Isaías 42.1-8

Prédica

05/03/1972

Isaías 42.1-8
Reminiscere 

Deus mesmo apresenta seu servo a seu povo exilado. 

No entanto, quem escutou bem terá percebido o contraste estranho e nada comum: esse servo nos é apresentado como sé fosse um rei, um governante com poderes excepcionais. A apresentação é solene. Mas o apresentado é um servo, um servidor, um criado, um escravo! Como entender uma coisa dessas? 

A nomeação, a proclamação desse servo do Senhor acontece no momento critico, no beco sem salda de uma longa história. O povo de Deus, Israel, tinha conhecido muitos e grandes servos. No começo temos a figura de um libertador: Moisés - o homem que guiou e conduziu um povo da escravidão é opressão para a terra prometida. A seguir, os juízes assumem a tarefa de manter o povo livre numa terra livre. Nenhum deles seria um dominador, pois todos sabiam: só o Senhor domina sobre seu povo. 

E então foram ungidos os reis em Israel. Por fim, durante o reinado brilhante de uns e lamentável de outros, levantam-se as vozes dos profetas. Profetas não são adivinhado res. Sua função, em Israel, não era a de fazer previsões: Sua mensagem é sempre a palavra de Deus, anunciada para dentro de determinado momento. A palavra profética, em Israel, revelava sempre uma vontade: a vontade de Deus. Por isso mesmo os profetas foram figuras incômodas para o povo, para as autoridades e até para a religião estabelecida. Porque não é raro que a palavra de Deus ponha em dúvida justamente as coisas bem arrumadinhas, bem arranjadas. A palavra de Deus, quando é realmente de Deus, costuma levantar as tampas de certas panelas, de certos estojos, de certas consciências. E nem sempre é agradável o cheiro que sai...

Seja como for, o povo de Deus conheceu lideres dedicados e lideres fracassados, conheceu pontos altos e derrotas estrondosas, foi fiel mas também soube ser extremamente acomodado. E todos os acomodados são infiéis!

Mas a infidelidade também tem o seu preço. E um dia terminou, para Israel, o governo próprio, o templo e a religião estabelecida. 

As palavras que ouvimos, a apresentação do servo de Deus aconteceu no exílio, onde s6 existiam alguns restos de povo e restos de religião. No meio da bancarrota total, no meio das ruínas, Deus apresenta seu servo, seu escolhido, a quem Ele, Deus, sustenta, aquele sobre quem Deus colocou seu Espirito. 

E que faz esse servo do Senhor, no meio da crise

A pergunta é bem atual para nós. Mas talvez a resposta nos deixe desiludidos.

Porque esse servo do Senhor não veio para resolver a crise de Israel. Pelo contrário: sua tarefa, sua missão é a de retomar tudo aquilo que tinha sido confiado ao povo de Deus. Sua função consiste em apanhar o que tinha fracassado, em tomar aquele sofrimento amadurecido - e passar para os gentios, para os outros povos. 

Os talentos, as dádivas confiadas a uns, as cargas e dores suportadas por um povo escolhido e amado, passam a ser patrimônio de toda a humanidade. Tudo o que cresceu e se acu mulou durante a longa história da salvação - é dado de presente a todos os homens. 

Os irmãos já notaram como tudo isso é lindo? Como alarga a visão? 

Aqui em Juiz de Fora há uma porção de gente querendo converter uns aos outros: Passa pra minha Igreja! Lá tem muito mais espiritualidade!. As pessoas são mais consagradas:... 

Os irmãos já notaram como essa outra coisa, agora, é nojenta? Como é estreita? E por que é nojenta e estreita? Porque é uma atitude mundana disfarçada de espiritual. Todo espirito de separatismo e concorrência, também na religião e nas igrejas, não passa de mundanismo e pecado. No campo da economia e da política encontramos essa mesma nojeira e estreiteza disfarçada em idealismo. Ex: russos e americanos estão matando gente, há mais de dez anos, no Vietnã. Os dois Vietnãs - um pouco mais da metade de Minas... 

Russos e americanos estão jogando, há anos, os árabes contra os israelenses. Israel = 28 vezes em Minas.

Quer dizer: a mesma cobiça em certas potências e certas igrejas. O mesmo egoísmo em certos políticos e certos pastores. Em vez de resolverem os grandes problemas da humanidade, há discussões em torno de um pedacinho de terra. Em vez de evangelizarem uma população, ficam caçando e pescando membros uns dos outros. 

Por que tudo isso, afinal? 

Porque a mensagem e a tarefa do servo de Deus assustam. 

Porque a mensagem e a tarefa do servo de Deus são muito concretas, muito terra à terra. Esse servo apresentado como rei vem para decretar o direito e a justiça entre todos os povos. Ele não vai desanimar enquanto não houver direito e justiça na terra inteira. O servo de Deus é luz para os povos, abre os olhos aos cegos (até mesmo daqueles que não querem ver!), ele tira gente das prisões, ele liberta os que estão atirados na escuridão de todos os cárceres do mundo. 

E como é que o servo de Deus faz isso? Sem propaganda e sem alto-falantes. Ele faz tudo isso indo ao encontro de todos aqueles que já foram condenados pelas absurdas leis dos homens. Quer dizer, ele não acaba de esmagar a cana que já quebrou; ele não termina de apagar o pavio que ainda está fumegando. Ali, onde a sociedade e a religião estabelecidas e acomodadas já deram a sentença final, ali onde não vale mais a pena, ali o servo de Deus faz o novo começo. 

Compreendemos agora quem é esse servo? Jesus! 

Compreendemos por que tanta oposição? A cruz! 

Então - o fim da estreiteza e da falsa espiritualidade. O começo da visão mais larga - a Ceia, onde Ele nos serve. 

Amém.

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Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Natureza do Domingo: Quaresma
Perfil do Domingo: 2º Domingo na Quaresma
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 42 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Título da publicação: Auxílios para a Prática Pastoral - Seleção póstuma de prédicas e medit / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974 / Volume: P - 2
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 23308
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