História de vida de Marie Ann Wangen Krahn

20/03/2015

Nome: Marie Ann Wangen Krahn

Tempo de participação na IECLB: desde setembro de 1956

Comunidade: São Leopoldo

Paróquia: São Leopoldo

Sínodo: Rio dos Sinos


Meu nome é Marie Ann Wangen Krahn. Eu nasci em Dubuque, Iowa, nos Estados Unidos em 9 de março de 1956, portanto tenho 58 anos. Sou filha de Dorothy Marie Wangen e Richard Harvey Wangen. Meu pai estava terminando os seus estudos de teologia na Faculdade de Teologia de Wartburg – Wartburg Seminary. Ele queria ser missionário, e, ao terminar a faculdade ele foi chamado pela Federação Luterana Mundial para ser pastor de estudantes universitários no Brasil. Assim, em setembro de 1956, meu pai, minha mãe e eu (de 7 meses) viemos de navio para o Brasil. Começamos nossa jornada em Campinas/SP com curso de português para que meu pai e minha mãe aprendessem o português. De Campinas fomos para Curitiba/ PR, de lá para São Paulo por dois anos, de São Paulo de volta para Curitiba e em 1971 meu pai foi chamado para ser professor de teologia prática na área de aconselhamento pastoral na Faculdade de Teologia da IECLB, Escola Superior de Teologia, agora a Faculdades EST.

Meu irmão Stewart, minha irmã Charlotte e eu fomos criados num ambiente de muita acolhida para muitas pessoas – estudantes, missionários, pessoas com deficiências e necessidades especiais, pessoas homossexuais, pessoas de diferentes etnias e cor de pele, pessoas da comunidade em geral. Em outras palavras fomos criadas num ambiente de muita diversidade, pelo qual sou muita agradecida até hoje, pois, fez com que eu aceitasse e respeitasse a diversidade com naturalidade.

Além disso, meu pai, em especial, e com minha mãe sempre o apoiando, era um ativista, mobilizador, e sempre lutou pela transformação local e mundial em um lugar de mais dignidade humana, justiça e paz. Ele havia lutado no exército americano na segunda guerra mundial e, ao pisar pé em Hiroshima, três semanas depois do lançamento da bomba atômica nessa cidadezinha inocente, ele jurou que nunca mais iria pegar armas ou lutar em forças armadas, e que, dali em diante trabalharia para a paz. E é isto que ele fez.

Essa paixão foi contagiante e desde jovem eu já participava em manifestações públicas por várias causas, marchas, abaixo assinados e escrevendo cartas para representantes e governantes. Isso faz parte do meu ser. Atuamos através do SERPAJ (Serviço de Paz e Justiça), que meu pai ajudara a fundar nos anos 70 no meio da ditadura.

Comecei a estudar teologia na Faculdade de Teologia em 1974, mas decidi, por fim, estudar linguística na Universidade de Minnesota, em Minnesota nos Estados Unidos. Enquanto estudava, também trabalhei num projeto de envio de livros doados para a biblioteca da EST. O meu lugar de trabalho era o porão da biblioteca da Luther Seminary em St. Paul. Lá também trabalhava Allan Krahn, que era o bibliotecário de informática de Luther. Ele já havia cursado uma disciplina sobre Dietrich Bonhoeffer com meu pai, e ao ficar sabendo que eu era filha do pastor Richard, quis saber mais sobre ele. Assim nos conhecemos e, depois de 6 meses, decidimos casar. Allan também queria trabalhar fora dos Estados Unidos e através de contatos com meu pai e outro missionário, Donald Nelson,criou interesse em trabalhar no Brasil. Por fim fomos chamados pela American Lutheran Church, (que depois se juntou com a Lutheran Church in America para formar a Evangelical Lutheran Church in America - ELCA) para o Brasil para um ministério especial que era ser bibliotecário da Faculdade de Teologia da IECLB. E cá estamos desde 1985. Viemos com nossa filha Natasha de 9 meses e em 1986 nasceu nosso filho Daniel.

Eu havia estudado hebraico na faculdade e feito uma temporada de três meses de trabalho voluntário com o intercâmcio estudantil num kibbutz em Israel em 1978. Com essa experiência e estudo fui convidada pelo saudoso professor Dr. Milton Schwantes a auxiliá-lo nas aulas de hebraico, com cantos e uma metodologia diferenciada. Quando ele saiu, ajudei os professores subsequentes nas suas aulas de hebraico e assim fui aprendendo melhor o hebraico até que em 1994 a EST decidiu me contratar para ser a professora de hebraico, posição na qual atuo até hoje. Em 2004 terminei meu mestrado em teologia na EST sobre o ensino de hebraico e sua importância para o ministério.

A paixão do meu pai pela liturgia e a vontade de fazer com que os cultos fossem mais dinâmicos também me contagiou. Eu participo ativamente nos cultos da IECLB, tenho atuado esporadicamente como liturga leiga e incentivo sempre aos e às estudantes que se envolvam na pesquisa e na prática de liturgia significativa.

Para melhor cumprir com seu desejo de educação pela paz, meu pai trouxe para o Brasil em 2000 as oficinas do Projeto de Alternativas à Violência. Estas oficinas são de 20 horas e buscam formar comunidade de confiança, resgatar a autoestima, aprender a comunicação não violenta e a resolução não violenta de conflitos. Para facilitar a entrada desse projeto nas escolas públicas e nas prisões foi criado em 6 de agosto de 2004 o SERPAZ (Serviço de Paz) entidade jurídica não governamental, que, além de legitimar o projeto, possibilita que entidades públicas recebam notas fiscais. Fora do trabalho com o Projeto de Alternativas à Violência, temos membros envolvidos em Educação em Direitos Humanos, sendo que SERPAZ faz parte do Movimento Nacional de Direitos Humanos, do Conselho Estadual de Educação em Direitos Humanos e do Conselho Regional de Educação em Direitos Humanos além de outras comissões. Também é integrante jurídica da AMENCAR (Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente) que hoje enfoca o seu trabalho na proteção dos direitos das pessoas defensoras dos direitos humanos. Toda nossa família é membro do SERPAZ e atualmente eu sou a coordenadora geral da entidade.

SERPAZ tem atuado fortemente para o desarmamento em São Leopoldo, mas, atualmente, através de representação pela IECLB no Conselho Mundial de Igrejas (CMI) eu, também como SERPAZ, atuei na Campanha por um Tratado de Comércio de Armas Forte e Eficaz. Esse tratado, no dia 24 de dezembro de 2014, entrou em vigor e tem por objetivo regulamentar o comércio internacional de armas inibindo, diminuindo as transferências de armas para países ou grupos que violam gravemente os direitos humanos do povo do seu país, entre outros objetivos. Através de cartas a IECLB, a EST, a FLD (Fundação Luterana de Diaconia), SERPAZ e o CONIC fizeram parte da massa de pressão para que o Brasil assinasse e ratificasse o tratado. O Brasil foi um dos primeiros países a assinar o tratado em junho de 2013, mas ainda não ratificou. A pressão deve continuar.

Também fui representante da IECLB na convocação do CMI para formação de lideranças na construção da paz e na advocacia para a paz. O CMI começa este ano a Peregrinação de Justa Paz para dar continuidade à Década da Paz, que vai ter três focos: Trabalhar contra a violência baseada em gênero, prevenir a violência armada e manter a Justa Paz e segurança nas 17 Metas de Desenvolvimento Sustentável da ONU que dão continuidade às Metas do Milênio de Desenvolvimento. Nessas representações sempre levo o nome do SERPAZ comigo. Em tempo estarei enviando material para conscientizar e envolver nossas igrejas nessa peregrinação.

Além de ativismo, gosto muito de cantar em corais e canto no coral da Igreja de Cristo em São Leopoldo e no grupo Roda de Canto. Eu vejo que a música é essencial para uma espiritualidade plena tanto individual como comunitária.

Na Faculdades EST atualmente coordeno os Grupos de Convivência que são grupos pequenos de estudantes do primeiro e segundo ano onde esses e essas estudantes têm um espaço seguro para compartilhar seus sentimentos com relação ao que mexe com eles e elas e para serem eles e elas mesmos/as. É um trabalho muito gratificante pois, além de aproximar nós docentes de uma maneira diferenciada aos e às estudantes, temos também, principalmente, sempre a esperança que as temáticas tratadas nos grupos possam dar subsídios para esses e essas estudantes entrarem no ministério com mais firmeza e auto segurança e serem praticantes convictos e convictas dos valores cristãos de solidariedade, honestidade, transparência, perdão, reconciliação, escuta, aceitação do/da diferente, fé e amor.

Sem a fé que meu pai e minha mãe incutiram em nós, nada disso teria sido possível. Meu pai e minha mãe acreditavam avidamente que a fé se mostra mais nas ações do que nas palavras, mesmo que palavras também são importantes para o testemunho. Portanto, agradeço a Deus pelo testemunho e pela vida do meu pai e da minha mãe e oro para que eu possa levar adiante com humildade, firmeza e convicção esta causa tão importante que é a justa paz e não violência com amor que é a missão mais importante de nosso Senhor Jesus Cristo.


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