História de vida da Irmã Wera Franke

Em comunhão com as viDas das mulheres

01/10/2014

 

Nome: Irmã Vera Franke

Tempo de participação na IECLB: Desde o Batismo

Comunidade: São Leopoldo/RS

Paróquia: São Leopoldo/RS

Sínodo: Sínodo Rio dos Sinos

RB: Irmã Wera, alcançaste a idade avançada de 97 anos, em 2014. Ao recordar a tua longa trajetória de vida, que pensamentos são predominantes?

Irmã Wera: Só posso agradecer sempre de novo a Deus pela maneira como me guiou e acompanhou. Tive uma vocação clara para ser diaconisa e, em momento algum, eu quis ser outra coisa. Não posso me vangloriar de nada, porque, se pude servir e ajudar pessoas em suas dificuldades, foi pela graça de Deus.

RB: Como foi tua infância e juventude?

Irmã Wera: Nasci no interior de Santa Cruz do Sul/RS. O lugar se chamava Dona Josefa, onde meu pai era dono de um moinho, uma casa de três andares, junto a uma cascata. Os bisavós haviam imigrado para esta região, em 1852, vindos da Saxônia.

Minha infância e juventude foi muito feliz. Gostava de brincar no moinho e arredores com meus irmãos. Também tinha uma casinha de boneca que meu irmão ajudou a montar. Mas, acima de tudo, gostava de ler os livros infantis que havia em casa. Quando comecei a frequentar a escola, já sabia ler. Minha sede de aprender era enorme. Mas, infelizmente, só pude visitar a escola em Dona Josefa por dois anos. Meus irmãos também puderam estudar na “Escola Sinodal” em Santa Cruz do Sul. ”Meninas não precisam de muito estudo”, era a opinião na época. Mas eu implorei até que meus pais me deixaram também estudar na Escola Sinodal, por mais dois anos. Ali tive inclusive aulas particulares em português.

RB: Tiveste uma vocação para ser diaconisa. Como foi isto?

Irmã Wera: Meus pais assinavam “A Folha Dominical” (Sonntagsblatt). Esta trazia, de vez em quando, informações sobre a instituição Pella e Bethânia. Eu ficava com muita vontade de ajudar as pessoas pobres que ali moravam. Fui informada de que a melhor maneira de fazer isto seria tornar-me diaconisa. Eu também sonhava em ser professora de jardim de infância. Em Santa Cruz do Sul trabalhava a Irmã Paula Bergmann, muito amada pelas crianças. Foi o que bastou para completar minha vocação. Com 20 anos eu sabia que caminho tomar: ir para o Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, que era a filial da Casa Matriz de Diaconisas de Wittenberg. Meus pais hesitaram em permitir. Mas meu tio disse: “Deixem-na! Em três meses estará de volta!” Não voltei, apesar de o início deste caminho ter sido muito duro.

RB: Tua Casa Matriz de Diaconisas ficava na Alemanha, mas tu querias servir no Brasil. Como entender isto?

Irmã Wera: Sim, a casa de formação das diaconisas que trabalhavam no Brasil desde 1913 ficava em Wittenberg, Alemanha. A Casa Matriz em São Leopoldo só foi fundada em 1939, um ano após o meu ingresso. Quando me perguntaram se eu queria pertencer à nova Irmandade, disse que não queria recomeçar do zero, uma vez que eu já estava trabalhando no Moinhos de Vento e usava o hábito das Irmãs alemãs.

RB: Como foram os anos de aprendizagem?

Irmã Wera: Minhas chefas diaconisas eram bastante severas e havia muito trabalho. Quem trabalhava na enfermagem também era responsável pela limpeza dos quartos e, em parte, pela lavagem da roupa dos pacientes. As alunas tinham aulas de enfermagem com um médico que dizia: “Como vocês já sabem...”. Desta forma, o aprendizado teórico foi muito fraco. Mas eu tentava, de alguma forma, preencher as lacunas. Lembro-me que o professor de anatomia deixava seu livro na recepção. Eu ia lá, levava o livro para o meu quarto e só devolvia no dia da aula. No mais, a gente aprendia observando e arriscando.

RB: Consegues lembrar-te de tua ordenação?

Irmã Wera: Minha ordenação aconteceu sem que eu pudesse conhecer a minha Casa Matriz antes, pois em 1939 já iniciou a II Guerra Mundial. Em dezembro de 1945, as Irmãs no Hospital Moinhos de Vento ainda não ousavam aparecer em público. Por isso fui ordenada na clausura do hospital, junto com a Irmã Irma Engel.

RB: Trabalhaste em hospitais de várias cidades, como Porto Alegre, Sinimbu, Montenegro, Estância Velha. Em Não-Me-Toque trabalhaste durante mais de 30 anos. O que mais te marcou?

Irmã Wera: Em alguns hospitais só trabalhei por pouco tempo, para substituir Irmãs. O trabalho mais bonito foi no hospital Alto Jacuí em Não-Me-Toque. Em 1952 trabalhei ao lado de outra Irmã e, após 12 anos, tive que assumir a direção técnica no hospital. Os 40 leitos estavam quase sempre ocupados, porque, apesar de haver ainda um outro hospital na cidade, as pessoas gostavam de ser cuidadas aqui. Várias Irmãs jovens fizeram o seu estágio conosco, frequentando cursos à noite. Aqui adquiriram importantes lições práticas, que puderam usar e repassar mais tarde. Uma das Irmãs jovens foi Gerda Nied, que precisou muito destes conhecimentos quando trabalhou sozinha nas novas áreas de colonização.

RB: O que foi especialmente difícil no teu ministério e o que foi gratificante?

Irmã Wera: Difícil foi o meu despreparo para muitas das funções que eu tive que desempenhar. Nos pequenos hospitais, quando havia só um médico, as Irmãs também tinham que fazer anestesia e outros procedimentos que hoje só cabem a um profissional especializado. E, na ausência do médico, a Irmã tinha que “se virar”. Durante os meses em que substituí a Irmã-chefe no hospital em Sinimbu, o único médico se candidatou a vereador, o que significava muitas ausências no hospital. Dou graças a Deus que nunca aconteceu algo grave quando estive sozinha.

Gratificante foi o bom convívio na equipe da enfermagem e a confiança que os pacientes depositavam em nós. Aprendi a conviver com pessoas diferentes e a perdoar. Também me alegro por ter podido trabalhar tanto tempo em Não-Me-Toque; pois, quando o exercício da enfermagem exigia cada vez mais conhecimentos, não fui demitida. A Direção valorizou minha experiência e minhas qualidades de liderança.

RB: Irmã Wera, estás hoje integrada na Irmandade da Casa Matriz em São Leopoldo. Como pensas sobre o futuro dela?

Irmã Wera: Eu acompanho com muito interesse o desenvolvimento da Irmandade e também carrego no meu coração os problemas dos quais tenho conhecimento. Meu grande desejo é que a diaconia se desenvolva e que as comunidades despertem para ver sua importância. Também desejo que não acabe esta forma de Mutterhausdiakonie (= diaconia ligada a uma Casa Matriz), pois é tão importante que as pessoas que servem tenham um lar.

RB: O que te alegra hoje?

Irmã Wera: Alegro-me com a linda natureza e penso que devemos cuidar dela. Gosto de trabalhar no pedacinho de terra que chamo de “meu jardinzinho”.

Entrevista concedida a Irmã Ruthild Brakemeier (RB)
São Leopoldo/RS


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