Na semana em que escrevo este texto, a História da Igreja registra uma data importante, porém, não muito conhecida. No dia 25 de junho de 1530, o colaborador do reformador Martim Lutero, Felipe Melanchton, professor erudito na Universidade de Wittenberg, tornou-se porta-voz do documento denominado de Confissão de Augsburgo. O ato aconteceu diante do Parlamento alemão, convocado pelo Imperador para a cidade alemã de Augsburgo, nas imediações de Munique. Sob a coordenação do Imperador Carlos V, além das autoridades representativas das cidades e dos principados da Alemanha, assim como representantes da Igreja Católica Romana, aconteceram os trabalhos. A Confissão de Augsburgo, apresentada por Melanchton, reflete em seus 28 artigos as mudanças havidas na Igreja a partir do Movimento da Reforma. O documento, sendo confissão pública de fé, continua vigorando como base confessional da Reforma, em todo o mundo, também para a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.
Depois de tantos desencontros e de adversidades, havia chegado ao país nascedouro da Reforma o tempo em busca de consenso confessional. Os seus conteúdos vigoram até os dias de hoje. Havia clareza de procedimentos: quem quisesse manter-se integrado na Igreja Católica Romana podia tomar a sua decisão; quem tomasse a liberdade de somar aos propósitos da nova fé, na Alemanha, poderia proceder de igual modo. Na hipótese de ocorrerem mudanças de vínculo confessional estas teriam que harmonizar com a vivência religiosa do respectivo Príncipe territorial. Prevalecia o mandato: cuius regio, eius religio (=assim como o governo, assim a religião!) Em pouco tempo o documento se espalhou por toda Alemanha. Embora não fosse a intenção dos seus protagonistas, o Movimento da Reforma desembocou numa nova Igreja.
Na medida em que investimos no avanço das relações entre as Igrejas, confessamos que o Deus único, revelado em Jesus Cristo, não se agrada com as divisões existentes. Graças ao bondoso Deus, há reconhecimento mútuo do batismo; ainda assim, não vivenciamos a hospitalidade comum em torno da mesma mesa para a celebração conjunta da Ceia do Senhor. Face às divisões que persistem, qual é o foco que não podemos perder de vista? O eixo da Unidade nos remete à descoberta da Verdade revelada no Evangelho. A Verdade perpassa a Bíblia como oferta de Deus, dom do Espírito Santo. É poder acima de qualquer realidade, seja social, ideológica ou eclesial.
Num tempo em que não existiam Igrejas separadas, o apóstolo Paulo escreveu à comunidade em Roma: Eu não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para salvar todos os que crêem Romanos 1. 16.
A importância da Igreja é indiscutível; os seus serviços e a sua atuação vigilante, dentro e fora dos seus limites, sinalizam toda a sua relevância. Uma coisa não nos compete: definir, em nome de Deus, quem é cidadão ou cidadã do futuro Reino de Deus. Sendo filhos e filhas de Deus, vivemos a maravilhosa liberdade de confiarmos, com alegria, em Jesus Cristo!
Manfredo Siegle
Pastor Sinodal do Sínodo Norte-Catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Diocese Informa - 07/2008