História e Teologia da Reforma

01/08/2013

Desde a publicação da tradução da obra de Henri Strohl, O Pensamento da Reforma*, passaram 47 anos. É verdade que, entrementes, surgiram textos de autores nacionais e traduções de obras básicas para a compreensão da história e da teologia da reforma religiosa do século XVI. Além disso, fontes puderam ser traduzidas. Textos de Lutero, de Calvino, de líderes anabatistas estão acessíveis. Faltava-nos, no entanto, uma publicação que trouxesse novamente, a exemplo de Strohl, uma síntese da história e da teologia da Reforma, mesmo que sob o modesto entendimento de ser “uma introdução”.

O texto de Wilhelm Wachholz, jovem professor de História da Igreja e do Dogma na Faculdades EST, em São Leopoldo (RS), é publicado em boa hora, e espero que encontre excelente acolhida entre teólogos, historiadores, cientistas sociais, filósofos, mas também entre aquelas pessoas que têm liderança nas igrejas. Carecemos desta obra, pois ela nos apresenta modelos de como duas gerações de teólogos enfrentaram as profundas transformações de seu século, o século XVI.

Cada geração tem que prestar contas de sua fé. Ainda no alvorecer do século XXI, encontramo-nos em meio a profundas discussões relativamente a valores e parâmetros. Uma profunda crise de valores envolve-nos, e faltam-nos parâmetros que possam orientar na reconstrução da sociedade humana, mas também dar testemunho claro da missão da igreja em sociedade marcada pelo novo liberalismo.

No século XVI, a religião estava deixando de ser base e sustentação da sociedade, mas os Estados nacionais emergentes ainda se valeram por muito tempo dela para controlar populações. De fato, porém, nos últimos quinhentos anos, o Estado e o mercado têm sido a base da sociedade humana. Buscando encarnar-se nessa nova situação, mas também em oposição a ela, as igrejas confessionais nacionais tornaram-se, progressivamente, igrejas de comunidade. Também no Brasil, as expressões de cristianismo que aqui se constituíram como igrejas foram comunitárias.

Na atualidade, a comunitariedade tende a desaparecer rapidamente. É certo que expressões comunitárias continuarão a existir por um bom tempo, mas há também sinais evidentes da materialização da ideologia do mercado em expressões eclesiológicas. Como o mercado se vale da estrutura do shopping center e como se avolumam as vendas pela internet, vamos ser confrontados, cada vez mais, com a oferta de “cristianismo” como shopping e via mídia eletrônica. Alguns sinais já são evidentes. O conceito do “pecado” está desaparecendo. Numa sociedade em que quase não nos relacionamos mais e em que inclusive a relação sexual passa a ser uma “transa”-ção comercial, quase não faz mais sentido falar em pecado, pois esse sempre tem como pressuposto um “próximo”.

Na lógica do mercado, o único “pecado” que pode existir é o impedimento a qualquer tipo de transação. Como a lógica é que não nos relacionemos, no máximo somos vítimas de alguma “entidade”, da qual só nos “libertamos” através de algum negócio financeiro com o sagrado. Deus vende, então, proteção e prosperidade. Como o sofrimento sempre é considerado ação de alguma “entidade” em relação ao indivíduo só, não faz mais sentido o sofrimento, muito menos o sofrimento de Jesus de Nazaré, designado de o Cristo. Sentido também não faz mais o ato de amor e de solidariedade em relação a quem sofre, pois o sofredor tem todos os “meios” para libertar-se do sofrimento. Basta procurar a franquia de alguma empresa religiosa, através da qual possa fazer o negócio sagrado que o liberte de sua miséria. E pensar que tudo começou quando Deus tirou do Egito um grupo de escravos e fez deles uma comunidade e quando interveio na história da humanidade em um fedorento estábulo de Belém e na cruz da criança ali nascida.

A obra de Wilhelm Wachholz não nos traz respostas mirabolantes para essas e outras questões, mas nos força a refletir sobre o centro da fé cristã, quando nos mostra as assertivas de pessoas do século XVI, que muito influenciaram a humanidade em sua relação com Deus.
Pastor Dr. Martin N. Dreher, na apresentação do livro História e Teologia da Reforma do Pastor Dr. Wilhelm Wachholz, Editora Sinodal
 

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