Isaías 11.1-9 - Noite de Natal - 24 de dezembro de 2021

Auxílio Homilético

24/12/2021

Prédica: Isaías 11.1-9
Leituras: Lucas 2.1-7 e Gálatas 4,4-7
Autoria: Nilton Giese
Data Litúrgica: Noite de Natal
Data da Pregação: 24/12/2021
Proclamar Libertação - Volume: XLVI

Democratização do Espírito de Deus

1. Um pouco do contexto

O profeta Isaías viveu em Jerusalém entre os anos 740 e 680 a.C. Essa foi uma época de grande prosperidade econômica em Judá. Provavelmente ele tinha acesso direto à corte e, por isso, viu a extravagância, as injustiças e a falência espiritual dos líderes de Judá, com sua idolatria e crescente indiferença à palavra de Deus. O profeta Isaías presenciou o reinado de pelo menos quatro reis: Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias (Is 1.1).

Judá ficava em uma região importante para o comércio, o que sempre a colocou como alvo de potências estrangeiras. O exército assírio foi uma ameaça para toda a região e já havia se adonado de Damasco (732), das regiões setentrionais de Israel (732) e da Samaria (722). Sobre o reino de Judá, os assírios estabeleceram a vassalagem, exigindo de Jerusalém o pagamento de impostos. Contra os insubordinados, os assírios haviam tornado manifesto seu terror e seu orgulho por toda a região. O profeta Isaías critica-os com veemência (Is 10.5-34).

Em 701 a.C., o rei Ezequias reforçou as muralhas de Jerusalém e as equipou com catapultas (2Cr 32.5). Também ordenou a construção de um túnel subterrâneo de 513 metros, que ligava uma fonte de água à cidade. Depois dessas obras, o rei Ezequias decidiu então não pagar mais os impostos aos assírios. O exército assírio atacou Jerusalém, mas não conseguiu romper as muralhas fortificadas. O exército assírio resolveu então cercar a cidade. O cerco trouxe limitação de alimentos, mas a população de Jerusalém conseguiu resistir por conta do túnel de Ezequias. O livro de Crônicas diz que Deus atendeu as orações do rei Ezequias e do profeta Isaías, enviando um único anjo para destruir grande parte dos soldados e dos oficiais do exército assírio (2Cr 32.20s).

Ezequias poderia ter sido esse rei anunciado pelo profeta Isaías. Além da resistência ao poderoso exército dos assírios, ele marcou seu reinado pela restauração dos sacerdotes e levitas ao templo, pela instituição da festa da Páscoa, combateu a idolatria em Judá proibindo o culto aos deuses pagãos, determinou que fosse destruída a serpente de bronze construída na época de Moisés.

Mas Deus se decepcionou com Ezequias, ao ver que suas realizações o encheram de prepotência e orgulho. Tendo adoecido gravemente, acometido do que a Bíblia chama de úlcera (alguns historiadores acreditam tratar-se de um câncer),  o profeta Isaías veio lhe dizer que iria morrer. Não se conformando, Ezequias pôs-se a orar e Isaías, então, retorna com outra mensagem de Deus, informando um acréscimo de mais 15 anos à vida do rei. Ezequias deve ter pensado que Deus não fez mais que sua obrigação e, por isso, ele não agradece a Deus (2Cr 32.25). Esse orgulho de considerar-se melhor do que qualquer outro leva o rei a cometer outros erros de exibicionismo que, por fim, terminam no ataque e na conquista de Jerusalém pelos babilônios.

2. Manifestação de Deus conforme o profeta Isaías

No tempo do profeta Isaías, acreditava-se que Deus se manifestava no mundo somente por meio dos reis. Se o rei fosse bom, era motivo para louvar a Deus. Se o rei fosse mau, o povo deveria procurar a culpa em si mesmo, na sua idolatria. A possibilidade de trocar o rei era inconcebível. Os profetas tinham a função de denunciar um rei que não cumprisse a vontade de Deus, mas não podiam liderar um movimento de revolta para destituir um rei. Acreditava-se que a monarquia era uma instituição divina e revoltar-se contra o rei era o mesmo que revoltar-se contra Deus. Por isso os sacerdotes deveriam orar para que Deus fosse misericordioso e lhes enviasse um bom rei. Para que houvesse justiça na terra, primeiro deveria nascer um bom rei.

É com essa esperança que o profeta Isaías escreve o capítulo 11.1-9. O profeta Isaías anuncia que o Espírito do Senhor vai se manifestar sobre um rei – que não será apenas da linhagem de Davi, mas será um novo Davi (Jr 30.9; Ez 3.23-24; Os 3.5). Esse rei anunciado será abençoado com os sete dons do Espírito de Deus: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, conhecimento, temor do Senhor e justiça com retidão.

Esse novo rei também vai restaurar toda a criação de Deus. Os seres humanos e a natureza viverão em segurança e em paz. Essa paz será consequência do conhecimento do Senhor (Jr 31.34). Pelas atitudes desse novo rei, todas as pessoas terão conhecimento de Deus e fazer a vontade de Deus terá como consequência a paz.

No entanto, essa profecia não se cumpriu em nenhum rei do Antigo Testamento. Ela se cumpre somente em Jesus (Mt 1.6; Lc 2.4; At 13.22-23). Em Jesus, a manifestação do Espírito de Deus deixa de ser algo privativo aos reis e governantes e passa a se manifestar sobre qualquer pessoa e sobre a natureza.

O cumprimento dessa profecia acontece na mensagem natalina do Verbo que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14) e naquele que diz: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres [...] (Lc 4.18s). Portanto, no Natal, anunciamos que a igreja tem uma querida filha que se chama esperança. Não se trata de uma esperança apenas individualista, mas da irrupção de um novo céu e de uma nova terra, onde habitarão a justiça e a harmonia na boa criação de Deus, onde o lobo habitará com o cordeiro e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fp 2.11). Para esse projeto Jesus nos convida dizendo: Vem e segue-me! (Lc 18.22; Mt 16.24; Mc 1.17)

3. Democratização do Espírito de Deus

Já o profeta Joel – solitariamente – havia manifestado que o Espírito de Deus não se limita somente aos reis. E acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhas e filhas profetizarão, vossos velhos sonharão e vossos jovens terão visões, até sobre os servos e as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias (Jl 2.28-29).

Com democratização da manifestação do Espírito de Deus, Maria enaltece a Deus, que derrubou de seus tronos os poderosos e engrandeceu os humildes. Ao chegar ao palácio de Herodes, os magos descobrem que o Messias não havia nascido ali no palácio, mas numa estrebaria em Belém. Também o apóstolo Paulo constata que Deus escolheu os humildes e fracos para envergonhar os sábios e poderosos, para que ninguém se orgulhe em sua presença. Homens e mulheres, jovens e velhos, servos e servas – todos são transformados em instrumentos do Espírito de Deus no mundo.

Por conta da democratização do Espírito de Deus, os discípulos de Jesus perdem o medo das autoridades no dia de Pentecostes. Após a experiência de Pentecostes, eles proclamam publicamente o Evangelho do crucificado e ressurreto, testemunhando até mesmo diante de tribunais que não podem deixar de falar das coisas que viram e ouviram (At 4.20). A democratização do Espírito de Deus destrava a língua daquele que crê para que possa testemunhar aquilo que viu e ouviu, ao mesmo tempo em que gera fé naquele que ouve e acolhe o anúncio da Palavra (At 2.38).

Desta forma, o Espírito Santo que atua hoje não pode ser outro do que aquele que atuou em Jesus de Nazaré. O Espírito de Deus não diviniza mais as autoridades. As autoridades têm agora responsabilidades com o serviço aos cidadãos, atribuídas pelo próprio Deus. Sobre o mundo da injustiça, da opressão contra os pobres, da idolatria do poder e das vaidades, as autoridades são chamadas a servir e defender os mais vulneráveis. Hoje, devemos sim orar para que as autoridades cumpram seu papel. Mas, se não cumprirem, podemos tirá-las do
poder com o nosso voto.

O Espírito de Deus é capaz de transformar a natureza das pessoas, superar ódios e rivalidades e criar, em troca, a unidade e o cuidado com a boa Criação de Deus. Que o nascimento do Filho de Deus, neste ano, desperte em nós um compromisso com Deus para viver um novo tempo. Um compromisso com Jesus para que o Espírito de Deus se manifeste ao mundo também por meio de nós.

4. Auxílios litúrgicos

Saudação: O anjo disse aos pastores: Hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. A criança do estábulo deve nascer em ti. Não sabes como? Acende tuas luzes e confia que cada lugar da terra pode ser transformado em estábulo, palha e manjedoura (Georg Schmid).

Confissão de pecados: Senhor, nosso Deus, criador da vida, tu nos concedeste enorme liberdade e confiaste em que saberíamos usá-la. A terra, porém, geme sob o nosso domínio. Nessa semana ficamos horrorizados com................. (acrescentar motivos). Tu esperas que nós usemos com responsabilidade os dons que tu nos deste e correspondamos melhor ao encargo que nos confiaste de cuidar de tua criação. Também queremos trazer diante de ti as pessoas cuja esperança está destruída por causa da pobreza, da miséria, da falta de trabalho, de um teto, de um destino. Tem misericórdia de nós, salva-nos e acolhe-nos, por Cristo Jesus. Amém.

Oração de intercessão: Deus, Criador da vida, venha sobre nós o teu Espírito. Concede-nos sabedoria e inteligência, conselho e força, conhecimento e temor. Que o teu Espírito seja a nossa inspiração de vida. Tua criação padece. Nós padecemos profundas dores, todo tipo de infortúnio e miséria. Não conseguimos nos entender ou construir uma relação de paz. Estamos tomados por um espírito agressivo contra a vida. Seguimos nossas próprias leis ou as leis de deuses estranhos, que exigem de nós enormes sacrifícios, entre os quais a vida de seres fragilizados. Bondoso e misericordioso Deus, faze com que a tua Palavra encarnada no menino Jesus seja a luz do nosso caminhar. Renova nossas esperanças e o nosso viver no mundo, e concede que sempre confiemos em tuas promessas de salvação. Nós nos dirigimos a ti com temor, com esperança e com confiança. Amém.

Bênção: Deus de bondade, derrama teu Espírito Santo sobre nós como chuva copiosa, para que ele faça florescer em nossos corações o amor e a fé. Que o Espírito Santo transforme nossas mentes e atitudes, de tal modo que nós consigamos ser uma boa influência neste mundo. Que assim o Senhor nos abençoe e nos guarde. Que o Senhor levante o seu rosto sobre nós e tenha misericórdia de nós. Que o Senhor levante o seu rosto sobre nós e nos abençoe dando-nos a sua paz. Em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.


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Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Natal
Perfil do Domingo: Véspera de Natal
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 11 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 9
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2021 / Volume: 46
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 68552
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Façam todo o possível para juntar a bondade à fé que vocês têm. À bondade, juntem o conhecimento e, ao conhecimento, o domínio próprio. Ao domínio próprio, juntem a perseverança e, à perseverança, a devoção a Deus. A essa devoção, juntem a amizade cristã e, à amizade cristã, juntem o amor.
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