-se Poderoso e Salvador, mesmo diante daqueles que pareciam ser os mais poderosos. Ele se mostra como uma mãe ou como um marido, sendo que, ambos jamais abandonaram aqueles com quem tinham um compromisso, mesmo que os tenha entregue nas mãos de opressores como consequência de desobediência. Javé fez o que fez devido aos pecados de seu povo, mas tal povo ainda lhe pertencia, e agora novamente o seu grande poder seria manifesto para que os seus voltassem. Essa foi a mensagem e foi o que aconteceu quando Ciro proclamou o decreto que todo estrangeiro poderia voltar para sua terra natal. O decreto foi de Ciro, mas a promessa e palavra de libertação vieram de Javé muito antes. Entretanto, é bom lembrar que o momento certo foi escolhido pelo Senhor, por isso tal espera.

A obediência acontece quando o servo tem determinação e crê no seu Senhor. Esse foi o exemplo deixado por Cristo. Embora Cristo tenha sofrido a ponto de morrer na cruz, ele sabia que o seu Senhor estaria ao seu lado, suas promessas seriam cumpridas e um dia o próprio Senhor o justificaria diante de todos.

b) Porque o servo é fortalecido por seu Senhor e assim se torna um mediador

Por mais estranha que pudesse ser a mensagem que o profeta Isaías deveria transmitir, ele a transmite. Assim como a palavra para anunciar vinha do Senhor desse servo, as forças para proclamar a mensagem também vinham de seu Senhor. Após tanto tempo e em meio a tanta incredulidade, era necessário que o próprio Javé enchesse o profeta de disposição. Diante de tão preciosa força não haveria quem pudesse condenar o profeta (v. 9a). Assim como Javé fortalecia o profeta, agora o profeta vai receber “língua de eruditos”, ou seja, ele será um canal para trazer conforto aos cansados (v. 4). É isso que o verdadeiro servo faz; quando despertado (v. 4), ele ouve e depois fala. No contexto do povo de Israel, ouvir seu Senhor era algo que fundamentava o estilo de vida do povo, pois ouvir fazia parte do credo israelita em Javé e essa importância já é evidenciada em Deuteronômio 6.4. O servo verdadeiro não é rebelde, mas obediente. Obediência é a marca do próprio Cristo. É a marca daquele que confia em seu Senhor. Jesus é apresentado como o servo que foi obediente, além disso, ele também traz mensagem de esperança e consolo para todo aquele que o busca e quer seguir seus ensinos, deixando para trás tudo o que a Palavra condena.

O servo apresentado no texto de Isaías é aquele que, a exemplo de Cristo, mesmo sendo ferido e maltratado (v. 6), encontra e recebe forças do Pai Celestial (v. 7) para entregar-se totalmente a ele, para não sentir vergonha ou medo (v. 7 e 8) e cumprir sua missão. Cumprir a missão, a exemplo de Cristo, significa buscar no próprio Javé e rogar que ele mostre a sua vontade soberana. O servo que tem comunhão com seu senhor recebe forças dele, por isso esse servo obedece à voz divina.

4. Conclusão

Não importa a situação ou o erro cometido, o servo de Javé e seu povo são convidados a crer nas suas promessas e ter esperança nele. O servo precisa ter esperança que a libertação do sofrimento virá. Ele precisa manter-se fiel e cumprir a missão que seu Senhor lhe entregou, seguindo o exemplo do servo mais fiel de todos, o próprio Cristo. O servo também deve estar ciente de que, embora as reflexões e consequências dos erros apareçam, Javé sempre está disposto a perdoar e derramar sua graça, renovando os laços antes rompidos. Em muitas situações, crer e obedecer não é algo fácil, pois isso pode levar a desafios, entretanto, é certo que haverá o momento em que o Senhor cumprirá sua Palavra. Por isso o melhor sempre será que o servo creia e obedeça. Afinal, como bem enfatizam vários versículos do texto, o Senhor Deus é quem ajuda a seguir em frente e julgará o servo e seus adversários.

5. Imagens para a prédica

Mensagem do livro Coletânea de Ilustrações, do autor Natanael de Barros de Almeida que mostra que ajudar os cansados é um privilégio, bem como dizer boas palavras em tempo oportuno ou realizar nossa missão com zelo.

“Certa vez, um cantor famoso foi convidado a dar um concerto em benefício dos soldados da Primeira Guerra Mundial. O presidente da comissão que o convidou lhe disse: ‘Como se trata de um benefício, não exigimos natural mente que o senhor apresente o que tem de melhor. Seu nome é suficiente para atrair as multidões. Eu sugiro canções simples, que não exijam grande es forço de sua parte’. Dizem que o cantor sentiu-se ofendido e, enchendo-se de orgulho, respondeu: ‘Eu não me contento em fazer menos do que o melhor que posso’.”

É nosso dever solene tirar o máximo proveito de nossos dons e oportunidades, e cumprir fielmente e da melhor maneira qualquer tarefa, seja grande ou pequena. Deus espera que façamos o melhor, não importa qual seja a obra que temos em mãos. Estamos nós fazendo o melhor para ter a aprovação do mestre: Muito bem, servo bom e fiel?

6. Subsídios litúrgicos

Pensando no contexto do texto de reflexão, ou seja, o povo no cativeiro, e nos muitos corações que se encontram como o povo que estava no cativeiro, o texto que segue pode trazer consolo, como as boas palavras de Cristo. Jesus proferia palavras ao cansado, ele olhava aos aflitos e desalentados, aqueles que se encontravam sem esperanças, e procurava trazer alento aos anseios da alma.
Mateus 11.28-29: Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.

Bibliografia

CRABTREE. A. R. A profecia de Isaías: texto, exegese e exposição. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1976.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento. Santo André: Geográfica, 2006.


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Autor(a): Marivete Zanoni Kunz
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 17º Domingo após Pentecostes
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 50 / Versículo Inicial: 4 / Versículo Final: 9
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2017 / Volume: 42
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 50202
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