Igreja e política

Artigo

11/08/2006

A praia da teologia é viver conectada com o mundo. Muitos são os mundos que se configuram no dia-a-dia da existência humana e motivam atitudes de sensibilidade. Lembramos o mundo da cultura, da economia, o mundo da ciência e da política.

Face à proximidade das eleições em nosso País e em razão do descrédito que se abate a partir da análise crítica do mundo partidário brasileiro, é ser responsável não se esquivar do debate político.

Pessoas cristãs receberam, do próprio Cristo, a tarefa de ser rompedoras de barreiras. À semelhança do fermento, elemento ativo que leveda e transforma a massa, discípulos de Jesus Cristo são ativos e fecundam a sociedade humana. Por essa razão, prestamos apoio a quem se coloca a serviço da transformação da sociedade e da proteção da pessoa humana.

Sendo instrumento do Evangelho, a Igreja cristã não assume o papel paternalista em questões político-partidárias. Embora se considere uma instituição vigilante, também em questões ideológicas, não compete à Igreja criar suas próprias agremiações partidárias. Dessa forma estaria correndo o risco de formar uma frente ideológica sectária, nada democrática - a vontade de Cristo é de integrar os diferentes.

Confiamos no Deus que abandonou o trono celestial para criar o universo em toda sua vastidão. Cremos no Deus que, por amor ao mundo, rompeu as barreiras transcendentais a ponto de enviar seu próprio Filho.

O exemplo de Deus chama ao compromisso político. Nossas práticas políticas recebem força e motivação por causa da confiança nas iniciativas de Deus. Este que se faz presente neste mundo fantástico e ao mesmo tempo suscetível às perturbações promovidas pelo ser humano egoísta voltado prioritariamente a seus direitos e a sua autonomia. Pessoas determinadas pela boa notícia de Jesus Cristo não defendem interesses próprios.

Ao servir de sal da terra ou luz do mundo, a comunidade cristã vive um privilégio e assume nova responsabilidade. A fé oferece instrumentos críticos em relação às ideologias político-partidárias e coloca critérios que ajudam a vivência das próprias convicções. Cooperamos na construção de uma sociedade democrática, em que cristãos e também os não-cristãos possam se encontrar. Na qualidade de vigias da classe política, é dever e direito escolher aquelas pessoas que se empenham pelos cuidados de vida de todas as pessoas. O Criador colocou neste mundo, por ele amado, pessoas e não objetos. Mas a realidade social brasileira evidencia que há vítimas de um mundo desigual, objetos de uma sociedade autoritária e segregadora. É, então, quando os princípios da fé cristã se transformam em referenciais para uma nova sociedade que eles assumem relevância. A visão do novo mundo está pautada na liberdade e democracia. Somar corpo e alma como unidade que clama por dignidade e proteção, eis o referencial teológico e a responsabilidade de quem faz política .

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

Jornal A Notícia - 11/08/2006


Autor(a): Manfredo Siegle
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Área: Missão / Nível: Missão - Sociedade
Natureza do Texto: Artigo
ID: 8068
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