3o. DOMINGO DE ADVENTO
Isaías 40.1-8
Prezada Comunidade!
No século VI antes de Cristo o Reino de Judá - parte do antigo Israel já no era mais a potência que fora outrora e se encontrava à mercê das grandes nações do Oriente. Em 587 a.C. ocorreu a investida decisiva dos neo-babilônios contra Jerusalém e grande parte do povo foi deportada para a distante Babilônia. Todas as noticias que temos daquela época falam da saudade, do anseio daquela gente, de retornar á pátria, de estar, outra vez, próximos — do santuário central em Jerusalém. Entre aqueles exilados vivia também um profeta, cujos escritos encontram-se incorporados ao livro de Isaías. No conhecemos seu nome e, por isso, costumamos chamá-lo de Deuteroisaías. Pois bem, passados muitos anos de cativeiro naquela terra estranha, Deuteroisaías recebeu ordens de Deus de proclamar á sua gente que estava próximo o fim da deportação e que em breve voltariam á sua terra, conduzidos por seu Deus. Esta fabulosa notícia de Deuteroisaías a seu povo está registrada no Livro de Isaías, capitulo 40, versículos 1-8 e constitui o texto para a prédica de hoje:
Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém, e bradai-lhe que o tempo de sua milícia terminou, que sua culpa esta perdoada - que já recebeu em dobro da mão do Senhor por todos os seus pecados. Uma voz clama: No deserto preparai o caminho para o Senhor, na estepe aplainai uma estrada para o nosso Deus. Todo vale seja levantado e todo monte e toda colina sejam nivelados; e tudo o que há de acidentado se transforme em planície e as partes escabrosas se transformem em plano. E a glória do Senhor se manifestará e toda carne conjuntamente a verá, pois a boca do Senhor foi que o disse. Uma voz diz: Clama! E eu pergunto: Clamarei o que? Toda carne é erva e toda a sua graça é como a flor do campo, Seca-se a erva, murcha a flor; quando sopra sobre elas o hálito do Senhor. - Sim, erva é o povo! Seca-se a erva, murcha a flor, mas a palavra do nosso Deus permanece para sempre.
Assim é que Deuteroisaías imaginava a volta do povo a Jerusalém, tendo á frente o seu Deus: seria aberta uma Fantástica estrada, através do deserto e da estepe, até Jerusalém; uma estrada construída com um monstruoso serviço de terraplenagem. Vales, morros, o terreno acidenta do seria nivelado e aplainado. Depois destes preparativos Deus viria majestosamente por essa magnífica estrada, dando entrada em Jerusalém. O vigor, a pujança dessas palavras sempre cativaram as pessoas, em todas as épocas. O exemplo mais claro disso é o fato de que os evangelhos lançaram mão dessas mesmas palavras para explicar a pessoa e a mensagem de João Batista. Em Lucas lemos, que João percorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados, conforme esta escrito no livro dás palavras do profeta lsaías: ...
II
Como vemos, os evangelistas tomaram essas palavras de Deuteroisaías, e deram-lhes outro sentido. Elas não se referem mais á volta do povo com Deus para Jerusalém, mas dizem respeito á vinda de Jesus Cristo. Nesse sentido, podemos nós, aqui hoje, fazer nossas essas palavras para falar da preparação para a vinda de Cristo; para a vinda de Cristo que ocorre sempre que alguém é levado na fé a aceitar — Jesus Cristo, a vinda de Cristo que celebraremos de modo especial no Natal, e a vinda de Cristo que aguardamos no final dos tempos. Cristo vem, com ou sem os nossos preparos; mas justa mente para que sua vinda não nos encontre distraídos ou — orgulhosos e altivos, mas em humilde espera, prontos para receber - por isso é que soa o brado, que manda preparar o caminho.
Esta preparação para a vinda de Cristo deve ocorrer em dois campos:
a - na esfera privada e interior de cada qual;
b - nas nossas nalaçóes com os outros.
Gostaria que todos compreendessem bem uma coisa: quando falo de preparação para a vinda de Cristo, não estou apelando para o sentimentalismo de ninguém. Esta preparação não ë sentimentalismo; é coisa muito séria! Deve ser uma ação criadora e transformadora nas maiores proporções; assim como a construção da estrada de Deuteroisaías. Devemos empregar tudo o que é trator, patrola, escavadeira, rolo compressor e todo asfalto que encontrarmos para por em dia esta nossa estrada, para que ela esteja á espera, aguardando a passagem de Cristo.
Todo monte e toda colina sejam nivelados. Quando Cristo vier, tudo o que ha de orgulhoso e altivo em nós te rã que curvar-se. Acontece que diante de Cristo não temos — nada a apresentar. Diante dele não ha motivos para orgulho. Diante dele só pode haver a atitude daquele coitado, que puxa para fora os bolsos vazios da sua calça e diz: Olha aqui, não tenho nada! Só posso receber! Existe, entre nos, homens, um certo grau de poder - político, militar ou econômico -, um certo grau de riqueza, de saber até, que se tornam um obstáculo á vinda de Cristo. Esses fatores podem embriagar-nos a tal ponto, que não conseguimos mais entender o que Cristo quer dizer-nos.
Tudo o que ha de acidentado se transforme em planície e as partes escabrosas se transformem em plano. Cristo quer trilhar uma estrada reta e plana. Para nos prepararmos, teremos que meter os tratores para endireitar as curvas e o nível acidentado da nossa estrada, que anda quase que intransitável, porque fomos botando uma curva ao la do da outra, um buraco ao lado do outro, com a nossa maneira de ser, com a nossa culpa, com a nossa insinceridade, — com nossa falta de retidão e honestidade no trato com as outras pessoas e nos nossos negócios; curvas e buracos que fizemos com o nosso amor próprio, que nos coloca no centro do universo, deixando que os outros se danem. A oposição, a rebeldia, a obstinação constante do homem contra a vontade de Deus podem endurecer-nos a tal ponto, que quando Cristo vier e bater, só encontrará portas trancadas e chaveadas, que não se abrem -aquele que bate.
Como vêem os senhores, temos que pôr nossas máquinas a trabalhar, para por nossa estrada em dia. Só assim é que poderemos celebrar o Natal devidamente preparados, isto é, em humilde expectativa, de mãos vazias, esperando que Cristo as encha. Isso é o que eu queria dizer quanto à preparação interna privada de cada qual.
No entanto, o nosso preparo para a vinda de Cristo também precisa correr num outro sentido, se é que quer ser um preparo honesto e não uma mera manifestação do nosso egoísmo, ávido de salvação. Nós precisamos e temos o dever de — ajudar o outro a aplainar sua estrada.
Prezada comunidade, é evidente que não podemos, com os nossos esforços, com a nossa terraplanagem, forçar a vinda de Cristo. No entanto, a situação, o estado em que Cristo nos encontrar não é coisa indiferente. Nós podemos dificultar o acesso á fé, tanto para nas, como para outras pessoas. Nas podemos contribuir, por omissão ou por comissão, para que a nossa vida e a vida dos outros se desenrole de tal maneira, que se torna difícil crer em Jesus Cristo.
Imaginem a situação dessas pessoas, que não sabem o que vão dar de comer a família no dia de amanhã, a situação desses, que vivem na extrema miséria - numa miséria que nós nem vimos porque estamos entrincheirados nas muralhas dos nossos apartamentos e de nossas casas bem instaladas -, a situação dos que moram num barraco caindo — aos pedaços, dos que vivem meses com a mesma roupa no corpo, porque nunca souberam o que é ter uma camisa nova, dos que não conseguem trabalhar porque nunca tiveram oportunidade de aprender algo ou a situação daqueles que trabalham e são sugados até a última gota pelos que lhes roubam seus mínimos direitos. Se tais pessoas chegarem a crer na justiça e bondade de Deus, isso será um milagre quase inacreditável. Da mesma forma, prezada comunidade, todo aquele que leva uma vida desregrada e indisciplinada terá dificuldade em ouvir, na fé, os mandamentos de Deus. E todo aquele que se senta a uma mesa farta em cada refeição e que sente o gosto do poder terá muita dificuldade em compreender o juízo e a graça de Deus. Como vêem, a situação em que Cristo nos encontrar não é coisa indiferente.
Repito mais uma vez: sabemos que tudo o que fizermos para aplainar o caminho e eliminar os obstáculos não poderá forçar a vinda de Cristo. Isso, porém, não nos exime (?) da tarefa de preparar o caminho por todos os meios possíveis. Pelo contrário, a preparação do caminho é uma incumbência de enorme responsabilidade para todos aqueles que sabem da vinda de Jesus Cristo. Nós temos a obrigação de fazer o que pudermos para que não só nós, mas também os outros atinjam uma condição, que lhes facilite o acesso à fé. O faminto precisa de pão, o que não tem onde morar precisa de teto, o oprimido precisa de direito, o solit5rio precisa de companhia (comunhão), o indisciplinado de ordem, o escravo de liberdade. Seria uma blasfêmia contra Deus e contra o próximo, deixar o faminto com fome, porque precisamente a miséria e a necessidade do próximo é que estão mais próximas de Deus. É devido ao amor de Cristo, que pertence-lhe tanto ao faminto como a mim, que devemos proporcionar pão e teto. Se o faminto não pode viver o Advento, se o faminto no tem acesso a fé, a culpa é daqueles que lhe negaram o pão. Dar pão ao faminto, prezada comunidade, é preparar o caminho para a vinda da graça, de Cristo. Dar pão ao faminto é celebrar Advento.
Ê esta a mensagem que tenho a transmitir-lhes neste 3º. Domingo de Advento: metam todas as máquina a trabalhar para que fique aterrada, aplainada, nivelada e tinindo de espera a estrada - a sua e a do próximo -, aguardando, humilde, a chegada de Cristo. Que Deus nos ajude nessa terraplanagem! Amém.
Oremos:
Senhor, nosso Deus, tu sabes melhor do que nós como anda fraca nossa preparação para a tua vinda. Pedimos-te: faze com que a mensagem que nos deste hoje penetre em nós e fique 1 dentro, inquietando-nos; ajuda-nos a eliminar os montes e vales, o terreno acidentado e as curvas, tanto em nós, como no tocante aos outros, para que te recebamos em atitude de humilde espera. Por Jesus Cristo. Amém
Veja:
Nelson Kirst
Vai e fala! - Prédicas
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS