Igreja Evangélica Luterana no Chile: a serviço da esperança

01/12/1999

Igreja Evangélica Luterana no Chile: a serviço da esperança

• Martin Junge •

Nos últimos três anos, a Igreja Evangélica Luterana no Chile (IELCH) esforçou-se muito para responder uma pergunta fundamental: Qual é a tarefa da Igreja?

Certamente há uma série de precedentes teológicos que ajudam a responder essa pergunta: a Igreja deve sua existência a Deus e sua função é testemunhar este Deus. Mas o que significa isto no dia-a-dia da Igreja?

O processo de reflexão levou a Igreja ao lema: A serviço da esperança. A IELCH entende que toda sua missão, sua pregação e sua diaconia querem constituir-se em testemunho da esperança. Essa esperança baseia-se nas maravilhosas obras que Deus fez no passado, nas grandes obras que ele continua fazendo hoje e no deslumbrante reinado que aguardamos para amanhã. Em meio ao desânimo e à falta espantosa de todas aqueles coisas que o ser humano precisa para viver, tais como pão, amor, bom-senso, descanso, comunidade, perdão e solidariedade (para citar algumas), a Igreja é chamada a colocar-se a serviço daquela esperança que nasce em Deus.

Longo caminho

Esta definição dá conta de um longo caminho andado. Pois a IELCH, assim como outras igrejas luteranas do continente, nasceu em meados do século passado, quando sucessivas ondas de imigrantes alemães e suíços chegaram ao Chile para colonizar o sul do país. A missão das primeiras comunidades era claramente satisfazer as necessidades espirituais dos colonos (batismos, casamentos e funerais) e o desejo de preservar juntamente com a Igreja alguns traços de sua identidade cultural (idioma, piedade).

As comunidades luteranas que assim surgiram eram de natureza fechada. Não tinham em seu ideário levar a mensagem para novas pessoas, mas manter a fé evangélica dentro da comunidade alemã. Este traço esteve realçado pelo fato de que o governo chileno proibiu as emergentes comunidades luteranas de exercerem o culto publicamente e as obrigou a usar o idioma alemão em suas liturgias e catequeses.

Recentemente, no início da década de 60, começa-se a perguntar se uma igreja pode identificar-se tão fortemente com algum grupo étnico, um idioma e uma determinada expressão cultural. Esse questionamento surge com maior força à medida que as gerações jovens já não se identificam mais com aquela herança cultural, seja porque já não dominam o alemão ou porque casaram com parceiros de outra cultura. A Igreja precisou então responder a pergunta pelos elementos característicos da identidade evangélica luterana. Não foi um processo muito fácil que levou a Igreja a trocar, no ano de 1964, o seu nome de Igreja Evangélica Alemã no Chile para o atual: Igreja Evangélica Luterana no Chile. Estabeleceu-se com isso uma transformação na orientação da igreja.

Trabalho em castelhano

De fato, nesse período iniciou-se um trabalho em castelhano, apoiado por missionários procedentes da Igreja Evangélica Luterana na América (ELCA). Paralelamente, acontece uma abertura aos fatos sociais e políticos vividos no país. A igreja começa a descobrir cada vez mais sua vocação para o serviço ao próximo necessitado, iniciando diferentes projetos dia-canais em áreas pobres das grandes cidades. Mesmo que esta abertura e este serviço tenham sido impulsionados por pessoas sonhadoras, entre elas leigos e pastores, também nesse caso deve-se assinalar que o processo não respondia necessariamente a vocações comuns. De igual forma era difícil assimilar que comunidades luteranas começavam a surgir com força naquelas áreas empobrecidas nas quais se desenvolvia um trabalho diaconal.

Um momento importante para a igreja (e para o país inteiro) significou a revolução militar do ano de 1973. Esta rebelião foi recebida com alívio pela maioria dos membros das comunidades luteranas no Chile, especialmente por aqueles do sul do país, que durante os governos anteriores haviam sofrido os rigores de uma reforma agrária e a desapropriação de terras.

Para todos aqueles era incompreensível que alguns leigos e a maioria dos pastores da igreja haviam se comprometido, junto com outras igrejas cristãs, a trabalhar pela defesa da vida e da integridade de pessoas que sofriam perseguição e tortura, valendo-se para isso de argumentos da fé.

O conflito que isso lamentavelmente provocou não pôde ser evitado, resultando finalmente na ruptura da Igreja Evangélica Luterana no Chile. Em 1975, oito comunidades de origem alemã abandonaram o Sínodo e constituíram a Igreja Luterana no Chile (ILCH). Permaneceram na IELCH duas comunidades de origem alemã e cinco de fala hispânica.

Superar dificuldades

Nos anos subsequentes, a IELCH teve que superar uma série de dificuldades para consolidar-se. No início, foi quase fechada pelo governo chileno. Ela sempre sobreviveu dentro de uma linha jurídica muito estreita. Ademais, cabia-lhe agora a tarefa de criar uma institucionalidade própria, para desenvolver seu próprio perfil, aprofundar seu trabalho diaconal e consolidar as frágeis e novas comunidades nos setores populares. Seguramente esse trabalho não teria sido possível sem a valiosa cooperação de suas igrejas irmãs: a Igreja Evangélica na Alemanha e a Igreja Evangélica Luterana na América.

A IELCH conseguiu crescer muito em seus desafios. Atualmente, as comunidades que a integram são em número de 11. Há uma série de pontos de pregação, que futuramente podem transformar-se em novas comunidades luteranas. O trabalho diaconal da IELCH atinge indiretamente mais de 8 mil pessoas, havendo uma grande diversidade de projetos: educação popular na área da saúde, centros de desenvolvimento comunitário, jardins de infância, projetos de microempresas, etc. Desde 1980 existe um diálogo com a igreja dissidente, que busca alcançar uma unidade visível entre as igrejas luteranas. Agora é tempo de continuar crescendo. O lema ¨A serviço da esperança¨ convida para trabalhar com alegria e criatividade nessa tarefa, para assim ser fiel à missão de toda a Igreja cristã: ir mundo afora sendo testemunha daquele que é o caminho, a verdade e a vida.


O autor é pastor-presidente da Igreja Evangélica Luterana no Chile, e reside em Santiago


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Autor(a): Martin Junge
Âmbito: IECLB
Área: Ecumene
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2000 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1999
Natureza do Texto: Artigo
ID: 33081
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